Mercados Futuros – 30/06/08
30 de junho de 2008
Genética para um sistema de produção de ciclo curto1
2 de julho de 2008

Rastreabilidade SISBOV: um mundo a parte

Na última semana estive em contato com o responsável pelo controle da rastreabilidade do meu rebanho, no intuito de verificar qual a situação do cadastro de meus animais junto ao SISBOV. Como no próximo mês está marcada a auditoria semestral da propriedade, decidi me antecipar e com isso evitar ao máximo as eventuais não conformidades. Teoricamente, eu deveria estar despreocupado, visto que minhas atividades, a princípio, estão em concordância com o SISBOV. O problema é que minha despreocupação se limita apenas ao "teoricamente", pois quando os dados coletados corretamente na propriedade são enviados para a certificadora e para o Ministério da Agricultura, estes parecem sair do Brasil e adentrarem em algum outro país com o qual não mantemos relações diplomáticas.

Na última semana estive em contato com o responsável pelo controle da rastreabilidade do meu rebanho, no intuito de verificar qual a situação do cadastro de meus animais junto ao SISBOV. Como no próximo mês está marcada a auditoria semestral da propriedade, decidi me antecipar e com isso evitar ao máximo as eventuais não conformidades.

Teoricamente, eu deveria estar despreocupado, visto que minhas atividades, a princípio, estão em concordância com o SISBOV – estou seguindo corretamente as regras de inserção, movimentação e desligamento de animais, bem como preenchendo todos os eventos sanitários e insumos utilizados na propriedade. O problema é que minha despreocupação se limita apenas ao “teoricamente”, pois quando os dados coletados corretamente na propriedade são enviados para a certificadora e para o Ministério da Agricultura (em especial se essa certificadora está se fundindo com outra), estes parecem sair do Brasil e adentrarem em algum outro país com o qual não mantemos relações diplomáticas.

E, para piorar as coisas, nesse país distante, as informações parecem ser passadas de uma alçada a outra – alçadas estas repletas de profissionais nada qualificados – através da técnica do “telefone sem fio”, aquela brincadeira de criança onde uma frase é passada verbalmente de pessoa a pessoa, de tal forma que ao final da fila, a frase resultante de nada lembra a oração original.

Acredito que até o momento não disse nada que cause surpresa aos leitores, uma vez que antes da existência do “país SISBOV”, já nos deparávamos com outros “países independentes” ou “mundos a parte”, com regras e leis próprias, em especial nas esferas fiscal e cartorária. E não estou me referindo às diferenças de um estado para outro, mas sim de exigências diametralmente opostas em instituições lotadas em uma mesma cidade.

Voltando ao tema rastreabilidade, há algum tempo solicitei à certificadora a migração de alguns animais de uma propriedade a outra – a fim de que o meu extrato de animais no Ministério estivesse em concordância com o rebanho efetivo da fazenda, como a legislação exige – e, para minha surpresa, nessa visita fui informado que o número SISBOV de cerca de 180 animais envolvidos na transferência em questão saíram da propriedade de origem, porém nunca chegaram à propriedade de destino. Simplesmente sumiram!

Fiquei no mínimo indignado com a notícia. Afinal, somos rigidamente cobrados no cumprimento de prazos e metas, submetidos a tramitações burocráticas para inserirmos e mantermos nosso rebanho no SISBOV, e a contrapartida oferecida pela entidade certificadora não esta à altura dos nossos esforços.

Juntamente com a indignativa notícia já relatada, durante a visita ao escritório da certificadora também fiquei ciente de algumas novas regras do SISBOV.

A primeira delas obriga que todos os comunicados de entrada e saída de animais sejam assinados pelo responsável da defesa animal da região onde a propriedade se encontra. Raciocinemos a respeito:

• Somos obrigados a emitir GTAs para vender ou transferir animais;
• As GTAs, além de assinadas pelo agente de defesa animal da região da propriedade, expressam a idade, sexo e quantidade de animais envolvidos em determinada movimentação;
• Nas GTAs estão registrados os dados de origem e destino dos animais envolvidos na movimentação;
• Uma vez realizada a movimentação, a GTA deve ser entregue à defesa animal da região de destino dos animais;
• No caso de animais rastreados, é exigido que todos os comunicados de entrada e saída de animais entregues à certificadora estejam acompanhados de suas respectivas GTAs.

