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Relações entre obesidade, deficiência de ferro e cognição

Continuam surgindo evidências que demonstram que a deficiência de ferro é mais prevalente em pessoas obesas. Isso pode prejudicar tentativas de cumprir com diretrizes de dieta e atividade física e consolidação de mudanças comportamentais requeridas para a perda de peso? Mais pesquisas são necessárias antes de se poder responder a essa pergunta, mas já existem implicações para os hábitos diários.

Continuam surgindo evidências que demonstram que a deficiência de ferro é mais prevalente em pessoas obesas. Isso pode prejudicar tentativas de cumprir com diretrizes de dieta e atividade física e consolidação de mudanças comportamentais requeridas para a perda de peso? Mais pesquisas são necessárias antes de se poder responder a essa pergunta, mas já existem implicações para os hábitos diários.

Obesidade e deficiência de ferro

Evidências emergentes sugerem que a deficiência de ferro é mais prevalente em obesos (1). “Uma série de trabalhos científicos anteriores reportou uma maior prevalência de deficiência de ferro em indivíduos obesos, mas essas descobertas foram muito ignoradas e frequentemente consideradas como resultado de uma ingestão dietética baixa”, disse a nutricionista e professora acadêmica da Universidade de Sydney, na Austrália, Helen O’Connor. Ela está envolvida em um estudo chamado WOW (Weight loss for Overweight Women – Perda de Peso para Mulheres com Sobrepeso). “Tem havido uma elevação no número de estudos examinando a deficiência de ferro em populações obesas desde 2006, incluindo dados do NHANES (Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos) em crianças e adolescentes (2) e adultos (3). Esses estudos suportam a maior prevalência de deficiência de ferro na obesidade. Quando primeiramente recrutamos para o estudo WOW em 2005, tivemos um número desproporcional de mulheres jovens apresentando deficiência de ferro. Inicialmente, nossa equipe de pesquisa pensou que isso ocorria pela baixa ingestão na dieta. À medida que nosso estudo progrediu, surgiram mais trabalhos científicos sobre deficiência de ferro na obesidade que apoiaram nossas observações clínicas”.

O mecanismo por trás da ligação da obesidade e deficiência de ferro não está confirmado, mas existem várias possibilidades. A baixa ingestão de ferro na dieta pode ser um fator que contribui para isso e é especialmente verdadeiro para as pessoas que consomem dietas com baixa densidade de nutrientes ou aquelas que seguem dietas com redução de energia, mas não balanceadas (4). A obtenção de ferro suficiente em dietas com restrição de calorias é um desafio, especialmente para mulheres jovens que têm maiores requerimentos de ferro para cobrir as perdas menstruais (5). Os requerimentos de ferro também podem ser maiores em pessoas com sobrepeso/obesidade devido ao maior volume de sangue (1). Provavelmente, a descoberta mais recente e significante é que a inflamação, uma resposta associada ao excesso de peso, reduz a absorção de ferro do intestino e também a circulação no sangue (6). A aparente deficiência ocorre mesmo quando a ingestão de ferro pela dieta é adequada (7).

Cognição e fadiga por falta de ferro

Um sintoma comumente reportado da deficiência de ferro é a fadiga. Essas sensações de cansaço e menor energia impactam no bem-estar e na motivação do indivíduo. Patterson e colaboradores encontraram uma associação entre deficiência de ferro e fadiga, que melhorou após a correção da deficiência de ferro (8). No mesmo estudo, a saúde mental e os escores de vitalidade mostraram ser menores em mulheres com deficiência de ferro e isso também melhorou com o tratamento.

Estudos também demonstraram uma associação entre anemia por deficiência de ferro e cognição. A maioria dos estudos foca na criança, onde a anemia tem mostrado atraso no desenvolvimento, prejuízo das funções cognitivas e tem sido associada com problemas comportamentais (9).

Recentemente, o prejuízo nas funções cognitivas também foram mostrados em um estudo com mulheres adultas jovens com deficiência de ferro e anemia por deficiência de ferro (10). O tratamento com suplementos levou a uma melhora de 5-7 vezes no desempenho cognitivo. Da mesma forma, Brunner et al (11) mostrou que garotas adolescentes com deficiência de ferro demonstraram ter prejuízo nas funções cognitivas.

Cognição e obesidade

Existem algumas evidências de um déficit cognitivo em indivíduos obesos com ou sem outras doenças, como pressão sanguínea alta, diabetes e doenças cardiovasculares que podem independentemente prejudicar a cognição, particularmente em idosos (12). Entretanto, um estudo recente e grande (aproximadamente 400 participantes) mostrou que o Índice de Massa Corpórea (IMC), sem outras doenças, estava inversamente relacionado ao desempenho cognitivo em um teste padronizado e validado de cognição (13). Isso também foi mostrado em outro estudo com adultos coreanos (14), mas pesquisas adicionais são requeridas para confirmar essa associação. É interessante notar que a relação entre inflamação e cognição também foi proposta (15,16,17). É possível que a deficiência de ferro, secundária à inflamação, seja mediadora de pelo menos parte desses problemas cognitivos propostos, mas a confirmação disso requererá estudos cuidadosos nos próximos anos.

