Embora os preços e oferta de boi gordo permaneçam razoáveis para os frigoríficos em 2014, os primeiros sinais de uma reversão do ciclo da pecuária, em benefício do produtor de gado, já começam a aparecer.
Segundo o levantamento da área de pecuária da consultoria americana FCStone, a relação de troca entre o boi gordo e o bezerro atingiu em agosto o menor nível para o período desde 2010 em São Paulo, sendo este ano, referência de preços da pecuária no Brasil.
Sabe-se que quanto menor a relação de troca, maior a dificuldade para o pecuarista repor o gado vendido para o frigorífico. Na prática, a menor relação significa que os preços aumentaram e a oferta de bezerros caiu, reduzindo a disponibilidade de gado. Com o bezerro mais caro, a atividade de cria é incentivada e, portanto, o descarte de vacas para o abate é reduzido.
Segundo Lygia Pimentel, analista da FCStone, a média histórica para a relação de troca entre boi gordo e bezerro é de 2,4 vezes, número visto em agosto de 2012. No mês passado, essa relação foi de 2,2 vezes. Nos anos 2010 e 2011, essa relação foi de 2,3 vezes no mesmo mês.
Nos últimos dois anos pelo menos, o mercado tem sido amplamente favorável aos frigoríficos, que registram margens recorde. No ciclo favorável à indústria, há maior oferta de bovinos prontos para o abate. Na direção oposta do ciclo favorável ao pecuarista, o bezerro se desvaloriza e a atividade de criação perde incentivo. Com isso, aumenta o número de vacas enviadas para abate.
Foi exatamente esse processo que teve início no último trimestre de 2010. Desde então, a participação de vacas no abate só fez crescer nas comparações anuais, chegando a 45,3% no segundo trimestre, conforme dados divulgados na última quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação entre os segundos trimestres, a participação das vacas no abate total foi a maior desde 2008.
O abate de vacas contribuiu com os números no segundo trimestre. Conforme o IBGE, os frigoríficos brasileiros abateram 8,5 milhões de bovinos no período, 11,7% de alta sobre o mesmo intervalo de 2012. Trata-se do maior nível de abates da história.
De acordo com o sócio da consultoria Plataforma Agro, Maurício Nogueira, o resultado dos abates não se deve apenas à fase do ciclo da pecuária favorável à indústria. O avanço da agricultura sobre as pastagens potencializou esse aumento dos abates. Além do mais, com menor intensidade de aplicação de tecnologia, a pecuária é menos rentável que a agricultura, o que provoca um descarte maior do rebanho para dar lugar às lavouras. Pelas estimativas da Plataforma Agro, o Brasil deve perder 2,2 milhões de hectares de pastos neste ano. A maior parte dessa área foi ocupada pela agricultura.
Segundo Nogueira, como a pecuária não registrou grandes aumentos de produtividade, o forte nível de abates e descarte de vacas fatalmente reduziu o rebanho brasileiro, no qual há a estimativa de que o rebanho caiu para 205 milhões de cabeças, ante as 213 milhões apuradas pelo IBGE em 2011.
Entretanto, Nogueira vê espaço para mais abates de fêmeas, uma vez que se você aumenta a taxa de fertilidade, ganha um fôlego. Além do mais, hoje entre 25 milhões e 29 milhões de vacas não produzem sequer um bezerro por ano.
Fonte: Jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.