Portanto, não me faz sentido ter que refazer o que já nos é exigido por lei, sem que com isso resultem ganhos palpáveis. Parece-me que os criadores dessa norma não têm familiaridade com as exigências básicas da pecuária nacional, desconhecem a existência ou as funções da GTA, e por isso exigem algo que no frigir dos ovos é a mesma coisa. Caso existam motivos que transcendam meu conhecimento no assunto, e que suportem a necessidade de tal exigência, gostaria que me fossem apresentados.

Somente para fins didáticos, imaginem uma propriedade localizada a 100 km ou 200 km do escritório de defesa sanitária de sua região. Obviamente nessa situação, por questões logísticas, as Notas Fiscais (NF) e GTAs podem não ser emitidas pelo proprietário ou pelos encarregados da propriedade, mas sim por algum representante (sindicatos rurais, escritórios de contabilidade, etc.), para depois serem enviadas à propriedade.

Nesse caso, para que os comunicados em questão possam ser assinados pela defesa pecuária, é necessário que o livro de rastreabilidade esteja em posse desses representantes, o que geraria uma não-conformidade com o SISBOV, visto que o livro NUNCA pode sair da propriedade. Deparamos-nos, portanto, com uma situação não só redundante, como também contraditória: a solução de uma não conformidade geraria outra.

Outra novidade do SISBOV exige que, nas auditorias semestrais, o checklist padrão seja verificado não só pelo representante da certificadora, o que não deixa de ser correto e justo, como também por um representante do ministério. E o mais interessante é que as duas verificações ocorrem em separado e em datas distintas. Na verdade, o representante do ministério só visita a propriedade caso o representante da certificadora a aprove na primeira auditoria.

Conceitualmente, as entidades certificadoras são, em sua essência, representantes habilitadas do ministério para fins de rastreabilidade. Nesse caso, o resultado de suas auditorias deveria ser imediatamente aprovado pelo ministério, como é no caso dos alimentos orgânicos e dos produtos florestais, por exemplo.

A entidade internacional de certificação orgânica, IFOAM, delibera poderes a certificadoras nacionais para que realizem seu trabalho em escala local. Ela não repete essa fiscalização toda vez que as certificadoras nacionais terminam uma auditoria. Afinal, isso seria redundante, irracional e não justificaria a necessidade de representantes locais. O mesmo ocorre com a certificação florestal: o FSC nomeia representantes nos países em que atua para realizar as auditorias e fiscalizações necessárias nas empresas que almejam a obtenção do seu selo. E notem que estamos citando dois exemplos mundialmente reconhecidos e altamente respeitados, inclusive nos mercados mais exigentes como a Europa.

Auditorias realizadas pelo ministério deveriam ter função de fiscalizar as certificadoras, e não os produtores. Auditorias amostrais em, por exemplo, 15% das auditorias realizadas pela certificadora poderiam diagnosticar a qualidade de seus serviços. Na ocorrência de divergências entre ministério e certificadora, esta receberia uma não conformidade, da mesma forma como ocorre com os proprietários. A auditoria de 100 % das propriedades rurais aprovadas SISBOV por parte do ministério não justifica a existência de certificadoras. Tudo poderia ser feito diretamente pelo ministério.

Posso ser uma voz destoante dentro do cenário pecuário nacional, mas na minha opinião a passividade dos produtores rurais, bem como das entidades que os representam na discussão desses temas, são as causas das redundâncias e exigências sem sentido que somos obrigados a nos deparar diariamente.

Fazemos parte de um mercado altamente competitivo e dinâmico, onde a diferença entre resultados econômicos positivos e negativos se decide muitas vezes nos detalhes. Por esse motivo, necessitamos de modelos gerenciais e de rastreabilidade dinâmicos, simples e ao mesmo tempo eficientes. O principal negócio do pecuarista é a produção animal, enquanto que a rastreabilidade é apenas um apêndice desse processo. É necessário, portanto, que as energias, tempo e recursos destinados à rastreabilidade sejam compatíveis com as de um apêndice, ou seja, menores do que os gastos com a pecuária em si.

