Por Cilotér Borges Iribarrem1
A pecuária do Rio Grande do Sul, mais especificamente a bovinocultura de corte, vem sendo economicamente esmagada, nos últimos seis anos, desde a primeira desvalorização do real que se deu em janeiro de 1999.
Seis anos, portanto o sacrifício de um ciclo de produção inteiro!
Ciclo inteiro, porque a terneira que nasceu em 1999, cresceu, tornou-se mãe, seu filho foi desmamado, cresceu, tornou-se boi, engordou e está sendo abatido por um valor que não consegue pagar seu Custo de Produção de R$ 1,90Kg.
Neste período o preço do boi gordo praticado no Rio Grande do Sul é o mais baixo quando comparado aos demais estados brasileiros, importantes produtores de carne bovina.
Durante este mesmo período, ocorreu a febre aftosa no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, sendo que nestes dois últimos países com uma quantidade muito maior de focos.
Pois o Uruguai vende o Kg do boi gordo a US$ 0,85, a Argentina US$ 0,75 e o Rio Grande do Sul a US$ 0,68, sem levar em consideração a valorização do real frente ao peso Uruguaio e Argentino.
Assim tem sido a evolução do preço do bovino gordo sempre abaixo dos países vizinhos e de vários estados brasileiros.
Quando analisamos as categorias de terneiros, vaquilhonas, novilhos e vacas de invernar, o preço que recebe o produtor ainda é mais desesperador.
Temos questionado, porque o Rio Grande do Sul tem uma pecuária tão pobre, se a sua condição sanitária, não é inferior aos demais estados brasileiros com exceção de Santa Catarina e nem em relação ao Uruguai e Argentina.
O Rio Grande do Sul, segundo as estatísticas, tem um rebanho bovino de 13.000.000 de cabeças, uma produção de terneiros anual de aproximadamente 2.800.000 cabeças e uma produção de carne de aproximadamente 600.000 toneladas de equivalente carcaça.
Para operar esta estrutura, visando a exportação de carne bovina, o Rio Grande do Sul só tem praticamente três empresas frigoríficas, sendo que uma delas com abate em quatro plantas, é a principal indústria exportadora do estado.
O discurso que temos ouvido e lido na imprensa gaúcha é que falta bovinos para abate.
O Uruguai tem um rebanho semelhante ao do Rio Grande do Sul, e tem aproximadamente vinte plantas frigoríficas, a Província de Santa Fé na Argentina, que tem a metade do rebanho bovino gaúcho, tem trinta e quatro plantas frigoríficas sendo que treze são exportadoras.
Pois no Rio Grande do Sul há momentos em que o pecuarista tem que esperar sessenta dias na fila para poder abater seus animais, quase pedindo esmola e favor para que comprem seu produto.
Recentemente começou a ser exportado um pequeno número de terneiros vivos, que se confirmada a quantidade projetada para 2005, chegará apenas a 1,5% do número de nascimentos anual no Rio Grande do Sul.
No dia 12 de maio próximo passado, o Sindicato da Indústria de Carne Gaúcha (SICADERGS) é recebido em audiência pelo Governador e Secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, para pedir a suspensão da exportação de animais vivos, alegando que vai faltar bovinos para abate no futuro.
É lastimável que este mesmo sindicato de carnes e o governo do estado não tenham se reunido para criar mecanismos que dessem sustentação econômica a pecuária de corte gaúcha ao longo dos últimos seis anos de crise que vive a atividade. Todavia, imediatamente, ao surgimento de pequenos nichos de oportunidades que possam socorrer ao sacrificado produtor, se apresentam frontalmente contra.
O mesmo sindicato pede que seja oportunizado crédito ao produtor para reter o seu rebanho e posteriormente vender, digo, quase doar para a indústria frigorífica.
A necessidade do produtor de carne bovina não é de crédito e nem de favores, mas sim de que o governo instrumentalize ações para a abertura de mercado, seja de carne ou de animais vivos.
O produtor que tomar crédito para a pecuária, não conseguirá pagar, conseqüência do maior período na história do Rio Grande do Sul de preços tão deprimidos para todas categorias bovinas, o que torna o pecuarista sem renda para atender seus compromissos.
Pobre pecuária gaúcha que ocupa 51,83% de toda a área territorial explorada com agropecuária no Rio Grande do Sul, quando lideranças que deveriam defender os produtores não o fazem e a tão falada integração da cadeia, também possui setores contra.
Produtores de carne bovina gaúcha; este artigo procura mostrar através de dados do nosso estado, comparado com outros estados e países, que a pobreza da nossa atividade não é gerada da porteira para dentro das propriedades, e sim fora delas.
O desemprego que a indústria da carne divulga que poderá ocorrer, conseqüência de exportação de animais em pé, já está ocorrendo em nível de propriedade, pela falta total de renda do produtor, já que todos os ganhos da atividade estão sendo distribuídos fora do local de produção.
Pobre pecuária gaúcha, que deu início ao desenvolvimento da indústria no nosso estado, que ao longo dos últimos seis anos vem sendo destruída, mas tem agüentado, embora com uma perda brutal de renda, além de ser refém de quem deveria estar integrado e dos que por obrigação pública necessitariam estimular o seu desenvolvimento.
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1Cilotér Borges Iribarrem, Consultor Safras & Cifras
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Este artigo está muito interessante, pois acho que o Rio Grande do Sul deveria ser o Texas Brasileiro, tanto em quantidade de animais para abate como em qualidade de carne.
Vejamos que, por exemplo, que as raças de ótima qualidade de carne, que são as raças inglesas, tais como Angus, Hereford, Devon e outras se desenvolvem bem naquela região.
Acredito que não tenham muito interesse, no RS, de se produzir carne de qualidade. E em São Paulo temos que ouvir que a melhor carne do mundo é produzida na Argentina.
Acredito que, com um pouco de boa vontade, o RS poderia se transformar no grande estado produtor brasileiro.
Tenho certeza que falta vontade política.
Parabéns ao Dr. Cilotér pela atitude pró-ativa desta análise.
O reflexo da nossa desorganização como produtores, a falta de sensibilidade e vontade política dos nossos governantes e, eu até diria, conivência ou conveniência de alguns dirigentes da nossa cadeia produtiva da carne é que estão “puxando “cada vez mais a pecuária gaúcha para o buraco.
Algo precisa ser feito, e logo. Temos uma bancada ruralista atuante com os deputados Luis Carlos Heinze, Francisco Turra, Augusto Nardes, Jerônimo Goergen entre outros de destaque.
Independente da cor partidária, precisam cada vez mais do nosso apoio para fazer o que é preciso, procurar mecanismos e colocá-los em prática o quanto antes para salvar a pecuária gaúcha.
Cabe não só ao setor pecuário, mas a sociedade em si, e quem dela depende direta ou indiretamente sensibilizar e pressionar as autoridades para as mudanças.
A exportação para o Líbano foi salutar, surgiu como uma alternativa viável, uma luz no fim do túnel, e incomodou aqueles que estavam dentro da sua zona de conforto.