Círculo vicioso

O grupo de pesquisa de O’Connor planeja explorar essas possíveis relações entre cognição, humor, fadiga, deficiência de ferro e obesidade. “O controle do peso requer esforço substancial do paciente; não se trata de um processo passivo. Energia e motivação são elementos essenciais”. As mudanças que os pacientes precisam fazer para serem bem sucedidos no controle do peso são significantes e incluem exercícios regulares, idealmente diários, compra e preparo de refeições saudáveis. A deficiência de ferro pode comprometer os níveis de energia, motivação e humor e tornar o controle de peso mais difícil podendo até, em último caso, reduzir o sucesso da perda de peso.

Um fator que complica o controle da deficiência de ferro na obesidade é se os suplementos usados para corrigir essa deficiência são efetivos em pessoas obesas. “Observamos reversão da deficiência de ferro em algumas mulheres jovens em nossos estudos – elas não responderam tão bem à suplementação como era esperado”, disse O’Connor. A pesquisadora disse que o não cumprimento do tratamento com a suplementação com ferro pode ser um problema, mas suspeita-se que pode ser menos efetivo no tratamento de deficiência de ferro em pessoas obesas, similarmente ao que acontece em outras condições inflamatórias. Provavelmente, isso acontece devido à menor absorção de ferro e circulação anormal de ferro em resposta à inflamação.

Claramente, mais pesquisas são necessárias. No entanto, é prudente considerar a deficiência de ferro como um risco potencial em indivíduos com sobrepeso/obesidade e incorporar estratégias para perda de peso e otimização da ingestão de ferro.

Referências bibliográficas

1. McClung JP, Karl JP. Iron deficiency and obesity: the contribution of inflammation and diminished iron absorption. Nutr Rev 2008; 67(2): 100-104.

2. Nead KG, Halterman JS, Kaczorowski JM, Auinger P, Weitzman M. Overweight children and adolescents: a risk group for iron deficiency. Pediatrics 2001; 114: 104-108.

3. Ausk JJ, Ioannou GN. Is obesity associated with anaemia of chronic disease? A population-based study. Obesity 2006; 16: 2356-2361.

4. Yanoff LB, Menzie CM, Denkinger B, Sebring NG, Mchugh T, Remaley AT, Yanovski JA. Inflammation and iron deficiency in the hypoferremia of obesity. Int J Obes 2007; 31: 1412-1419.

5. Beard JL. Iron requirements in Adolescent Females. J Nutr 2000; 130: 440S-442S.

6. Zimmerman MB, Zeder C, Muthayya S et al. Adiposity in women and children from transition countries predicts iron absorption, iron deficiency and reduce response to iron fortification. Int J Obes 2008; 32: 1098-1104.

7. Menzie CM, Yanoff LB, Denkinger BI, et al. Obesity related hypoferremia is not explained by differences in reported intake of heme and nonheme iron intake or dietary factors that can affect iron absorption. J Am Diet Assoc 2008; 108: 145-148.

8. Patterson AJ, Brown WJ, Roberts DCK. Dietary supplement and treatment of iron deficiency results in improvements in general health and fatigue in Australian women of child bearing age. Am Coll of Nutr 2001; 20(4): 337-342.

9. Grantham-McGregor S, Ani C. (2001) A review of studies on the effect of iron deficiency on cognitive development in children. J Nutr 131: S649-S66.

10. Muray-Kolb L, Beard JL. Iron treatment normalises cognitive function in young women. Am J Clin Nutr 2007; 85: 778-87.

11. Brunner AB, Joffe A, Duggan AK, Casella JF, Brandt JA. Randomised study of the cognitive effects of iron supplementation in non-anaemic iron deficient adolescent girls. Lancet 1996; 348: 992-9.

12. Convit A. Links between cognitive impairment and insulin resistance: an explanatory model. Neurobiol Aging 2005; 26: (Suppl 1): 31-35.

13. Gunstad J, Paul RH, Cohen RA, Tate DF, Spitznagel MB and Gordon E. (2007). Elevated body mass index is associated with executive dysfunction in otherwise healthy adults.

14. Jeong SK, Nam HS, Son MH, Son EJ, Cho KH. Interactive effect of obesity indexes on cognition. Demet Geriatr Cogn Disord 2005; 19 (2-30): 91-96.

15. Komulianen P, Laaka T A, Kivipelto M, Hassinen M, Helkala E L, Haapala A, Nissinen A, Rauramaa R. Metabolic syndrome and cognitive function: a population based follow-up study in elderly women. Dememt Geriatr Cogn Disord 2007; 23(1): 29-34.

16. Kuo H K, Yen C J, Chang H, Kuo C K, Chen J H, Sorond F. Relations of creactive protein to stroke, cognitive disorders and depression in the general population: systematic review and meta-analysis. Lancet Neurol 2005; 4(6): 371-80.

17. Sweat V, Starr V, Bruehl H, Arentoft A, Tirsi A, Javier E, Conviit A. C-reactive protein is linked to lower cognitive performance in overweight and obese women.Inflammation 2008; (3193): 198-207.

Artigo baseado em uma publicação do Meat and Livestock Australia (MLA) chamada Vital, de 2010. A publicação original pode ser acessada no link: http://www.redmeatandnutrition.com.au/.

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