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Prevenção de acidose em dietas com grande quantidade de concentrado – tampões

A ocorrência de acidose clínica ou subclínica em bovinos de corte confinados pode trazer grandes prejuízos ao desempenho animal, devido à queda na ingestão de matéria seca e na absorção de nutrientes pela parede ruminal. Nos casos de acidose sub clínica, ocorrem oscilações no consumo de matéria seca, queda do pH ruminal e da digestibilidade da fibra, e em alguns casos laminite. Segundo Owens et al. (1998), quadros de acidose sub clínica são caracterizados por pH ruminal entre 5,2 e 5,6, porém com valores de pH ruminal abaixo de 6,2 ocorre queda na digestibilidade da fibra.

No caso de rações que causam acidose sub clínica, uma das medidas de prevenção é a utilização de substâncias tamponantes na dieta com objetivo de evitar quedas do pH ruminal e sanguíneo. Os ingredientes mais utilizados são o bicarbonato de sódio, bicarbonato de potássio, óxido de magnésio e carbonato de cálcio. As quantidades de tamponantes recomendadas na literatura variam de 1 – 3,6% da matéria seca. Vale lembrar que, a quantidade a ser utilizada vai depender da quantidade e característica dos carboidratos presentes na dieta, manejo de alimentação e tipo do animal. A inclusão acima de 2,5% poderá causar queda no consumo devido a problemas de palatabilidade. Outro fator a ser levado em consideração na utilização de tamponantes para bovinos de corte seria o custo desses insumos.

Resultados conflitantes são encontrados na literatura em relação aos benefícios do uso de tamponantes nas dietas para bovinos de corte. Segundo Tedeschi et al. (1997), o uso de tamponantes apresentará benefícios nas seguintes situações: início de confinamento, altos teores de concentrado, uso de silagens (principalmente de milho e grãos de alta umidade), concentrado oferecido separadamente do volumoso ou troca de dietas feita abruptamente.

O principal mecanismo pelo qual os tamponantes previnem a queda do pH ruminal parece ser através do fornecimento de cations, como o Na+ por exemplo, diminuindo a quantidade de hidrogênio livre no meio (Bigner et al., 1997). Esses mesmos autores avaliaram a utilização de propionato de sódio, ou seja, o fornecimento de Na+ através de uma fonte que além de promover aumento do pH ruminal, poderia auxiliar no aumento do pH sanguíneo, devido à rápida absorção do Na+, e consequentemente maior capacidade de prevenção de ocorrência de acidose.

Os tratamentos consistiam no fornecimento via oral de três sais de sódio: bicarbonato de sódio (bicNa), propionato de sódio (propNa) e cloreto de sódio (sal comum). O tratamento com sal comum foi utilizado como controle, por fornecer absorção de cargas equivalentes na corrente sanguínea (Na+ e Cl). Foram fornecidos 300g de bicNa, 343 g de propNa e 208.6 g de sal comum, de forma que todos recebessem a mesma quantidade de Na+. Amostras sanguíneas foram coletadas a cada 15 minutos até 6 horas após o tratamento. Os quadros de acidose foram induzidos através do fornecimento de sais aniônicos (NH4Cl e MgSO4) na dieta. Imediatamente antes dos tratamentos, foram feitas medidas de pH sanguíneo (<7,35), urinário (<5,5), concentração sanguínea de HCO3 (<20 meq/L) e Cl (>107meq/L) para confirmação de que os animais apresentavam quadro de acidose subclínica.

Para os tratamentos bicNa e propNa, houve rápido aumento do pH sanguíneo (30 min) comparado ao tratamento com sal comum. O pH sanguíneo manteve-se elevado até o final do período experimental (figura 1A e tabela 2). As respostas em relação à concentração de HCO3 sanguíneo apresentou padrão semelhante aos valores de pH (figura 1B e tabela 2). As concentrações de Cl no plasma foram maiores para o tratamento com sal comum em relação aos demais (figura 1C e tabela 2). A concentração sanguínea de glicose apresentou tendência de aumento para o tratamento com propNa, mostrando a possibilidade da utilização do propionato como composto gliconeogênico no fígado e possibilitando uma melhor recuperação do animal (figura 2). Tanto o bicNa quanto propNa foram eficientes no controle do quadro de acidose, sendo que o propNa apresenta a vantagem de oferecer um composto neoglicogênico juntamente com o cátion de Na+.

A utilização de tamponantes em dietas de bovinos de corte com altos toeres de concentrado, pode ser uma boa alternativa para o controle de acidose aguda e subaguda, porém as fontes e as dosagens a serem utilizadas vão depender de cada situação, visto que vários fatores influem nos resultados dessa prática. Como citado anteriormente, as melhores respostas em relação ao uso dos tamponantes seriam em períodos de adaptação dos animais a dietas com altos teores de carboidratos solúveis.

Figura 1. Valores de pH (A), e concentrações de HCO3 (B) e Cl (C) para os diferentes tratamentos.

Figura 2. Concentrações de glicose sanguínea nos diferentes tratamentos.

Referências bibliográficas

BIGNER, D.R.; GOFF, J.P.; FAUST, M.A.; TYLER, H.D.; HORST, R.L. Comparison of oral sodium compounds for the correction of acidosis. J. Dairy Sci., v. 80, p. 2162-2166, 1997.

OWENS, F.N.; SECRIST, D.S.; HILL, W.J.; GILL, D.R. Acidosis in cattle: a review. J. Anim. Sci., v. 76, p. 275-286, 1998.

NETTO, D.M.; ORTOLANI, E.L. Evaluation of sodium bicarbonate or lactated ringer’s solution for the treatment of rumen lactic acidosis in steers. Veterinária Notícias, v.6, n.2, p. 31-39, 2000.

TEDESCHI, L.O.; BOIN, C.; LANNA, D.P.D. Aditivos para Bovinos de Corte. Pecuária de Corte, Edição 72. Novembro.1997.

WEST, J.W.; COPPOCK, C.E.; NAVE, D.H.; LABORE, J.M.; GREENE, L.W. Effects of potassium carbonate and sodium bicarbonate function in lactating holstein cows. J. Dairy Sci., v. 70, p. 81-90, 1986.

CUMBY, J.L.; PLAIZIER, J.C.; KYRIAZAKIS, I.; McBRIDE, B.W. Effect of subacute ruminal acidosis on the preference of cows for pellets containing sodium bicarbonate. Can. J. Anim. Sci., v. 81, p.149-152, 2001.

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