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Que país é este?

Por José Márcio Veloso de Araujo1

“Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição”

A letra da música do Legião Urbana, não sai da cabeça, quando olhamos para o país e observamos tantos desmandos. A violência que cresce em níveis assustadores e a miséria física e humana se expressa em rostos sem esperança e em atitudes descontroladas. Que país é este? Um país sempre do futuro, nunca do presente. Promessas, promessas e promessas, desmanteladas pela corrupção, que como um câncer, corrói governos após governos.

Não precisamos de promessas, precisamos de ação. De atitude, de ética. Chega de discursos pomposos, ou mesmo desastrosos. Estamos cheios. Cansados, desanimados. De governos que, para dar conta de seus fracassos, divide brasileiros com suas políticas eleitoreiras. Brancos, negros e índios, ricos e pobres e até, pasmem: analfabetos e alfabetizados.

Sim, porque hoje, temos um presidente que grita aos quatro ventos o quão lindo é ter sido filho de mãe analfabeta. Ao invés de se comover, diante do fato de ter presenciado alguém que não teve a oportunidade de trilhar o caminho do aprendizado, da leitura e do saber, ele faz com que isso pareça virtude. Mistura falta de oportunidade com ética. E infla seu peito não em respeito à sua origem humilde, mas por achar que essa origem humilde o redime de alguma forma de seus tropeços. Pequenos e grandes.

Esquece que as histórias de muitos homens são cheias de lutas e de dor. Não é privilégio do presidente ter nascido humilde. O Brasil é cheio de gente humilde. Alguns se transformaram em homens poderosos, conquistando espaço, palmo a palmo, com o suor de seus rostos. Hoje, fazem parte da classe produtiva e dão emprego a milhões de brasileiros. Muitos não têm na biografia nada que os desabone. Tiveram oportunidades, sim, e souberam aproveitar. Mas não roubaram ninguém, pelo contrário, ajudam a construir o país.

Gente desonesta, tacanha, infame é a grande miséria da humanidade. Tem em todo lugar, em todas as classes sociais, de todas as raças. Não importa se é rico, pobre, negro, branco, amarelo ou vermelho. Brasileiro, americano ou japonês. O ser humano é a maior complexidade do mundo e aí já é outra história. O que importa é que aqui, somos brasileiros. Não somos brancos, nem negros, nem índios. Somos a mistura de vários povos num caldeirão que a própria história colocou no fogo. Sem desconsiderar a cota de suor e de dor que cada povo foi obrigado a dar nessa feitura.

O que importa é que o país que estamos construindo, e é sempre no hoje, deve privilegiar, em primeiro lugar, seu Povo, lutando para o crescimento dele, respeitando e fazendo respeitar a Constituição que, a duras penas conquistamos. Deve privilegiar o crescimento, o trabalho, a lei e a ordem, no sentido de retribuir o amor de cada brasileiro com uma vida digna.

Não é atacando a classe produtiva, como esse governo tem feito, que um país sai do buraco. Não é dando cotas eleitoreiras em universidades, disfarçadas numa suposta abertura de oportunidades para um grupo que foi desfavorecido durante a história (é esse o maior argumento) que vamos melhorar a educação. Por que, em vez de dar cotas eleitoreiras aos negros, não se lhes dão oportunidades de base para um crescimento social igualitário? A resposta é simples: o projeto só traz retorno a longo prazo (e a longo prazo não interessa a quem quer ganhar as próximas eleições). Porém, ao não se exigir reformas de base, contribuímos para dar continuidade a um ensino público vergonhoso. Disfarça-se com uma maquiagem a mancha que a história brasileira imprimiu a um grupo que literalmente construiu este país.

Os governos criticam tanto os interesses dos “poderosos”. Só não nos dizem que os poderosos são eles, a “elite” desvirtuada são eles, os interesses são deles. Quando o interesse deveria ser sempre o da comunidade. E eles, governos, como nossos representantes, são meros procuradores de nossos interesses. Porém, entender isso é preciso coragem. É preciso coragem para construir um país. É preciso coragem para comandar um país. É preciso coragem para colocar os interesses da comunidade em primeiro lugar. É preciso também um bocado de honestidade, de autocrítica e de humildade, inclusive para correr o risco de não ganhar as próximas eleições.

Porém, o que muitos governos fazem? Dão uma “esmola” aqui e acolá, para acalmar os ânimos e ganhar eleitores. Não transformam absolutamente nada. E se o governo anterior fez algo bom, destrói para que a população se esqueça dele ou rouba-lhe a idéia para ficar com a boa fama. E tudo continua a mesma coisa. De tempos em tempos, alguém até pode trocar de lugar. Ricos de ontem, pobres de hoje, governo de ontem, oposição de hoje, e vice-versa (como na revolução burguesa e como acontece no governo brasileiro), mas a lei da “sobrevivência” no poder, custe o que custar continua a mesma. Mudam-se apenas os atores.