Modelos simples não são sinônimos de modelos pouco eficientes ou pouco detalhados. A simples eliminação de exigências redundantes e que não agregam valor ao sistema melhorariam e muito o gerenciamento da rastreabilidade, sem que no entanto fosse notado algum prejuízo. Sistemas mais simples melhoram sua capacidade de plena execução pelos produtores.

Em muitas vezes as autoridades do setor estão atentas demais às reivindicações dos mercados compradores, e se esquecem de consultar, ou pelo menos ouvir os anseios da classe produtora. Somos elos de uma mesma cadeia, onde não vivemos sem compradores, e os compradores não vivem sem produtos. Nesse cenário, medidas unilaterais são as menos acertadas. Se não estamos sendo ouvidos, façamo-nos ouvir.

Sugiro que esse manifesto sirva de pontapé inicial para iniciarmos debate sobre os moldes do sistema de rastreabilidade bovina em uso. Quais suas vantagens e limitações? Qual o propósito de suas exigências? Os nossos deveres estão compatíveis com nossos direitos? As entidades que nos cobram oferecem serviços à altura dessas cobranças? E o Ministério, cobra das entidades certificadoras da mesma forma que nos cobra?

Sugiro uma consulta sobre a possibilidade de se invalidar juridicamente a necessidade de execução de exigências redundantes, como por exemplo as apresentadas nesse texto. Acredito que uma liminar ou mandato de segurança a favor dos pecuaristas tenha maior repercussão do que uma carta ou abaixo assinado. Fico ansioso por novas sugestões e opiniões sobre o assunto.

0 Comments

  1. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel José, gostei muito do seu artigo que é um grito de socorro de alguém que quer trabalhar direito, mas é impedido pelos desvios de dados e de atitudes dos certificadores e do MAPA.

    Falou se em SISBOV, certificadores internacionais e nacionais, no MAPA, nos compradores, mas como quase sempre, os frigorificos nem sequer são citados uma única vez. Porque será?

    Quem devia ser o primeiro a exigir um funcionamento perfeito e praticamente viavél da rastreabilidade são sem dúvida nenhuma os frigorificos exportadores.

    Quem devia fazer em primeiro lugar auditorias nas fazendas de fornecedores e nos certificadores são os frigorificos.

    Vamos verticalizar a cadeia, vamos criar fidelidade entre produtores e frigorificos/industrias. Nem o Governo e nem os certificadores vão comprar o gado para abater, processar e vender a carne e seus derivados.

    Vamos voltar a colocar os responsabilidades nas mãos de produtores e industrias onde o Governo normatize e fiscalize o que foi sacramentado.

    Controle de qualidade dos frigorificos não deve começar nos currais das industrias, mas já nas fazendas que fornecem o gado.

    Parabéns pelo artigo.
    Um abraço,
    Louis.

  2. Paulo Cesar Barbosa Vieira disse:

    Boa Tarde!

    Concordo com seus questionamentos sou produtor e para ficar mais atento e por dentro do SISBOV me cadastrei como técnico de uma certificadora. Levamos a rastreabilidade da fazenda de forma extremamente rígida e dentro das normas, mas alguns eventos são realmente de assustar com relação ao MAPA e certificadora.

    Por exemplo recentemente fomos abater alguns amimais em um frigorifico S.I.F, e o frigorífico devolveu os certificados dizendo que os mesmos não estavam cadastrados no SISBOV. Fiquei assustado como isso é possivel se verifico e atualizo constantemente os animais e eles estavam no sistema!

    Bom, liguei na certificadora e depois de um vai e vem de informação veio a constatação por um erro da certificadora, naquela semana em torno de 500 animais foram desligados do ministério. Solução re-brincagem! Parece piada, mas foi verdade.

