A produção de carne bovina sustentável ou orgânica no Pantanal do Mato Grosso do Sul praticamente dobrou em 2022, com a destinação de 78.337 cabeças de gado para o abate em frigoríficos. O número é 87% maior que o de 2021, quando foram abatidos 41.769 animais.
Em quatro anos, o salto foi muito maior, superior a 4.000%. Em 2019, foram apenas 1.816 cabeças de gado criadas nesse sistema destinadas aos abatedouros. No ano seguinte, 13.470 animais para produção de carne orgânica ou sustentável foram abatidos, de acordo com dados da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). No período, o número de animais abatidos passou de 135,3 mil.
O crescimento também ocorre na adesão dos pecuaristas ao protocolo da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO). De 2021 para 2022, a área certificada em Mato Grosso do Sul avançou em 54,7%, passando de 713,6 mil hectares para mais de 1,1 milhão de hectares. O número de associados saiu de 38 para 96. Com as adesões em 2023, o total de associados agora é de 98, com área total de 1.203.712 hectares nas 181 fazendas cadastradas.
Com a evolução dos abates, cresceu também a bonificação que o Estado garante a esses pecuaristas. Em 2022, o Programa Carne Sustentável do governo sul-mato-grossense totalizou R$ 9,1 milhões em descontos, segundo a Semadesc. Em 2021, foram R$ 5,2 milhões.
A iniciativa diminui o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 50% para os criadores que optam pelo sistema de produção sustentável e em 67% para os pecuaristas que aderem ao modelo orgânico no Pantanal. Segundo a Semadesc, dos 135,3 mil animais certificados e abatidos desde 2019 quase 128,8 mil foram incentivados. Em 2022, a bonificação alcançou mais de 75 mil cabeças de gado.
“O volume crescente de abates representa que a classe produtora está cada vez mais engajada em produzir de forma estratégica e consciente”, disse o presidente da ABPO, Eduardo Cruzetta. Segundo ele, os recursos gerados via desconto do ICMS mostram a eficácia dessa política pública como incentivo para a produção de proteínas com origem certificada. “Esse modelo respeita não só o meio ambiente e as questões sociais, mas também o bolso do empreendedor rural”, acrescentou.
Mato Grosso do Sul tem o objetivo de ser carbono neutro até 2030 e aposta no crescimento da pecuária sustentável para perseguir isso. “O crescimento [de criadores associados à ABPO] resulta em avanços no programa e aponta que estamos no caminho certo de obter uma pecuária sustentável, de baixo carbono”, disse Jaime Verruck, da Semadesc.
“O protocolo trouxe modernos conceitos de sustentabilidade, que atendem tanto o interesse dos produtores como do Estado em garantir uma produção sustentável na pecuária pantaneira”, disse o secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Mato Grosso do Sul, Rogério Beretta.
O protocolo de produção de carne sustentável surgiu em 2012 e foi reformulado 2017. O modelo orgânico segue as regras nacionais. Em 2018, o governo criou o programa que concede incentivos e descontos aos pecuaristas que optam por esses sistemas produtivos e que devem ser certificados por empresa especializada.
Os pecuaristas que aderem ao protocolo precisam adotar algumas práticas produtivas específicas, como ajustes na lotação das pastagens para evitar a compactação, a perda de nutrientes e o desequilíbrio do solo, a utilização de pastagens nativas do Pantanal nas propriedades e a proteção dos recursos hídricos e recuperação de áreas degradadas.
O programa do governo exige a rastreabilidade completa, com a identificação individual e o abastecimento de um sistema com informações do animal, como o ano em que nasceu, a raça, a fazenda e o tipo de nutrição. Ficam disponíveis ainda os dados sobre manejo, transporte, abate e processamento do gado. Hoje, oito frigoríficos estão credenciados para o abate.
Pelo protocolo, a rastreabilidade é exigida para os 90 dias anteriores ao abate, mas deverá ser estendida para toda a vida do animal a partir de março, com prazo de carência para adaptação dos pecuaristas.
Silvio Balduíno, diretor-executivo da ABPO, diz que esse sistema valoriza a pecuária pantaneira e gera ganhos para consumidores, meio ambiente e sociedade. “Toda iniciativa que tenha como objetivo a criação sustentável e traga dignidade aos profissionais envolvidos, merece destaque no mercado. É um caminho sem volta”, opinou.
Fonte: Valor Econômico.