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Resíduos de cervejaria na nutrição de bovinos de corte

Na bovinocultura de corte, o uso de subprodutos agroindustriais assume papel econômico muito importante, sendo muitas vezes responsável pela viabilidade econômica do sistema. Um dos fatores limitantes ao uso de alguns subprodutos industriais é a sazonalidade na disponibilidade desses resíduos, o que não é observado no caso do resíduo de cervejaria. Nesse caso, o que ocorre é apenas um aumento de produção de resíduos dessa indústria em épocas de festas populares, como o carnaval, natal e ano novo. Há forte ligação da indústria de cerveja com a agricultura, pela necessidade de matérias primas como cevada e lúpulo. Além disso, os resíduos gerados por essa indústria podem ser usados na alimentação de ruminantes, como concentrado protéico a ser introduzido na dieta. Os subprodutos da indústria cervejeira são altamente poluentes, causando sérios problemas se for descartado diretamente no ambiente. Dessa forma, a utilização desses resíduos na alimentação de bovinos, além de promover a redução nos custos de alimentação, soluciona os problemas de poluição ambiental da indústria.

A cevada é uma gramínea utilizada há milhares de anos pelo homem, sendo bastante utilizada como fonte de energia na nutrição de ruminantes em países produtores desse cereal. O Brasil é um grande importador desse grão para utilização nas indústrias cervejeiras. O resíduo de cervejaria pode se apresentar na forma de resíduo úmido, resíduo prensado, resíduo seco e levedura de cerveja. A composição dessas três formas é apresentada na tabela 1.


Os resíduos de cervejaria poderão apresentar pequenas alterações na sua composição química, dependendo do processo de utilizado para obtenção da cerveja, havendo portanto a possibilidade de variações de composição entre resíduos de diferentes indústrias. Os teores de matéria seca das diferentes apresentações do resíduo são bastante variáveis, devendo ser avaliado cuidadosamente o custo de cada nutriente em cada caso. Segundo Davis et al. (1983), a inclusão de resíduo de cervejaria úmido inibiu a ingestão de matéria seca, quando o nível de inclusão chegou a 40% da dieta total. Porém, outros trabalhos da literatura mostram resultados contrários a esse.

Já para o resíduo seco, não foram observadas reduções na ingestão devido a inclusão desse subproduto. Ë importante que na avaliação da utilização de resíduo úmido ou seco, seja levado em consideração também o manejo de cocho utilizado na propriedade, pois a maior umidade da ração favorece a ocorrência de fermentação desses alimentos.

A proteína encontrada nos resíduo de cervejaria apresenta aproximadamente 45% de proteína “by-pass”, passando pela degradação ruminal e sendo absorvida no intestino. Essa característica pode ser explicada, pois durante o processo de fermentação para produção de cerveja ocorre degradação da porção mais degradável da proteína, permanecendo a menos degradável. A menor degradabilidade ruminal pode ser útil para a utilização dessas fontes combinadas a fontes de nitrogênio não protéico, como a uréia, por exemplo. Essa combinação permite otimização do fornecimento de nitrogênio para o crescimento microbiano, e para o animal, não gerando deficiência de nitrogênio ruminal devido a menor degradação ruminal da proteína.

A inclusão do resíduo tanto seco, quanto úmido, pode substituir até 100% do milho da dieta sem haver prejuízos no ganho de peso dos animais. Adyanju (1978) substituiu 100% do milho da dieta, por 90% de resíduo de cervejaria e 10% de melaço, não havendo diferença no ganho de peso, porém havendo diminuição do custo por kg do ganho.

A utilização de resíduos de cervejaria na bovinocultura de corte tem grande potencial, pois pode levar a queda significativa dos custos de alimentação, sem haver quedas nos índices produtivos.

Referências bibliográficas

ADYANJU, S.A. Replecent value of cane molasses for maize in dry season based on dried for beef cattle. Trop. Anim. Prod., v. 3, n. 2, p. 135-147, 1978.

DAVIS, C.L.; GRENAWALT, D.A.; MCCOY, G.C. Feeding value of pressed brewers grains for lactating cows. J. Dairy Sci., v. 66, n. 1, p. 73-79, 1983.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – Nutrients Requeriments of Dairy Cattle. Washington: National Academic Press. ed. 6, p. 17, 1988.

16 Comments

  1. Adalberto Rossigalli disse:

    Dr André,

    Parabéns pelo excelente artigo.

    Gostaria de saber se o senhor conhece e tem endereço, de algumas empresas que secam a cevada das cervejarias antes do fornecimento.

    Desde já, muito obrigado.

    Adalberto Rossigalli

    Resposta do autor:

    Prezado Adalberto,

    As empresas que fazem as vendas desse subproduto têm contratos de 10-20 anos com as empresas cervejeiras. Depois da “nova” administração das cervejarias em “grupos” não sei como ocorrem os negócios, porém grande parte dessa matéria prima é exportada. Entre em contato com a Brahma (Ambev) Rio de Janeiro que poderão te passar informações mais precisas.

    Forte abraço.