Quando, na verdade, precisa-se mudar urgentemente as atitudes. Educação, Saúde, Segurança, alguns dos direitos básicos do cidadão passam despercebidos de governo a governo. Por que? Por que é difícil comandar uma nação que sabe dos seus direitos e os reivindica, não aceita esmolas. Assim, o mais fácil é tudo continuar igual. E distribuir algumas esmolas. Diante disto, é preciso gritar: o brasileiro não precisa de esmolas. Ele precisa, e tem o direito garantido pela Constituição, de trabalho, de escolas decentes, de postos de saúde decentes.

O dinheiro público é roubado, desviado, serve a interesses escusos e a culpa recai sobre os cidadãos que assistem a tudo boquiabertos pela televisão. Que matemática é essa que os homens do poder roubam e a culpa é da classe produtiva? Como podem culpar quem dá emprego? Quem paga impostos? Produzir no país, seja um empresário pequeno, médio ou grande, tornou-se uma tarefa de heróis. Herói é o brasileiro que acorda todos os dias de madrugada e enfrenta o trabalho o dia todo, com medo de perder o emprego que está escasso. Herói é o brasileiro que investe o que tem num negócio e apesar de falências à direita e à esquerda, continua batalhando para crescer, dando emprego a duas pessoas em sua padaria ou a dois mil funcionários em sua fábrica. E tudo isso, apesar de toda a carga tributária e dos desmandos governamentais a que está sujeito. Herói é o brasileiro que continua lutando por um país que ele ainda quer ver nascer.

Herói é o brasileiro que vê toda sua produção de leite sendo jogada no lixo (já que por lei, não pode ser doada) porque alguém do governo resolveu que no Paraná há febre aftosa, quando todos os laudos técnicos afirmam que não há. Herói é o brasileiro que, humildemente, sendo rico ou pobre, tem que acatar ordem governamental matando todo o seu gado (por que cargas d´água, ninguém sabe), porque ele sabe que se continuar brigando, mesmo estando certo, vai prejudicar ainda mais seu estado. Afinal, o governo diz que há febre aftosa no Paraná, então, enquanto ele não aceitar matar todo seu gado, outros produtores vão continuar obrigados a jogar todo o seu leite no lixo. O estado não vai poder exportar e vai perder mais e mais dinheiro. Dinheiro jogado no lixo, dinheiro em cuecas de caras-de-pau. E o culpado? O cidadão que produz. O vilão? Quem dá emprego. Quem paga impostos. Que país é este?

Que País é este que deixa prefeituras e estados irem a falência, por falta de políticas que promovam o desenvolvimento e deixa escapar da punição uma cambada de políticos envolvidos no maior escândalo de corrupção que essa Nação já viu? Os “mensaleiros” e suas cuecas lotadas de dinheiro sujo… Quase todos inocentados pelo Congresso e os brasileiros ainda têm que assistir a dançarina petista, zombando de nós.

Enquanto isso, os problemas se agigantam, o estado do Mato Grosso , por exemplo, está falido. Essa região que abriga brasileiros de vários outros estados que vieram aqui construir um novo centro de produção agropecuária para o país, pede socorro. O Governo estadual vai decretar estado de emergência.

O que vamos fazer? Só há um caminho, a sociedade precisa se organizar. Parar de brigar entre si e brigar com seus governos. Exigir políticas justas para a produção. Políticas que beneficie o crescimento. Não há distribuição de renda se não houver trabalho. Se não houver produção. A utopia do comunismo que alguns ainda insistem em perpetuar, só mostrou que quando ele acontece, um novo grupo surge ao poder . Aliás, novo? Não, a mesma corja de gafanhotos que em todo o lugar, não importa se é de esquerda ou direita, faz a mesma coisa: destrói tudo o que vê pelo caminho, pela ânsia da gula. Gula de poder, de dinheiro ou de qualquer outra coisa. Menos vontade de trabalhar, produzir e fazer crescer a sua comunidade.

A diferença entre os homens continua sendo uma só: há aqueles que constroem e aqueles que amam destruir. Os que constroem, sabem que não constroem só para si. Constroem para os seus, para as gerações futuras e para toda a comunidade, porque o homem não é só. Precisa e vive em sociedade, e para isso precisa acolher as diferenças.

Os que destroem têm medo das diferenças e jogam uns contra os outros para garantir o seu. Não sabem que ao destruir o do outro, também destrói o seu. A história mostra isso. Por isso, brasileiros, Uni-vos. O País clama por cada um de nós, é preciso varrer da terra a praga da corrupção, dos desmandos, da segregação. O caminho continua sendo o trabalho e a perseverança na ética. Não na ética do discurso, mas nas atitudes.

Vamos montar grupos de discussões, vamos nos reunir nas associações de classes (agricultores, pecuaristas, engenheiros, professores etc.) Vamos buscar mecanismos de vigiar os governantes, de lutar por políticas que privilegie o emprego e o crescimento. Vamos ficar atentos. Porém, é preciso ficar atentos também em nossas atitudes. Os governos são reflexos do povo. Se furarmos fila ou aceitamos molhar a mão de um guarda para fugir de uma multa, que diferença temos dos políticos receberam dinheiro para votar por esse ou aquele projeto?

