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Por que complicar?

Por Luiz Meneghel Neto1

Recentemente, uma Missão Técnica da União Européia esteve no Brasil e não aprovou o sistema de rastreabilidade bovina adotado no país. Criado, entre outras atribuições, para atender às exigências do Bloco Europeu, o Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem de Bovinos e Bubalinos) cometeu, a meu ver, um dos maiores equívocos com o setor agropecuário: não se importou, durante a sua implantação, com a opinião dos criadores.

Temos o maior rebanho comercial do mundo, com 170 milhões de cabeças, e sabemos que para continuarmos competindo com outros países produtores de carne, o programa de rastreabilidade é imprescindível. Mas, com um custo para o criador que varia entre R$ 4 ou R$ 5 por cabeça é inaceitável. Dados apurados em fevereiro, pelo grupo DBO Rural, mostram que apenas 4 milhões dos bovinos estão registrados nos bancos de dados das empresas certificadoras credenciadas pelo Sisbov, e que uma pequena parcela desse total é constituída por animais jovens.

Poucos especialistas do setor perceberam o alto grau de insatisfação dos produtores rurais – maiores interessados e grandes responsáveis pelo êxito do processo – com os procedimentos verificados em mais de um ano de vigência do Sisbov. O que se viu, neste período, foi um jogo de empurra-empurra. As empresas certificadoras, ávidas pela implantação rápida do programa, atribuíam que os custos com a rastreabilidade deveriam ser repartidos entre os criadores e os frigoríficos. Os proprietários dos frigoríficos, por sua vez, se diziam contrários, e afirmavam que todos os encargos deviam ser cumpridos pelo pecuarista. E o Governo Federal? Fez como no ditado popular, lavou as mãos, e quis que o setor resolvesse entre si todos os custos com o programa. Mais uma vez para quem sobrou a conta? É claro, para nós, criadores.

Em poucas regiões do Brasil, como no Paraná, algumas ações foram implementadas para minimizar este sacrifício. Estima-se que o credenciamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB), em dezembro de 2002, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), poderá proporcionar, em breve, uma redução de até 60% no custo do programa da rastreabilidade. Será que outras instituições estaduais, como o Iagro no Mato Grosso do Sul e as Secretarias de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Minas Gerais, entre outras, que possuem dados importantes sobre o setor, não poderiam dar a sua contribuição para o programa? Será que a redução dos custos não facilitaria a modernização da pecuária nacional? Entretanto, penso ainda que outros procedimentos poderiam ser adotados.

No ano passado, pedidos de credenciamento feitos por algumas associações de criadores foram negados pelo MAPA. Técnicos que, naquela época, faziam parte do Governo Federal, afirmavam que as instituições eram parciais e poderiam dificultar a implementação do Sisbov. Se os criadores são os principais interessados pelo bom desempenho da atividade pecuária no país, de que forma instituições como a Associação Brasileira dos Criadores de Limousin (ABCL), a ABCZ e outras associações poderiam atrapalhar o processo? Por que não aproveitar todas as informações geradas, há décadas, por estas instituições e reduzir o custo para o produtor rural? Alguém, por acaso, acredita que uma Associação de Criadores funciona sem o respaldo e a fiscalização do MAPA? Já imaginou a imensa contribuição que poderia ser dada por todas as instituições para o programa de rastreabilidade?

Por que complicar? Não seria mais fácil contar com a participação de todos os elos da cadeia produtiva e começar o processo de baixo para cima, ou seja, de quem está mais próximo do criador, que pode conscientizá-lo e quer ver o setor crescer cada vez mais.

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1Luiz Meneghel Neto é presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Limousin

0 Comments

  1. Ana Cláudia Duarte Ferreira Alves disse:

    Caro Luiz Meneghel,

    Meu nome é Ana Cláudia e trabalho hoje junto ao Instuto Genesis, supervisão Mato Grosso do Sul. Primeiramente, gostaria de dizer que seus comentários foram extremamente cabíveis, contudo, a realidade no cenário da certificação animal no país hoje, não é de fato como gostaríamos que fosse e sequer, unânime.

    Existe uma falta de interação entre toda cadeia e gostaria de fazer algumas ressalvas. Você cita em seu comentário que as certificadoras acreditam que o custo da certificação deveria ser rateada entre frigorífico e produtor e que o custo de R$ 4,00 a R$ 5,00 é hoje inviável ao produtor.

