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Possíveis alterações causadas pela utilização de caroço de algodão na dieta de bovinos de corte confinados

A utilização de caroço de algodão e de produtos resultantes de sua industrialização como ingredientes para formulação de rações e de suplementos para bovinos de corte, tem sido ampla em todo o mundo, devido às características nutritivas e preços favoráveis. O caroço de algodão apresenta grande quantidade de óleo, e, portanto, alta densidade energética. Além disso, possui fibra de alta efetividade, estimulando os processos de ruminação.

Algumas alterações nas características da carcaça, como a composição do tecido adiposo, foram observadas com a utilização de caroço de algodão para bovinos de corte em confinamento. Outros ingredientes da dieta também podem alterar o perfil de ácidos graxos da gordura dos bovinos, promovendo um aumento na quantidade de ácidos graxos saturados. A composição do tecido adiposo de bovinos pode apresentar variação também devido a raça, sexo, peso de abate, idade e condições ambientais.

A presença de maior quantidade de ácidos graxos saturados na gordura de bovinos, vai levar ao “endurecimento” da gordura da carcaça, provocando problemas na industrialização e aumento na ingestão de gorduras saturadas pelos consumidores. Autoridades da saúde recomendam uma menor ingestão de gorduras saturadas, devido a possíveis problemas de saúde relacionados ao excesso de ingestão de alimentos com essa característica.

Segundo Yang et al. (1999), a maior saturação da gordura de bovinos se deve, principalmente, a menor formação endógena de ácidos graxos insaturados. Nos bovinos, a insaturação de ácidos graxos ocorre pela ação das dessaturases, enzimas presentes no fígado, intestino e tecido adiposo, sendo mais ativas no tecido adiposo, no caso dos ruminantes.

Yang et al. (1999) trabalhando com animais 1/2 sangue Angus alimentados exclusivamente a pasto ou em confinamento com dieta contendo 5% de caroço de algodão, observaram alterações no perfil de ácidos graxos, com maior saturação na gordura dos animais confinados em relação aos animais em pastejo. As avaliações foram feitas no tecido adiposo subcutâneo dos animais, na porção correspondente ao músculo Longissimus dorsi. Animais a pasto, apresentaram maior quantidade total de ácidos graxos insaturados, menor quantidade total de saturados, resultando em uma maior relação insaturados/saturados (tabela 1). Para animais confinados alimentados com caroço de algodão, não foram observadas diferenças entre os diferentes períodos de confinamento.

A maior quantidade de ácidos graxos insaturados nos animais a pasto se deve à maior atividade (60-85%) da enzima delta 9 dessaturase, proporcionando uma maior quantidade dos ácidos graxos C16:1, C18:1c9 e C18:3. Não foram observadas diferenças na atividade da delta 9 dessaturase para os diferentes períodos de confinamento. O fornecimento de caroço de algodão promoveu um aumento na quantidade de C18:2, e uma diminuição nos monoinsaturados, principalmente C18:1c9. Essas alterações foram provavelmente devido à diminuição na atividade da enzima delta 9 dessaturase.

Tabela 1. Composição de ácidos graxos e atividade da delta 9 dessaturase no tecido subcutâneo de bovinos em pastejo e confinados.

Em um segundo experimento, Yang et al. (1999) forneceram 8,7% da matéria da ração na forma de óleo de caroço de algodão protegido (para evitar a saturação através da biohidrogenação no rúmen) por 70 dias antes do abate, para animais em confinamento, no intuito de estudar o efeito direto do óleo de algodão sobre a inibição da enzima delta 9 dessaturase, e as conseqüentes alterações no perfil de ácidos graxos do tecido adiposo subcutâneo. Os animais que receberam óleo de caroço de algodão protegido apresentaram maiores quantidades de ácidos graxos saturados no tecido adiposo. Da mesma forma, a relação saturados/insaturados foi maior para os animais recebendo óleo de caroço de algodão protegido, em comparação com os animais controle. A atividade da delta 9 dessaturase foi aproximadamente 50% menor para animais recebendo óleo de caroço de algodão protegido (tabela 2).

A atividade da enzima delta 9 dessaturase apresentou-se diretamente relacionada à concentração dos ácidos graxos insaturados (r2=0.35 com 14:1; 0.55 com 16:1; 0.31 com 18:1c9; e 0.48 com o total de monoinsaturados). Com respeito aos ácidos graxos saturados, a atividade da delta 9 dessaturase apresentou-se negativamente relacionada (r2= -0.49 com 16:0; -0.34 com 18:0; -0.49 com total de ácidos graxos saturados)

Tabela 2. Efeito do óleo de caroço de algodão protegido sobre composição do tecido adiposo e sobre a atividade da enzima delta 9 dessaturase.

O caroço de algodão e alguns farelos de grãos possuem o ácido graxo ciclopropenóide na sua composição. Acredita-se que esse ácido pode ser o responsável pela inibição da delta 9 dessaturase. Apesar do ácido ciclopropenóide ser insaturado, experimentos com ratos mostraram um aumento de 2,5 vezes na saturação de ácidos graxos em resposta à presença desse ácido na alimentação dos animais experimentais. Provavelmente, a capacidade de inibição do ácido ciclopropenóide é menor em ruminantes, devido à biohidrogenação no rúmen.

Mais estudos deverão ser conduzidos para avaliar o efeito do óleo de caroço de algodão no perfil de ácidos graxos de outros tecidos adiposos de bovinos alimentados com caroço de algodão, principalmente da gordura intramuscular ou de marmoreio.

Referência Bibliográfica:

YANG, A.; LARSEN, T.W.; SMITH, S.B.; TUME, R.K. Delta 9 desaturase activity in bovine subcutaneos adipose tissue of different fatty acid composition. Lipids, v. 34, p. 971-978, 1999.

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