    Cheguei a ligar no MAPA pedindo auditoria deles se fosse necessário para inserir novamente os animais desligados por culpa da certificadora, e a resposta foi a seguinte não pode ser feito e se alguns dos nossos fiscais for a sua propriedade ela será desligada do sistema por inconformidade já que apresenta animais brincados com brincos que foram desligados.

    Resultado passar toda a fazenda no curral com urgência inclusive animais prontos para abate para localizar números desligados e substituir por brincos novos!

    Quanto a necessidade das U.V.L assinarem a 3° via das planilhas e a 1° ser entregue para eles é real desde quando o sistema passou para o ERAS, na verdade as U.V.L nem sabem o que fazer com as planilhas e foi difícil convencer o pessoal a recebe-las e assinarem a 3° via no inicio.

    Outra coisa ilógica, mas que o MAPA exige a partir de agora é a copia das GTAs no livro de campo, eles não aceitam extratos, mesmo os emitidos pela UVL que são aceitos ate pelos bancos para liberarem financiamentos.

    A 2° vistoria, esta realizada por um técnico do MAPA foi exigida pela U.E, pois foram encontradas inconformidades em muitas propriedades ERAS vistoriadas pela veterinária chefe da U.E no Brasil, então todas as fazendas que requisitarem entrada na lista a U.E terão que passar por uma 2° vistoria do MAPA que promete ser rígida tanto para produtor como certificadora. Mas pelo que foi passado posteriormente os técnicos de campo que passarem no crivo do MAPA na fase das primeiras vistorias terão suas propriedades liberadas sem a 2° vistoria do MAPA o que realmente acho interessante, pois limpará os “inspetores” que só assinavam sem verificar nada.

    Outra dor de cabeça referente ao sistema e quanto a “era” dos animais. Por exemplo as UVL realizam a mudança de “era” no fim do ano e pega o lote todo de 12-24 e joga para 24-36, no sisbov as “eras” mudam todos os dias, já que esta cadastrado o nascimento, como é possível fazer UVL e SISBOV baterem as “eras”?

    O sistema ficou extremamente burocrático e impraticável em certas propriedades isso por culpa única e exclusivamente do governo que aceita de boca abaixo tudo que a U.E quer sem questionar. A U.E já sinalizou possibilidade de voltar a comprar até mesmo do Paraguai, eles tem SISBOV?

  3. Eduardo Miori disse:

    Infelizmente, meu caro Miguel Menezes, sua análise está rigorosamente correta.

    O SISBOV foi mal projetado, as certificadoras cometem erros constantes, o MAPA só atrapalha e não há o menor vislumbre de vantagens comerciais para quem adota o sistama.

    E a coisa tem piorado muito com novas exigências sem propósito para aumentar a sensação de total absurdo a que estamos submetidos.

    Na minha região tenho notícia de que profissionais que fariam a certificação, após serem submetidos a treinamento, desistiram de sequer começar o trabalho por considerarem totalmente inviável a aplicação das regras do SISBOV.

    Se a coisa continuar assim o SISBOV desaparece por falta de participantes. E o interessante é que ninguém parece se importar com isso.

    Desculpe se pareço estar sendo pessimista. A realidade tem sido mais forte que minhas boas intenções.

  4. joemilson guimaraes da conceição disse:

    Parabéns ao Miguel, parabéns à todos os demais comentaristas da carta enviada por Miguel.

    Desde o início do processo Sisbov venho criticando esse sistema, que apenas mudou papéis, criou modelos de formulários distintos para se fazer o que já fazem os produtores há muito tempo. A única diferença é que agora o animal tem um número, uma identidade.

    Concordo plenamente com a identidade, mas não estou de acordo em fazer duplamente ou triplamente o mesmo trabalho que se fazia junto aos órgãos de sanidade animal (em nosso caso, aqui em Minas Gerais, o I.M.A.).

    Em pleno século XXI, com todas as tecnologias disponíveis de rede, internet, intranet e outros mais, é totalmente incompreensível o uso de tantos processos geradores de erros. Leituras de brinco visuais, anotações em inúmeros formulários, sendo que ao identificar o animal, já preenchemos uma planilha e ainda assim é necessário preencher os comunicados com os mesmos números (sujeito a erros, quem duvida?) e avisar o órgão sanitário, avisar o Sisbov, avisar sei lá mais quem.

