Com base na evolução dos preços agrícolas do início de 2003 a novembro de 2004, observa-se que a pecuária brasileira sofreu com o aumento das cotações dos insumos e do preço da terra, que superaram, na grande maioria das vezes, a “valorização” do boi gordo e dos animais de reposição (tabela 1).
Tabela 1. Variação nominal de preços médios do início de 2003 ao final de 2004 em São Paulo
No que ganhou e no que perdeu o produtor? O que primeiro salta aos olhos é que os criadores não ganharam em nada. Não bastasse o ciclo de baixa dos preços do bezerro, os custos de produção subiram consideravelmente, acompanhando o aumento dos preços dos insumos. Explica-se assim, o aumento do volume de abate de matrizes nos últimos dois anos.
Para o confinador, houve um impacto positivo sobre os custos da dieta. O poder de compra para a aquisição dos principais concentrados utilizados em rações de engorda intensiva aumentou, conforme pode ser observado na figura 1.
Safras recordes e a queda dos preços dos grãos e seus subprodutos no mercado internacional baratearam os preços das rações este ano. Contudo, é o boi magro o principal componente de custo no confinamento, respondendo por cerca de 70% do desembolso total. E, ao contrário do que aconteceu com os concentrados, a relação de troca para a aquisição de bois magros piorou para o invernista, conforme pode ser observado na figura 2.
Por outro lado, quem faz a recria (compra bezerro e vende boi magro), ou a recria e engorda (compra o bezerro e vende boi gordo), foi agraciado com um bom ano para a compra de bezerro, o maior componente do custo de produção: 55% a 65% do total. Na verdade, foram as melhores relações de troca dos últimos anos (figura 3)
Aproveitando o bom momento para a aquisição dos bezerros, recriadores e invernistas podem investir no aumento do plantel. Contudo, devem se preparar para um aumento significativo nos gastos com insumos, com destaque para os fertilizantes.
Veja na figura 4 a evolução das relações de troca para a aquisição de uréia. Além de ser o fertilizante nitrogenado mais utilizado pelos produtores, a uréia é também um componente freqüente em suplementos disponibilizados aos animais durante o período seco.
Em síntese, de 2003 para 2004 observou-se, com raras exceções, um forte aumento nos preços dos insumos agrícolas, levando à redução do poder de compra do produtor. Para quem se dedica à recria, ou à recria e engorda, a retração dos preços dos bezerros reduziu a pressão sobre os custos, porém, o processo de intensificação exige planejamento, já que a demanda por insumos, cuja a aquisição está custosa, aumenta significativamente.
Para os criadores, o período foi muito ruim. Insumos em alta e bezerro em baixa, sem possibilidade de compartilhar os maus resultados com algum outro elo da cadeia. Não é para menos que se observou, nos últimos 2 anos, um forte movimento de venda de matrizes. Contudo, a tendência é que a oferta de bezerros recue significativamente em 2005 e 2006, levando à recuperação dos preços.