Uma queda de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 levaria o déficit primário do governo central a R$ 515,5 bilhões e a dívida pública a 90,8% do PIB, estimou ontem o Ministério da Economia. Frente ao elevado grau de incerteza na economia devido à pandemia, a equipe econômica traçou cenários para as contas públicas considerando diferentes níveis de retração da economia.
Hoje, o cenário oficial do governo considera estabilidade do PIB neste ano. Membros do ministério, no entanto, já admitem que a estimativa, apresentada no mês passado, está defasada e precisará ser revisada para um número negativo. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial projetaram queda na casa dos 5% para o país. No cenário de crescimento zero, o déficit primário estimado pelo governo é de R$ 467,1 bilhões, e a dívida bruta, de 85,4% do PIB.
Se a economia recuar 1%, o déficit iria a R$ 476,8 bilhões, e a dívida, a 86,4% do PIB. Numa queda de 2%, as contas públicas registrariam déficit de R$ 486,4 bilhões e a dívida pularia para 87,5% do PIB. Caindo 3%, o déficit iria a R$ 496,1 bilhões, e a dívida, a 88,6%. Uma retração de 4%, por sua vez, implicaria rombo de R$ 505,8 bilhões e dívida de 89,7% do PIB.
O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, destacou que as medidas adotadas pelo governo até agora para combater os efeitos do coronavírus geram impacto primário de 3,76% do PIB (R$ 284 bilhões). Considerando demais medidas regulatórias e não regulatórias, o peso sobe para 46,03%.
Waldery enfatizou que o Brasil está colado com os países desenvolvidos em termos de ações de apoio à população e bem acima de outros emergentes. De acordo com apresentação do ministério, a média de gastos dos países desenvolvidos está em 3,82% do PIB. No caso dos emergentes, é de 1,71% do PIB.
Na entrevista coletiva, os secretários reforçaram que é preciso ter cuidado com a expansão dos gastos e restringir as despesas a 2020. O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, negou, em tom enfático, a possibilidade de a secretaria dar crédito direto ao varejo.
“Há alguma possibilidade de ter algum programa do Tesouro de relacionamento direto com banco ou varejo? A possibilidade disso é absolutamente zero”, disse ao ser questionado. Ele afirmou que a decisão de como usar recursos é política e que a secretaria não executa políticas públicas. Waldery completou a fala dizendo que “essa veemência do secretário Mansueto tem razão”. Segundo ele, diversas “soluções mágicas” são propostas para fazer frente à crise.
O Valor informou na edição de ontem que o ministério discute um modelo para socorrer pequenos varejistas. A proposta, que estaria sendo estruturada em parceria com o setor privado, contemplaria empréstimos com recursos do Tesouro Nacional a lojistas que faturam até R$ 30 mil por mês, segundo fontes.
Fonte: Valor Econômico.