    Enfim, os intermediários são muitos. Os erros se multiplicam. É incompreensível não haver integração entre Sisbov, Órgão Sanitário, Certificadora e Frigorífico. Se o boi foi para abate, eu já fiz uma GTA, ou seja, já estou comunicando o processo. Após esse boi ser abatido, porque o produtor precisa avisar a certificadora para avisar o Sisbov, para avisar sei lá mais quem, que tal boi foi abatido?

    Ou o frigorífico não presta conta dos animais que são abatidos, bem como os seus respectivos números. Sem esse número como pode-se rastrear esse animal?

    Bom, são tantas coisas inadequadas que daria um tratado de não conformidades por parte do MAPA. Só fico triste de saber que o meu grito e do Miguel e dos demais comentaristas não alcança a inteligência dos “cabeças” da cadeia produtiva de carne bovina.

    Parabéns aos colegas que se indignam com tamanha falta de sobriedade do nosso “País Sisbov”.

    P.S.: tentaremos, mas sem entusiasmo, ser fazenda credenciada para a União Européia. Será que é sonho?

  5. José Leonardo Montes disse:

    Concordo com seus questionamentos, porém discordo com o apreço dos companheiros que dizem que não vislumbram nenhuma rentabilidade, pois trabalho em uma certificadora em Goiás e estamos aprovando fazendas em nossa região e conseguimos um diferencial de R$ 13,50/@, vejo vários entraves no Sisbov, porém vejo também vários problemas em propriedades, pois a maioria estão sem nenhum padrão de organização em produção bovina, por isso a grande dificuldade em implantar o Sisbov, em minha região somente 10% dos pecuaristas estão certos na agência de defesa animal do estado o restante nem sabe qual é seu rebanho na propriedade.

  6. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Por que a certificação da carne tem que ser tão complicada, e a de outras commodities tão mais simples?

    Quem inventou este SISBOV?

    Quem foi o ministro que assinou as portarias que deram inicio ao SISBOV? Que faz hoje, onde está? Sua posição atual ajuda a explicar o empenho na manutenção do status quo?

    Quem era o secretário-geral? Que faz hoje, onde está? Sua posição atual ajuda a explicar o empenho na manutenção do status quo?

    Quem foram os grandes apoiadores do SISBOV? Que fazem hoje, onde estão? Sua posição atual ajuda a explicar o empenho na manutenção do status quo?

    Se a UE não exigia tamanho rigor, por que se resolveu montar um sistema tão complexo?

    Por que se mentiu por tantos anos dizendo que “era exigência dos nossos clientes”?

    Por que este setor do MAPA, que montou o SISBOV e hoje é responsável por seguidas humilhações infligidas a Stephanes, não se rende aos fatos e passa a estudar um sistema mais simples, como exigem os pecuaristas e, felizmente, a Comissão de Agricultura da Câmara Federal?

    Por que os frigoríficos, que tiveram altos lucros com a reserva de mercado que se criou, mas que agora sofrem pesados prejuízos com o fechamento do mercado europeu, não passam a adotar uma posição mais incisiva ao lado dos pecuaristas, seus parceiros na luta pela simplificação do SISBOV?

    As agruras aqui relatadas pelos que tentam manter-se como ERAS são reais, e não tendem a ser compensadas por eventuais sobrepreços, pelo menos enquanto faltar carne no mercado internacional. Ou seja, ao longo dos próximos 5 anos.

    O momento é da classe produtora cerrar fileiras em torno da derrubada do SISBOV, exigindo sua substituição por um sistema factível, inclusivista e amigo – jamais inimigo – do pecuarista de corte.

    SISBOV? Não brinco mais!

  7. Eduardo de Godoy Dias disse:

    Prezado Miguel,

    Devido a irracionalidade de algumas normas impostas pelo “novo” SISBOV, dentre as quais algumas descritas por ti neste artigo, o Sindicato Rural de Dom Pedrito/RS vem a 90 dias manifestando sua inconformidade com tais aberrações normativas elaboradas pelo MAPA.

