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Quantos animais devo colocar nesse piquete? – parte II

Cálculo utilizando como parâmetro o resíduo pós-pastejo

Como colocado no primeiro artigo dessa série (“Quantos animais devo colocar nesse piquete?”) determinar o número de animais que deve ser colocado em uma determinada área é uma das maiores dúvidas daqueles que manejam pastagens. No artigo anterior, foram mencionados alguns parâmetros que podem ajudar nesse cálculo… mas, como fazer o cálculo em si?

A estimativa do número de animais que deve ser colocado em um piquete pode ser feita de várias formas, inclusive empiricamente. No presente artigo, será descrito um método de cálculo utilizando-se como referência o resíduo pós-pastejo.

O resíduo pós-pastejo corresponde à forragem remanescente após o pastejo e é uma forma de caracterizar a intensidade de pastejo. A determinação do resíduo pós-pastejo pode ser feita por meio de medições diretas ou avaliações visuais.

Para determinar o resíduo pós-pastejo de forma direta, deve-se:

• construir um quadrado de 1 x 1 m;
• levar o quadrado para a área em que se deseja determinar o resíduo pós-pastejo;
• colocar o quadrado em locais que representem a situação do pasto (não colocar nas áreas em que o capim esteja muito baixo ou muito alto). Se o pastejo estiver uniforme, pode-se cortar quatro amostras por piquete, caso contrário, o número de amostras deve ser maior;
• cortar a forragem delimitada pelo quadrado
• descartar o material morto e contaminantes (terra, pedra, gravetos etc.)
• pesar a forragem;
• após a coleta e a pesagem de todas as amostras, deve-se calcular a média de todos os valores e multiplicar por 10.000, a fim de obter a massa de forragem por hectare.

Exemplo: Num pasto de 1 ha, foram coletadas quatro amostras com os seguintes pesos (kg): 1,0; 0,8; 1,2; e 1,0.

X = (1,0 + 0,8 + 1,2 + 1,0)/4 = 1,0 kg de matéria original/m2
1,0 kg de matéria original/m2 x 10.000 m = 10.000 kg de matéria original/ha = 10 t/ha.

Esse procedimento permite calcular o resíduo pós-pastejo em matéria original. Como a percentagem de água na forragem é muito variável, o ideal é determinar também o teor de matéria seca e calcular a massa de forragem em quilogramas de matéria seca por hectare (kg de MS/ha).

Para determinar o teor de matéria seca da forragem, deve-se:

&bull: misturar bem as amostras após a pesagem (pode ser necessário picar o capim);
&bull: retirar uma pequena amostra (subamostra) e pesá-la;
&bull: colocar a subamostra para secar em estufa ou em forno de microondas, até que seu peso fique constante;

Observação: A secagem em estufa deve ser feita a 65 oC e demora, em média, 72 horas. Para secagem em microondas, deve-se utilizar o procedimento descrito no artigo “Método revisado para determinar o teor de matéria seca em amostras de plantas utilizando forno de microondas doméstico”.

De posse do teor de matéria seca da forragem, pode-se calcular o resíduo pós-pastejo em matéria seca, por regra de três.

Exemplo: Considerando a massa de forragem de 10.000 kg de matéria original/ha, com 20% de matéria seca, temos:

100 kg de matéria original —————- 20 kg de matéria seca
10.000 kg de matéria original ———— X kg de matéria seca,

X = 10.000×20/100 = 2.000 kg de MS/ha.

De modo geral, resíduos pós-pastejo de aproximadamente 2.000 kg/ha, na base seca, de matéria verde (ou seja, material vivo, não inclui matéria morta) são suficientes para se obter bom desempenho. A partir desse parâmetro e da estimativa da massa de forragem do pasto antes da entrada dos animais é possível estimar o número de animais que deve ser colocado no piquete.

A massa de forragem inicial (antes da entrada dos animais) pode ser estimada da mesma forma descrita para o resíduo pós-pastejo. De posse do valor de massa de forragem, deve-se estimar um nível de perda de pastejo e de consumo de forragem pelos animais.

Gontijo et al. (2006) obtiveram o consumo máximo de 2,42 kg MS/100 kg de peso vivo animal, o que corresponde a cerca de 10 kg MS/UA dia. O nível de perdas de pastejo varia e depende de uma série de fatores relacionados ao manejo das plantas forrageiras. Para efeito de cálculo, neste exemplo será adotado o valor de 20% de perdas totais.

Considerando-se um pasto com massa de forragem inicial equivalente a 5.000 kg MS/ha e o objetivo de se alcançar um resíduo pós-pastejo de 2.000 kg MS/ha, têm-se que:

Forragem perdida devido ao pastejo (20% de perdas) = 5.000 x 20 / 100 = 1.000 kg MS/ha

Forragem total disponível (descontando perdas) = 5.000 – 1.000 = 4.000 kg MS/ha

Forragem disponível para consumo (descontando resíduo pós-pastejo)= 4.000-2.000 =2.000 kg MS/ha

Número de UA/ha (consumo de 10 kg MS/UA.dia)= 2.000/10 = 200 UA/ha.dia

A tabela 1 mostra uma simulação do número de animais a ser colocado no piquete de 1 ha (taxa de lotação instantânea), para se atingir diferentes níveis de resíduo pós-pastejo, de acordo com a produtividade do pasto e o nível de perdas de pastejo esperado.

Tabela 1. Taxa de lotação instantânea [unidades animais (UA)/ha dia] do piquete de 1 ha de acordo com a produtividade do pasto e o nível de perdas de pastejo, para se atingir resíduo pós-pastejo de 1.000 a 2.500 kg de matéria seca (MS)/ha


1>/sup> Perdas de pastejo = 20% da produção total;
2ngestão de 10 kg de MS/UA.dia.

Comentário:

O exemplo acima mostra uma forma de se estimar o número de animais a ser colocado em um piquete. Como alguns parâmetros adotados no cálculo (perdas e consumo) podem variar de acordo com características da pastagem, dos animais e do manejo adotado, é importante verificar se o resíduo pós-pastejo almejado está sendo atingido.

Caso o resíduo pós-pastejo esteja acima do previsto, deve-se aumentar o número de animais. Por outro lado, se o resíduo pós-pastejo for menor do que o esperado, o número de animais deve ser reduzido.

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