Vamos nos unir em sociedades apartidárias que lutem por um movimento ético na nação, começando em casa e saindo às ruas, aos locais públicos. Vamos mostrar a esses políticos que se eles não mudaram, nós mudamos. E nas próximas eleições vamos jogar fora todos os políticos que não entenderam que o Brasil quer ser uma nação ética.

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1José Márcio Veloso de Araujo é pecuarista de Juara/MT

0 Comments

  1. Mircon Giovani Kloss disse:

    Concordo com o Sr. Araújo e acredito que enquanto nós continuarmos passivos a todos esses acontecimentos, persistirá a sensação de impunidade motivando nossos representantes a manter tais atuações.

    Nosso país é grande em todos os sentidos, mas tal grandeza não impede que tenhamos que ver concursos para garis exigindo 2º Grau completo e para presidente da república o requisito não é maior. Não impede que investimentos em infraestrutura estejam desatualizados e desproporcionais a realidade. Não impede que tenhamos crises sociais com soluções demagógicas.

    Pedimos a democracia na década de 80, antes disto havia ditadura, o que temos hoje? Será que não estamos atrelados a uma tirania mascarada? Em um ano que deveríamos ir as ruas pedir moralidade ficamos em casa para assistir a dança da pizza! Será que os fatos não confirmam que nossos representantes são o reflexo de quem somos?

    Nós debatemos exigindo mudanças, no entanto a grande maioria não está nem um pouco preocupada. Começo a crer que a frase “cada povo tem o governo que merece” não possui reversão.

    Possuímos potenciais e capacidades inigualáveis, por isso está mais que na hora de revertermos toda essa situação.

  2. Janete Zerwes disse:

    Caro José,

    Diante da crise que atravessamos, é muito bom, confirmar que por trás de números e estatísticas, existem seres humanos pensantes, politizados e informados, falando por nós produtores, colocando em palavras tão acertivas, o que esta preso em nossas gargantas.

    Quando ouvimos as notícias que relatam os valores do “superávit” da balança comercial, alavancados pela produção primária, e citados pelo representante máximo desta nação, como resultado da eficiência da política econômica do seu governo, ficamos estarrecidos.

    Primeiro, porque parece que os milhões de toneladas de grãos e carne, não foram produzidos na terra; segundo, os agentes dessa produção não são cidadãos brasileiros que trabalham e constroem este país.

    Explico:

    Quando o governo federal, através do Ministério do Meio Ambiente, busca numa tentativa extremamente válida instituir campanhas de preservação ambiental, mas age de maneira hostil e arbitrária contra o setor produtivo, parece ignorar de onde provêm os números que tanto alardeia; logo em seguida, ignora que por trás desses números além de solos, existem homens e mulheres que plantam e colhem.

    Homens e mulheres, que construíram solos, usinas, estradas, pontes, armazéns, estruturaram os territórios produtivos desse país, quase sempre com imensos sacrifícios pessoais e familiares (ocuparam regiões sem infra estrutura de saúde, educação, abastecimento, logística – esta constatação é mais evidente para nós matogrossenses, por que ela é parte de nossa realidade atual, por ser nosso estado, um estado relativamente jovem em termos de desenvolvimento).

    Talvez essas pessoas sejam hoje tão pouco valorizadas, porque durante o tempo da construção, nunca empunharam foices, machados ou qualquer outro tipo de instrumento agrícola, para destruir e ameaçar patrimônios públicos ou privados, ao contrário, tais instrumentos serviram apenas para o cultivo da terra.

    Justifico:

    Ouvi, igualmente ouviram alguns milhões de brasileiros, nosso presidente em um mesmo discurso, generalizar, referindo-se aos agricultores como “caloteiros”, e elogiar a Via Campesina, por suas ações de depedrações e invasões.

    Aceito seu convite ao diálogo e me coloco a sua disposição aqui na FAMATO, para iniciarmos um projeto de agregação dos produtores, especialmente pecuaristas, para discutirmos e elaboramos políticas próprias de produção.

  3. Isabel Penteado disse:

    Parabéns ao Sr. José Márcio, o seu artigo mostra o sentimento que todos os brasileiros de bem estão sentindo com a atual situação de nosso País. Pode ter certeza que encontrará pessoas que se unirão à sua luta.

  4. SERGINO SILVEIRA SANTOS disse:

    Excelente artigo do amigo pecuarista matogrossense. Consciente, completo, conclusivo. Nós brasileiros precisamos acordar, pois colocamos todas esperanças em uma mudança política elegendo Lula, para depois vermos esse continuismo piorado.

  5. Josmar Almeida Junior disse:

    Caro José

    Parabéns pelo excelente artigo.

    Saibas que possui aqui mais um “indiguinado” a empunhar a bandeira na união da classe.
    E a todos que passarem os olhos por esta seção, peço que a façamos de “lista de assinatura” desta terrível barbárie por qual a agricultura passa, e por que não iniciemos assim a dita União.

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