Apesar de os mecanismos que contribuem para a obesidade serem complexos e envolverem ações conjuntas de componentes comportamentais com processos hormonais, genéticos e metabólicos (2,3), a obesidade é amplamente vista como uma condição dependente do estilo de vida com duas causas primárias: consumo excessivo de energia e atividade física insuficiente. Apesar de que, ambos os fatores devam ser considerados em qualquer tipo de intervenção individual, esse trabalho se foca principalmente no papel da proteína da dieta na regulação do peso.
Introdução
A obesidade é uma desordem multifatorial com uma série de implicações incluindo hipertensão, diabetes tipo 2, aumento da gordura no sangue, doenças coronarianas, derrame, câncer (isto é, endometrial, de mama e de cólon), osteoartrite, apneia do sono e problemas respiratórios. Nos últimos 30 anos, a incidência de obesidade, definida como índice de massa corpórea acima de 30 quilos por m2, aumentou dramaticamente nos Estados Unidos, de 15% (1976-1980) para 33% (2003-2004) (1).
Apesar de os mecanismos que contribuem para a obesidade serem complexos e envolverem ações conjuntas de componentes comportamentais com processos hormonais, genéticos e metabólicos (2,3), a obesidade é amplamente vista como uma condição dependente do estilo de vida com duas causas primárias: consumo excessivo de energia e atividade física insuficiente. Apesar de que, ambos os fatores devam ser considerados em qualquer tipo de intervenção individual, esse trabalho se foca principalmente no papel da proteína da dieta na regulação do peso.
Especificamente, existem evidências de que um aumento modesto na proporção de proteína da dieta, enquanto se controla a ingestão total de energia, pode melhorar a composição corpórea, facilitar a perda de gordura e melhorar a manutenção do peso corpóreo após perda de peso (3-6). Uma série de estudos recentes também demonstrou que a dieta com menor proporção de carboidratos melhora o controle glicêmico em pessoas saudáveis e em pacientes com diabetes tipo 2 e pode levar à melhoras nos níveis de triacilgliceróis, colesterol HDL e proporção de colesterol total:colesterol HDL em jejum em um período de 6 a 12 meses (7,8).
Entretanto, a perda e a manutenção do peso são possíveis em dietas pobres e ricas em carboidratos. Dados anteriores do Registro de Controle de Peso sugerem que entre as características comuns dos pacientes que conseguiram manter com sucesso sua perda de peso por um longo período foi a adoção de uma dieta pobre em gordura e rica em carboidrato (9). Dados mais recentes indicam que dietas com teor moderado de gordura também podem ser efetivas (10). No entanto, os resultados positivos associados com a maior ingestão de proteína na dieta provavelmente são devido principalmente à menor energia associada com a maior saciedade (8,11-13), menor eficiência de energia e/ou maior termogênese (14-16), efeitos positivos na composição corpórea, especificamente na massa muscular magra (4,17.18) e melhor controle da glicemia (18,19).
Ingestão de proteína e saciedade
Está bem estabelecido que sob a maioria das condições, a proteína gera mais saciedade do que a ingestão de carboidrato ou gorduras que são isoenergéticos (8,11-13). Isso sugere que um aumento modesto na proteína, à custa de outros macronutrientes, pode promover saciedade e facilitar a perda de peso através do menor consumo de energia (20). A maior saciedade promovida pela proteína foi observada em refeições únicas (21,22) e durante 24 horas (23).
Em um estudo de curto prazo, a saciedade e a taxa metabólica foram examinadas por um período de mais de 24 horas em uma camara de respiração. Durante o dia, a saciedade foi maior no grupo com maior consumo de proteína (proteína/carboidrato/gordura: 30/60/10% da energia), comparado com o grupo de maior consumo de gordura (proteína/carboidrato/gordura: 10/30/60% da energia). É importante notar que esse efeito foi observado durante o período pós-prandial, bem como durante as refeições (12). É necessário notar, entretanto, que esse exemplo de maior saciedade foi observado em resposta a uma ingestão três vezes maior de proteína, uma condição que é improvável de representar uma ingestão dietética normal para a maioria dos indivíduos.
Apesar de algumas evidências de que a exposição habitual a uma dieta mais rica em proteína possa reduzir seu efeito na saciedade (24), outras sugerem que maiores efeitos de saciedade de uma dieta rica em proteína têm uma duração relativamente longa (25-27). Em um estudo de 16 semanas, pessoas consumindo uma dieta rica em proteína (34%) e pobre em gordura (29%) reportaram maior saciedade após a refeição do que pessoas que consumiram uma dieta padrão em proteína (18%) e rica em gordura (45%) (27).
Em alguns casos, os efeitos geralmente maiores de saciedade da proteína não são evidentes (28). De forma aguda, o carboidrato tem grande saciedade, enquanto a proteína normalmente tem um efeito mais prolongado de saciedade. Entretanto, sob condições normais, a ingestão de fibras, o tempo de avaliação, a forma do alimento (se é sólido ou líquido) ou a co-ingestão de outros macronutrientes podem influenciar na saciedade reportada (29,30).
Existem algumas sugestões de que diferentes fontes de proteínas afetam diferentemente a saciedade. Especificamente, mostrou-se que a ingestão de proteína de origem animal (carne de porco) resultou em 2% mais gastos de energia do que a ingestão de proteína de origem vegetal (soja) (31). Além disso, existem evidências de que o esvaziamento gástrico mais rápido e o aumento após as refeições das concentrações de aminoácidos no plasma após a ingestão de proteínas específicas (por exemplo, soro de leite versus caseína) (32) pode aumentar a saciedade por causa de um maior efeito estimulador dos hormônios gastrointestinais (33).
Por exemplo, peptídeos derivados da caseína reduzem a motilidade gastrointestinal, resultando em menores concentrações de aminoácidos no plasma após as refeições, o que, por sua vez, enfraquece o efeito de saciedade das maiores concentrações plasmáticas de aminoácidos. Em comparação, o caseinomacropeptídeo, um peptídeo glicosilado compreendendo 15-20% de produtos de soro do leite, estimula a produção de hormônio gastrointestinal e tem mostrado aumentar a saciedade em alguns estudos (34), mas não em todos (35). Entretanto, apesar da sugestão de efeitos agudos ou transientes atribuíveis a proteínas específicas, qualquer desses efeitos pode ser mascarado pela ingestão concomitante de uma mistura de proteínas e outros macronutrientes na dieta normal mista.
O Peptídeo 28 mostrou estimular o apetite e promover a ingestão de alimentos e pode facilitar o ganho de peso (32). As concentrações plasmáticas desse peptídeo seguem um padrão cíclico, aumentando antes das refeições e caindo logo após as mesmas. A redução após as refeições é influenciada por uma proporção relativa de macronutrientes em uma refeição, com uma maior redução após a ingestão de proteína e carboidratos do que após a ingestão de gordura (36). Entretanto, o aumento da saciedade e a redução do apetite associado com uma maior ingestão de proteína da dieta pode não ser mediada pelo equilíbrio do Peptídeo 28 (27).
Artigo traduzido e adaptado, baseado no trabalho “Protein, weight management, and satiety”, de Douglas Paddon-Jones, Eric Westman, Richard D Mattes, Robert R Wolfe, Arne Astrup e Margriet Westerterp-Plantenga, apresentado na conferência “Protein Summit 2007: Exploring the Impact of High-Quality Protein on Optimal Health,” ocorrida em Charleston, SC, em 24 de maio de 2007, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, Vol. 87, No. 5, 1558S-1561S, May 2008.
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