    Reunimos 20 sindicatos rurais de pecuária de corte, responsáveis por mais de 60% do rebanho bovino de corte gaúcho com o intuito de alertarmos as autoridades, entidades de classe e produtores sobre as dificuldades e o desestímulo que o “novo” SISBOV traria para os interessados em rastreabilidade.

    Tal alerta culmina com o lançamento do Manifesto, apoiado por tais sindicatos com o título: Rastreabilidade: Uma Missão Impossível; que foi envidado via e-mail para mais de 10mil produtores, entidades, autoridades governamentais e afins com o tema. Tivemos ainda, a ida de dois produtores de nosso Sindicato a Brasília para reuniões na CNA e com os deputados identificados com os anseios do setor agropecuário.

    Neste manifesto nos posicionamos a favor a do Projeto-lei 3514/2008 apresentado e já aprovado pela comissão de Agricultura e Pecuária de Câmara dos deputados. Concordamos em certificar as propriedades para o controle sanitário e também identificar os animais direcionados ao abate com brincagem oficial.

    As movimentações serão controladas e auditadas através das GTAS e das Secretarias estaduais de Agric. e Pecuária com seus departamentos de controle de trânsito animal que possuem denominações distintas dependendo do estado, no caso do RS, são as Inspetorias Veterinárias dos municípios.

    Somos a favor da Rastreabilidade de nossos rebanhos, mas de maneira racional, exequível e factível, onde a burocracia dos escritórios com ar-condicionado dos gabinetes enfeitados não seja determinante para o desestímulo dos produtores e a consequente descrença no sistema de Rastreabilidade do País.

    Um Abraço a todos!

  8. Luiz Alfredo Fontes de Salles Graça disse:

    Parabéns, Dr. Miguel.

    O seu artigo é muito claro e correto. Me atrevo a dizer que, o SISBOV, como está, é uma piada muito desagradável. Creio que essa rastreabilidade, se não for reformulada e tornada exeqüível, com urgência, tende a morrer. Não tem futuro.

  9. Cláudio José Fonseca Borges disse:

    A questão é a seguinte:

    Quem precisa do SISBOV?

    Os pecuaristas Brasileiros?
    Os exportadores?

    Os Europeus, para justificarem para aos loucos dos irlandeses e demais pecuaristas subsidiados que não tem jeito…o melhor, mais saudável e barato boi é o brasileiro?

    Desde que a Europa embargou o boi brasileiro as cotações não param de subir. Obviamente tem demanda e falta oferta até para voltar a atender a Europa.

    A necessidade de reduzir a inflação e aplacar a ira do consumidor Europeu fará com que os absurdos sejam revistos e as flexibilidades voltam serelepes e sem vergonhas.

    Questão de pouco tempo, a chapa está esquentando para o lado de quem tem que resolver os problemas da bolha das commodities em especial o petróleo.

    Vão comprar o alcool, o boi, o milho, a soja etc. do Brasil e de outros produtores que não tem subsídios, mas são barbaramente competitivos como nós!

    Vão diminuir até acabar os subsídios e a inflação baixa, e a crise de alimentos, e o choque inflacionário perdem a força, e a hipocrisia dos subsidiadores é exposta e colocada em cheque.

    E o Brasil que já é competitivo se tornará auto-suficiente em petróleo e seus derivados, a exemplo do gás, industrializará seus próprios insumos/adubos e se tonará verdadeiramente o celeiro do mundo.

    Esse é o medo dos europeus e demais agropecuaristas mundo afora, que não estão preparados para essas verdades inconvenientes.

  10. Pablo Riet Correa disse:

    Miguel, o senhor tem toda razão. Para que certificadoras se o ministério vai fazer o mesmo trabalho que elas? Fora a burocracia para tirar alguma duvida com alguém destas empresas, estas protocolarem as vias que ficam no livro, e ainda exigindo que se repitam todos os dados que tem no GTA.

