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Qual relação touro:vaca a ser utilizada?

Marcelo de Queiroz Manella, MSc.

“Qual relação touro:vaca a ser utilizada?”, esta pergunta se repete em toda estação de monta, e tradicionalmente observa-se a relação de 1 touro para cada 25 vacas. Esta relação, muitas vezes, subestima o potencial reprodutivo do touro, ocasionando em menor número de descendentes, prejudicando assim melhoramento genético do rebanho.

Em artigos anteriores foram discutidos os métodos de avaliação da capacidade reprodutiva dos touros, através dos aspectos biométricos dos testículos, físico-morfológicos do sêmen, e de seleção de touros para monta natural, além das características comportamentais (libido e capacidade de serviço). Estas avaliações são essenciais para escolha de touros com fertilidade comprovada para melhorar os índices reprodutivos do rebanho, pois observa-se com freqüência touros questionáveis quanto a fertilidade e capacidade de cobertura.

Santos et al. (2000) recentemente avaliaram o potencial reprodutivo de touros da raça Nelore submetidos a diferentes relações touro:vaca, e seus efeitos sobre a fertilidade do rebanho. Foram selecionados 56 touros da raça Nelore, com sete a dez anos de idade, sendo estes submetidos à avaliação andrológica e ao teste de libido. Destes animais foram selecionados apenas 20 touros com libido muito boa a excelente (7-10), que foram distribuídos em acasalamento coletivo, em quatro tratamentos: T1=1:25, (5 touros para 125 vacas); T2=1:50, (5 touros para 250 vacas); T3=1:75, (5 touros para 375 vacas) e; T4=1:100 (5 touros para 500 vacas). Os touros usavam buçal marcador com diferentes cores para identificar as fêmeas cobertas. Os animais foram avaliados por 45 dias, sendo feitos rodeios e anotação diária das fêmeas e cores marcadas. O diagnóstico de gestação foi feito por palpação retal 60 e 90 dias após o início da estação de monta para a obtenção das fêmeas gestantes. Os autores observaram que a relação touro:vaca não alterou significativamente as taxas de gestações para estação de monta de 45 dias, obtendo-se 42,2; 39,1; 50,8; e 41,5% de gestação nas proporções de 1:25, 1:50, 1:75 e 1:100, respectivamente. Observou-se que das 1250 vacas que compunham os tratamentos, 738 (59,0%) foram marcadas pelos touros, destas, 624 (84,5%), 112 (15,2%) e 02 (0,3%) foram marcadas por um, dois e três touros, respectivamente. Esses dados indicam que a maioria das fêmeas bovinas são cobertas por apenas um touro. Ao se analisar a taxa de gestação das fêmeas marcadas por um, dois e três touros, observa-se que 41,5; 49,5 e 0,0% ficaram gestantes, respectivamente. Conclui-se que as relações touro:vaca (1:25, 1:50, 1:75 e 1:100) não interferiram na taxa de gestação do rebanho, em 45 dias de estação de monta.

Pineda et al. (2000) classificou touros Nelore com fertilidade comprovada quanto à habilidade de monta (muito alta, média e baixa). A capacidade de fecundidade dos touros foi avaliada em dois experimentos no estado do Pará. No primeiro trabalho utilizou-se estação de monta de 84 dias, e relação de 1:51, apenas com touros de habilidade de monta muito alta. No segundo trabalho usou-se estação de monta de 63 dias com relação de 1:80, utilizando-se touros de habilidade muito alta, média e baixa.

No primeiro trabalho determinou-se que taxas de prenhez, das 714 vacas utilizadas, foram de 63,6, 81,9, 91,2 e 94,5% aos 21, 42, 63, e 84 dias após o ínicio da estação de monta, respectivamente. Os dados indicam que touros com habilidade de monta muito alta e com bom exame andrológico são garantia de altas taxas de fertilidade, além de permitir a redução da estação de monta. Lembrando, é claro, que o número de vacas utilizadas foi o dobro do que se observa na média.

No segundo trabalho os touros de habilidade de monta muito alta, média e baixa mostraram taxas de prenhez ao final de 63 dias de 88,8, 67,5, 68,8%, respectivamente. Os dados indicam que touros de habilidade de monta muito alta podem ser utilizados com eficiência em relações de 1 touro para 80 vacas. Já para os outros reprodutores a relação de 80 vacas foi limitante.

Os trabalhos de Santos et al. (2000) e de Pineda et al. (2000) demonstram que touros Nelore podem se melhor explorados na estação de monta, ou seja, é possível utilizar um número maior de vacas por touro. Porém, estas recomendações devem ser feitas após rigoroso exame andrológico associado a testes de libido e capacidade de serviço, que deve ser realizada por técnicos capacitados, antes da estação de monta.

Literatura Citada:

SANTOS, M.D., CIRO; TORRES, C.A.A.; RUAS, J. R.M.; GUIMARÃES, J.D.; PEREIRA. J.C. Potencial reprodutivo de touros da raça Nelore em monta natural submetidos às proporções touro : vaca de 1:25, 1:50, 1:75 E 1:100. XXXVII REUINIÃO DA SOCIEDADE BRAZILEIRA DE ZOOTECNIA (Anais, CD-Room), Viçosa, MG. 2000.

PINEDA, N.R.; FONSECA, V.O.; PROENÇA, R.V. Potencial reprodutivo de touros Nelore: libido, capacidade de serviço e eficiência em acasalamentos com elevada proporção de vacas. Re. Bras. de Reprod. Anim., v.24, n.1, p.44-51. 2000.

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  1. Michel dos Santos Abrahão disse:

    parabens marcelo pelo artigo
    essa questão de relação touro:vaca é de frequente dúvida entre os produtores e até para técnicos, assim, com esses dados, além de fortalecer nossas recomendações, favorece também a utilização e importância do exame andrológico.
    obrigado