    André Alves de Souza

  2. Marcelo M. Malamud disse:

    Dr. André,

    Minha propriedade fica localizada a 10Km de uma industria cervejeira portanto tenho facilidade e baixo custo de transporte, não necessitando o armazenamento do resíduo por longos períodos. Neste caso, qual seria a melhor (ou maior) proporção a utilizar na dieta de animais terminados em confinamento, partindo do princípio que o custo deste resíduo instalado em minha propriedade é inferior a qualquer tipo de alimento? E que tipo de volumoso é mais indicado para a combinação com este resíduo?

    Obrigado,

    Marcelo M. Malamud

  3. André Alves de Souza disse:

    Prezado Marcelo Malamud,

    Bom, o resíduo de cervejaria é um ótimo ingrediente para nutrição animal, apresentando nas formas úmida e seca. No caso das formas úmidas, deve-se tomar cuidado pelo fato desse resíduo ser bastante variável em relação às quantidades de carboidratos no início e final de saída dos tanques de fermentação na indústria, podendo causar distúrbios metabólicos nos bovinos. Já o resíduo na forma seca (homogênea) a inclusão pode ser feita normalmente, dependendo dos demais ingredietes da dieta e do nível de produção empregado.

    Forte abraço.

  4. Rafael Eduardo M. Gregorio disse:

    Olá Dr André,

    Sou estudante de Zootecnia, estou realiizando um trabalho de consultoria, e gostare saber se você pderia me informa os custos atual desses resíduos.

    Desde já muito obrigado!

  5. ALEXSANDER TONIAZZO DE MATOS disse:

    Bom dia Dr. André
    Gostaria de saber se o Sr. tem algum trabalho com residuo de cervajaria na produção de leite…

    Desde já fica aqui o meu muito obrigado…

  6. Airton Fauth disse:

    Dr. André,
    Gostaria de saber se o levedo de cerveja é abortivo e se é incompativel com vacas de leite? Soube que não se deve usar a levedura em vacas de leite em produção.
    Grato.
    Airton

  7. André Alves de Souza disse:

    Prezado Airton,
    Primeiramente é importante que vc verifique exatamente qual resíduo em questão. O resíduo de cervejaria úmido tem uma grande variação em sua composição, com grandes mudanças no teor de energia, podendo levar a acidoses. Já o resíduo seco é homogeinizado e não deve variar sua composição. Não conheço nenhum efeito abortivo direto do uso de leveduras para vacas de leite em produção, sendo um excelente ingrediente para dietas.

    Forte abraço.

  8. paulo disse:

    o levedo decervejaria ou fermento serve para alimentaçao de suinos ,qua l a quantidade a ser administrada por dia,pode ser misturado com a cevada umida e farelo de bolachas

  9. Joao marcelo fernandes nogueira disse:

    Eu gostaria de saber qual a quantidade de levedo necessaria para cada vaca de leite ao dia ?

  10. Elisabete A. Sena disse:

    olá
    Gostaria de sabe mas sobre a levedura uma, eu compra bagaço de malte (cevada) em um cerveijaria em Sergipe , e estou muito feliz com o resultado, mas temos poucas informação sobre a levedura umida, o que sei que é muito boa pra gado de corte e porcos ( para engorda é boa ) mas dizem que para as vacas causa acidez no leite, existe algum estudo especifico sobre esse assunto.
    Muito obrigada.

  11. Márcio Carvalhoi disse:

    Boa noite André,
    Amigo, temos uma pequena propriedade no interior da Bahia próximo a uma fabrica de cerveja e estamos querendo iniciar um confinamento com levedura de cerveja liquida e necessitamos das seguintes resposta:
    Qual o consumo diário de um animal (boi) de 400 kg.?
    O gado pode ser alimentado só com a levedura?
    Quanto tempo podemos armazenar a levedura em um reservatório de fibra de vidro lacrado?
    É verdade que o gado pode embebedar?
    Realmente é viável este confinamento?
    Sem mais
    Márcio

  12. André Alves de Souza disse:

    Prezado Paulo,
    O sresíduos de cervejara tem grande concentração de carboidratos solúveis, porém não tenho experiência do uso com monogástricos.

    Forte abraço!

  13. André Alves de Souza disse:

    Prezado João Marcelo,
    As quantidades de resíduo a se fornecer dependerá das características e da formulação total da dieta.

    Grande abraço!

  14. André Alves de Souza disse:

    Prezada Elisabete,
    O resíduo “líquido” das cervejarias tem uma grande variação em sua composição, dependendo do momento da retirada do tanque de fermentação. Por isso, deve-se realizar uma boa homogenização, pois as quantidades de açucares solúveis variam muito podendo levar a distúrbios metabólicos.

    Grande abraço!

  15. Abel Rocha disse:

    Caro André, estou iniciando um confinamento com resíduo de cervejaria, mas lendo os comentários, não notei em momento algum sua instrução em relação a quantidade kg, por cabeça de animal faze inicial, e na fase de acabamento, poderia por favor ser mais especifico para meu entendimento, no que fazer na questão de kg por cabeça?
    PS:Não tenho experiencia no ramo de confinamento.

    att, Abel Rocha

  16. Jorge Luiz Carollo Teixeira disse:

    Gostaria de saber sobre o uso da cevada (grão) como alimento de gado para engorda, já que minha região produz muito cevada.(Guarapuava-Pr)

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