Por Terssio Roger Ramalho1, Flávio Augusto Portela Santos1 e Alexandre Mendonça Pedroso1
De maneira geral, grãos de cereais, em especial o milho, representam a principal fonte de energia em dietas de bovinos de corte terminados em confinamento (Huntington, 1997; Owens et al., 1997). A produção brasileira de grãos tem crescido de forma expressiva nos últimos 10 anos, devido principalmente ao aumento da produtividade, com a aplicação de tecnologia de ponta.
As produções nacionais de milho e soja na safra 2002/2003 foram de 42,8 e 50,3 milhões de toneladas, respectivamente, com um crescimento de 21,2% para o milho e 20,1% para a soja em relação à safra 2001/2002 (CONAB, 2003). O crescimento expressivo da safra nacional de grãos na ultima década e as perspectivas positivas para os próximos anos, devem aumentar o interesse e a viabilidade de inclusão de doses cada vez maiores de grãos nas dietas de bovinos confinados em terminação no Brasil.
De acordo com (Mariotto, 2003), em novembro de 2003, para adquirir uma tonelada de milho era preciso produzir 4,57 arrobas, contra as 7,88 necessárias em novembro de 2002. Segundo o mesmo autor, os preços do milho no mercado interno nacional começaram a ser balizados pelos preços de exportação.
O aumento da safra de grãos tem gerado um aumento na disponibilidade de diversas fontes energéticas alternativas ao milho. A safra nacional de sorgo em 2002/2003 (1,57 milhões de toneladas) foi 96,7% maior que a de 2001/2002 (CONAB, 2003). Em determinadas regiões, a utilização de milheto também vem crescendo na alimentação de bovinos. A oferta de subprodutos provenientes da industrialização dos grãos de cereais também tem aumentado, assim como subprodutos da industria de sucos de frutas e conserva (CONAB, 2003).
Com relação aos diferentes métodos de processamento, recentemente publicou-se um artigo no BeefPoint (clique aqui) que detalha as diferentes possibilidades para se obter grãos com diferentes características. De maneira geral, a literatura internacional mostra que o desempenho animal é melhor quando se utiliza maior grau de processamento dos grãos, possibilitando maior degradação ruminal do amido.
Maximizar o uso do amido é fundamental para se obter maior eficiência alimentar dos animais confinados, e a eficiência de uso do amido do milho é altamente afetada pelo tipo e grau de processamento dos grãos. No entanto, existem poucas referências na literatura nacional comparando os diferentes métodos de processamento, e seus efeitos sobre o desempenho de bovinos em terminação.
Recomendações dos nutricionistas e consultores se baseiam em resultados de pesquisas internacionais. No Brasil, o processamento mais utilizado para milho, sorgo e milheto, é a moagem a seco. Acredita-se que a moagem fina seja vantajosa em relação à moagem grosseira, pois resulta em maior área superficial do grão e maior rompimento da matriz protéica que envolve o amido, tornando-o mais disponível. Infelizmente não há trabalhos mostrando a comparação entre diferentes graus de moagem do milho utilizado por animais em confinamento.
Em paralelo a isso, conforme relataram Pereira et al., em outro artigo publicado no ano passado aqui no BeefPoint (clique aqui para ler), o interesse dos confinadores de bovinos de corte por fontes energéticas alternativas vem crescendo nos últimos anos, e esta tendência se acentua de forma significativa em anos de preços elevados do milho.
A inclusão destas fontes energéticas alternativas ao milho, em dietas para bovinos em confinamento, tem como principal objetivo baixar os custos de alimentação, mantendo desempenho satisfatório. Outro benefício da inclusão de subprodutos na dieta pode ser a redução no teor de amido das dietas ricas em grãos, com concomitante aumento nos teores de fibra digestível, contribuindo para melhoria do ambiente ruminal.
Dentre as várias possibilidades, 4 subprodutos da industria alimentícia – polpa cítrica, farelo de glúten de milho-21, casca de soja e farelo de trigo – despontam como alternativas interessantes para substituir, pelo menos em parte, o milho das dietas de bovinos em confinamento.
Destes a polpa cítrica é o mais estudado, e já vem sendo utilizada em larga escala em unidades de confinamento, pois este subproduto, em função de seu elevado teor de pectina, pode ser um substituo muito interessante para parte do milho das dietas de confinamento, especialmente quando se usa quantidade elevada de grãos na dieta. O trabalho de pereira et al. (2004) mostra claramente os possíveis benefícios da polpa cítrica nessa situação.
Com este cenário, decidiu-se realizar um experimento para avaliar os efeitos de diferentes graus de moagem dos grãos de milho, e sua substituição por polpa cítrica em dietas com alto teor de concentrado, para bovinos em crescimento e terminação.
Foram utilizados 80 machos cruzados (Nelore x Canchim), inteiros, com peso vivo médio inicial de 299 Kg, divididos em 20 baias cobertas , com piso concretado. As dietas foram formuladas utilizando-se o software do NRC (1996), e balanceadas para serem isoprotéicas, conforme mostra a tabela 1. Foram formuladas 4 dietas, que diferiam entre si em função do grau de moagem do milho (fina (menor que 1,2 mm) ou grosseira (maior que 2,5 mm)), e pela inclusão ou não de polpa cítrica, num arranjo fatorial 2×2.
Tab. 1. Composição das dietas experimentais
Tab. 2. Comparação de diferentes graus de moagem dos grãos de milho e sua substituição por polpa cítrica em dietas de bovinos confinados em crescimento.
Dessa forma, com base nos resultados desse trabalho, podemos afirmar que a moagem fina dos grãos de milho, em partículas menores que 1,2 mm é desejável para maximizar o desempenho, e que a substituição de parte desses grãos por polpa cítrica pode ser uma ótima alternativa para aumentar a lucratividade da operação, sempre que o preço do subproduto for interessante, como no caso deste estudo.
Bibliografia consultada
CONAB – Estimativa da produção de grãos. http://www.conab.gov.br/safras.asp Acessado em 20/02/2004.
HUNTINGTON, G. B. Starch utilization by ruminants: from basics to the bunk. Journal Animal Science, v.75, p.852-867, 1997.
PEREIRA, E. M.; SANTOS, F. A. P.; PEDROSO, A. M. “Uso de polpa cítrica como fonte alternativa ao milho em confinamento de bovinos de corte”. https://beefpoint.com.br/bn/radarestecnicos/artigo.asp?nv=1&area=15&area_desc=Nutri%E7%E3o&id_artigo=18845&perM=7&perA=2004, Beefpoint, 2004
OWENS, F. N.; SECRIST, D. S.; HILL, W. J.; GILL, D. R. The effect of grain source and grain processing on performance of feedlot cattle: a review. Journal Animal Science. V.75, p.868-879, 1997.
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1ESALQ/USP – Departamento de Zootecnia