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Rebanho brasileiro… é muito gado

Em 2003, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro alcançou 195,55 milhões de cabeças, aumento de 5,5% sobre as 185,35 milhões de cabeças de 2002. É o maior rebanho comercial do mundo, atrás apenas do indiano, que soma 226,10 milhões de cabeças, mas que não tem aptidão comercial.

Em 2003, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro alcançou 195,55 milhões de cabeças, aumento de 5,5% sobre as 185,35 milhões de cabeças de 2002. É o maior rebanho comercial do mundo, atrás apenas do indiano, que soma 226,10 milhões de cabeças, mas que não tem aptidão comercial. Os levantamentos do IBGE baseiam-se nos resultados das campanhas de vacinação contra febre aftosa.

O mundo tem, de acordo com a FAO (órgão das Nações Unidas responsável por questões relacionadas à agricultura e alimentação), cerca de 1,22 bilhão de cabeças bovinas. Portanto, aproximadamente 16% disso tudo está em pastagens brasileiras.

O rebanho bovino brasileiro responde ainda por quase 61% de todo gado da América do Sul, cerca de 322,79 milhões de cabeças. Em valores absolutos, de 2002 para 2003 o Brasil produziu mais 10,20 milhões de cabeças bovinas, quase um rebanho uruguaio, de 11,70 milhões de cabeças, ou o dobro do rebanho peruano, de aproximadamente 5 milhões de cabeças.

A taxa média de crescimento do rebanho brasileiro, nos últimos 5 anos (1998 a 2003), foi de 3,3%. Nesse período foram contabilizadas mais 32,40 milhões de cabeças. É como se todo o rebanho australiano, de 27,22 milhões de cabeças, tivesse sido colocado no país, com folga. Lembrando que a Austrália é o segundo maior exportador de carne bovina do mundo, atrás, justamente, do Brasil.

Veja na tabela 1 os 15 maiores rebanhos estaduais em 2003 e suas respectivas variações em relação ao ano anterior. Eles representam, juntos, 93,6% do total do rebanho bovino brasileiro.


Mato Grosso do Sul ainda é o Estado com o maior rebanho, contudo, pode-se considerar que em 2003 houve um empate técnico com o Mato Grosso. Dentre os 15 maiores, o crescimento mais expressivo se deu em Rondônia, 17%. Não houve recuos. Aliás, considerando todos os Estados mais o Distrito Federal, somente os rebanhos do Amapá, Distrito Federal e Pernambuco diminuíram: -3%, -1% e -1% respectivamente.

Em geral, de 2002 para 2003, os 5 maiores aumentos de rebanho foram registrados no Amazonas (25%), Rondônia (17%), Maranhão (15%), Mato Grosso (11%), Tocantins e Pará, ambos com 10%. Todos Estados da região Norte, com exceção do Mato Grosso, que fica no Centro-Oeste. Veja na tabela 2 a distribuição do rebanho bovino brasileiro em 2003 com base nas regiões geográficas.


A participação da região Norte aumentou 2 pontos porcentuais desde 2001. Cresceu em cima da retração de 1 ponto porcentual das participações das regiões Sul e Sudeste. A participação do Centro-Oeste, no mesmo período, aumentou 1 ponto porcentual, e a do Nordeste ficou estável.

Com relação às mesorregiões brasileiras, os rebanhos das 20 maiores estão dispostos na tabela 3, bem como a variação de cada um em relação a 2002.


O Norte do Mato Grosso é o maior pólo de criação de gado do país, registrando também um dos maiores crescimentos de rebanho em relação a 2002. Se fosse um Estado, estaria em 11o lugar, à frente, por exemplo, de Tocantins, Maranhão e Santa Catarina.

Houve retração do rebanho no Noroeste do Rio Grande do Sul, na região Central e no Sul de Goiás. Tomando como base todas as mesorregiões brasileiras, o maior crescimento foi observado no Sul do Amazonas, que não faz parte das 20 maiores. Lá, o rebanho literalmente dobrou de 2002 para 2003.

Algumas conclusões podem ser tiradas com base nos dados apresentados. Primeiro, é que tem muito gado no Brasil, muito mesmo. Lembrando que a nossa taxa de lotação média está próxima de 0,8 U.A./ha (sendo que 1 U.A. = 450 kg de peso vivo) e que existem cerca de 90 milhões de hectares ociosos passíveis de serem explorados. Portanto, o potencial de crescimento do rebanho nacional ainda é imenso, tanto em área quanto em aplicação de tecnologia. Praticamente não existe risco de desabastecimento, mesmo diante de um cenário de aumento da demanda por carne bovina dentro e fora do país.