    Sem querer fazer propaganda do Instituto Genesis, digo a você que de fato, nós do IG concordamos em partes com sua afirmação, desde que antes, haja uma CUIDADOSA anáise da relação custo x benefício. Nós, quando falamos num custo final de R$ 4,00 a R$ 5,00 somos taxados como sendo a certificadora “mais cara” que hoje atua. Veja bem: em nosso molde, o serviço da certificação vai além de um simples “colocar brincos” e posterior “auditoria por amostragem” do serviço. Levamos a campo, um técnico – veterinário, agrônomo ou zootécnico – que EXECUTA todo trabalho, ou seja, passa animal por animal no tronco, analizando suas características, executando a brincagem em uma orelha e a tatuação em outra (contra-prova em caso de extravio de brinco), e que, deixa um livro de registros na propriedade e tem por OBRIGAÇÃO retornar num prazo de seis meses para coletar os registros. Ainda, o produtor NÃO FAZ a imputação dos dados no sistema e nem o próprio técnico. Quem o faz é um Departamento específico para tal serviço. Tudo isso com um custo final único, onde o produtor NÃO paga um centavo a mais dos até R$ 5,00 – nem diária de técnico, nem quilometragem, nem taxa disso ou daquilo. Enfim, porque coloco a você estas explicações? Exatamente porque nós, INSTITUTO GENESIS, acreditamos que o processo da rastreabilidade e conseqüente certificação, só se fará de fato, se houver uma conscientização por parte de todos os envolvidos – produtor, técnico, certificadora, indústria frigorífica e governo -, cada um desses integrantes fazendo o papel que lhe cabe:

    O produtor de produzir e abrir as porteiras para que o técnico execute o trabalho e recolha as informações pertinentes, a certificadora “avalize” o que foi feito, o frigorífico comercialize então um produto com CERTIFICAÇÃO de procedência e o governo, como máxima, fiscalize a todos e faça cumprir as exigências por eles determinadas.

    Um abraço,

  2. Nathaniel Cintra disse:

    Luiz Meneghel Neto,

    Parabéns.

    Infelizmente a força lobista de grupos no poder envolve aqui corrupção. Os bons projetos viram pizza ou se deterioram antes de comprovar-se a viabilidade.

    Aqui nos USA ainda está em desenvolvimento o projeto de rastreabilidade. Todos os setores estão envolvidos inclusive a receita federal americana. Mas ainda não se tem ainda plano totalmente pronto.

    Existe mal entendimento sobre rastreabilidade no setor pecuário Brasileiro. Primeiro se faz necessário explicar ao pecuarista o que á a rastreabilidade, como funciona, e para que serve, qual e o beneficio claramente em números, quem vai ganhar com isto e como este benefício chegará aos bolsos do pecuarista que fornece carne rastreada.

    Na minha opnião estamos pulando uma etapa no desenvolvimento. Primeiro temos que acabar com a aftosa, depois a brucelose, tuberculose, criar protocolos de entrada de material genético e animais estrangeiros, controlar as fronteiras, criar protocolo para entrada de carne e alimentos importados, tudo esta antes da rastreabilidade.

    A poucos dias conversando com um colega aí no Brazil sobre rastreabilidade ouvi estupefato ele dizer que tinha preocupação em aplicar vacinas e outros medicamentos pois apareceria no chips de controle (ja tem parte do rebanho com microchips).

    Chequei a conclusão que este projeto já nasceu morto como está sendo tocado. Não vai funcionar como está. Como você pode convencer a um pecuarista do interior de MS que ele tem que aplicar brincos ou microchips em cada animal e que isto custa R$ 5,00? Como se vai controlar o que aconteceu com aquele animal se o campeiro e analfabeto e está com o pecuarista a 20 anos?

    Este projeto precisa primeiro educar o pecuarista, falo escola para educar o campeiro, o capataz. Este projeto está para Países onde o nível de cultura seja muito acima do nosso homen do campo de hoje.

    Quantos fazendeiros tem sua operação eletronicamente controlada? Ainda nem temos bons softwares para pecuaria de corte de recria, engorda e manejo de rebanho?

    A única chance deste projeto decolar com alguma percentagem do rebanho rastreado é com a participação das Associações de criadores.

    As associações contam com equipe de campo e o pecuarista associado já está familiarizado com a buracracia de registro e envio de informações. Estes pecuaristas poderão ser os formadores de opnião e com alguns anos levar este plano ao sucesso.

    Não acredito em outro caminho.