    Eu sou médico veterinário autônomo, presto serviços para uma delas e já estou perdendo a paciência também.

  11. Evaldo Antonio Lencioni Titto disse:

    Meus Prezados,

    Vocês não imaginam o que nossa produção incomoda a UE. Estou conduzindo pesquisas com bovinos de corte em Portugal e ligado à Univ. de Évora. Todos os dias ouço alguma inverdade sobre o Brasil e nossos sistemas de produção.

    Eles não conseguem entender como aumentamos a produção e diminuímos a área explorada. Também são mais propensos a acreditar que os irlandeses têm razão em suspeitar que usamos hormônios e outros recursos proibidos.

    Não conseguem imaginar a vida deles sem os subsídios e ajudas, que acabarão até 2015, como já anunciado.

    Também não são sérios em rastrear nenhuma espécie, animal ou vegetal, tanto que o sistema de identificação animal é muito pior e mais fraudado que nos vários confins brasiileiros.

    Toda a cadeia produtiva aqui é objeto de fraude, visando as ajudas governamentais. Relamente o que exigem do Brasil é “para inglês ver”, como dizia meu avô.

    Abraços.

  12. ABIO JUNQUEIRA disse:

    PARABÉNS PELO TEXTO VC DISSE TUDO,EU TENHO BOIS A 7 KM DO CURRAL NAO POSSO DAR AO LUXO DE FICAR FECHANDO-OS PARA 2 VISTORIAS DE 6 EM 6 MESES ATÉ AGORA CUMPRI COM AS NORMAS MAS ESTOU DESANIMADO COM O SISBOV.

  13. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Cumprimentos ao prof. Lencioni Titto pelo importante depoimento.

    Cada vez mais me convenço de que o SISBOV em seu modelo atual é indefensável. Pelo menos se o intuito for promover a produção pecuária, e não a sobrevivência de interesses periféricos.

  14. Airto Madruga da Silva disse:

    Parabéns Miguel pelo texto acima, isso que você relata é exatamente o que está acontecendo comigo, pois, quem tira o GTA de minha propriedade é o Escritório de Contabilidade que fica a 150 km da propriedade, e quem dá a baixa na Certificadora e prepara o inverso do GTA ao Órgão de sanidade com o comunidado de saída ou de entrada, sou eu.

    Encurtando, cada vez que se faz uma movimentação na fazenda (entrada ou saída de animais) é uma loucura para entregar esses documentos no Órgão de Sanidade dentro do prazo (30 dias). Por vezes o frigorífico fica em uma região totalmente distinta de onde fica o órgão de sanidade e ou (no meu caso) o escritório de contabilidade, e aí até receber os documentos para preencher corretamente o formulário, é uma loucura.

    O SISBOV é irracional, quem o inventou e quem o aprovou não conhecem o Brasil pecuária, portanto, tem que haver mudanças nesse processo, e, essas mudanças só serão possíveis se a cadeia produtiva for consultada, caso contrário, farão uma aberração maior ainda.

    Abraços

  15. Alda Lais Tonelli Facio disse:

    Saudações Dr Miguel!

    Que bela síntese sobre o assunto que tem me intrigado, não vejo consistência no sistema. Estamos sendo mais penalizados do que beneficiados, isso vai levar a algum lugar?

    Na falta do produto nem se exige rastreabilidade, muito menos oferecem diferencial no valor da arroba.
    Espero que nós pecuaristas consigamos nos organizar para manifestarmos nossas dificuldades e opiniões sobre o tema.

    Parabéns às demais opiniões.

    Abraços.

  16. Francisco de Sales Resende Carvalho disse:

    Vejam bem o SISBOV é um método de certificaçào criado para atender um com prador em potencial que é a U.E. sendo assim o mesmo não é obrigatório faz o produtor que tiver maior controle em sua propriedade.No Brasil so 10% dos pecuaristas tem dominio sobre a sua empresa o restante tem dificuldade em gerenciar o negócio,acho que esses fatores estão relacionados com a nossa cultura e conhecimento. Os agricultores estão muito mais preparada para esses métodos e tecnologias.