A competição com a agricultura – que, de 2001 para 2003, de acordo com estimativas da Scot Consultoria, tomou quase 5 milhões de hectares de pastagens – tem levado à intensificação da produção. O crescimento da venda de suplementos e o aumento do número de cabeças confinadas e semi-confinadas no período reforçam essa observação. Também fica claro que existe uma migração de parte dos rebanhos do Sul e Sudeste para o Norte, à “caça” de terras mais baratas, que proporcionem um aumento menos custoso da escala de produção. Ainda que esse movimento não seja tão acentuado quanto se podia pensar.

O crescimento vigoroso dos rebanhos do Norte não é acompanhado por retrações nas mesmas proporções nas demais regiões. Ou seja, a maior parte desse gado contabilizado em 2003 tem que ter nascido por lá mesmo. Nesse sentido, é preciso avaliar a confiabilidade das informações. Quando se tem crescimentos acima de 100% em 1, 2 ou até 3 anos, fica difícil acreditar na veracidade das informações. Muito possivelmente a intensificação das campanhas de vacinação contra febre aftosa fez “surgir” animais antes não contabilizados.

Vale lembrar que este ano a expectativa é que sejam comercializadas 340 milhões de doses de vacina, aumento de 3,7% sobre 2003. O fato pode mascarar uma possível retração do rebanho, esperada em função do aumento do abate de matrizes.

Por fim, se por um lado o Brasil é grande, assusta e incomoda os concorrentes internacionais, peca e se mostra imaturo sobre vários aspectos. Os Estados Unidos, por exemplo, com um rebanho 50% inferior ao do Brasil, abate praticamente o mesmo número de cabeças por ano (algo em torno de 38 milhões) e produz 67,4% mais carne (12,22 milhões de toneladas equivalente carcaça em 2003 contra 7,3 do Brasil), pois lá os animais morrem mais pesados.

A Austrália, com 7 vezes menos gado, exporta só 150 a 200 mil toneladas equivalente carcaça a menos, e fatura quase o triplo do que o Brasil.

Foram várias as conquistas dos últimos anos, mas ainda é preciso trabalhar com afinco, para que toda essa fartura de água, terra, capim, luz, gado, mão-de-obra e vontade de produzir carreguem definitivamente a pecuária bovina brasileira rumo a um crescimento qualitativo e sustentável.

Que o Brasil continue como número 1 em volume exportado e em rebanho comercial, que permaneça entre os maiores produtores, sustentando um dos maiores índices de crescimento, mas que passe também à cabeceira dos que produzem com profissionalismo, eficiência e qualidade, conquistando os mercados mais exigentes e os melhores resultados econômicos.

Nota: Ainda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro em áreas livres de febre aftosa chega a 154,58 milhões de cabeças. É o maior do mundo.

Os Estados considerados livres de febre aftosa pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) são: Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, mais o Distrito Federal.

Acre e Sul do Pará pleiteiam tal status. Se o alcançassem, o rebanho brasileiro livre de febre aftosa chegaria a 166,36 milhões de cabeças. Somente o Sul do Pará tem quase 10 milhões de bovinos. O Acre contribui com um rebanho de cerca de 1,88 milhão de cabeças.

2 Comments

  1. Hugo Antonio Varela Santos disse:

    Em outra carta comento a respeito do preço da arroba e ainda não havia lido o presente artigo.

    N carta anterior eu afirmava que o preço baixo da arroba deveria ter como vetor importante o aspecto oferta x demanda.

    Os dados do IBGE demonstram isto… Mesmo com baixa eficáacia administrativa e gerencial o número de cabeças de gado continua aumentando com um índice muito superior ao índice de consumo per capita no mercado interno… E como ressalta o colunista, nossa exportação não corresponde ao que deveria ser…

    Exportar nao é tão fácil assim, demanda tempo, qualificação e vários outros fatores…

    O mercado interno é que deve ser um ponto central de consumo, está relativamente estagnado ou reduzindo por motivos de diminuição de renda per capita…

    Portanto acho que muitos de pecuaristas abandonarão o segmento sem que haja menos carne porque haverá uma melhora na capacitação daqueles que vão ficando…

    Não quero ser muito longo e por isto vou ficando por aqui, lamentando contudo, a falta de coesão de uma grande parte de invernistas que não sabe valorizar o produto e se apressem a sair vendendo em momentos de negociação da cadeia.

    Grato

  2. José Luiz Martins Costa Kessler disse:

    Parabéns Fabiano!

    Seu artigo publicado em dezembro de 2004 está excelente. Os dados e conceitos foram apresentados de forma muito interessante e seu valor informativo permanece consistente, mesmo tendo passado um bom tempo.

    Forte abraço,
    Eng.Agr. José Luiz Martins Costa Kessler