Mercado Físico da Vaca – 07/04/09
7 de abril de 2009
Calagem em pastagens
9 de abril de 2009

Resistência do carrapato bovino a carrapaticidas no Estado de São Paulo

O parasitismo dos bovinos pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus é uma das principais causas de perdas econômicas na pecuária, sendo responsável por prejuízos de 1 bilhão de dólares ao ano na América Latina e 7 bilhões de dólares no mundo, estimado pela FAO em 2004. Os prejuízos são determinados pela diminuição do ganho de peso, da produção de leite, danos no couro provocados pelas picadas, além de transmitirem o protozoário Babesia sp, agente causador do complexo Tristeza Parasitária Bovina, que pode levar à morte. O uso de carrapaticidas é o principal meio de combate da praga há pelo menos 60 anos e, devido à insistente aplicação de drogas, foi inevitável o desenvolvimento de populações de carrapatos resistentes.

O parasitismo dos bovinos pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus é uma das principais causas de perdas econômicas na pecuária, sendo responsável por prejuízos de 1 bilhão de dólares ao ano na América Latina e 7 bilhões de dólares no mundo, estimado pela FAO em 2004. Os prejuízos são determinados pela diminuição do ganho de peso, da produção de leite, danos no couro provocados pelas picadas, além de transmitirem o protozoário Babesia sp, agente causador do complexo Tristeza Parasitária Bovina, que pode levar à morte.

Na região sudeste o carrapato está presente ao longo de todo ano com maior prevalência nos meses mais quentes e úmidos, de setembro a abril.

O uso de carrapaticidas é o principal meio de combate da praga há pelo menos 60 anos e, devido à insistente aplicação de drogas, foi inevitável o desenvolvimento de populações de carrapatos resistentes. Atualmente, das sete classes de carrapaticidas registrados no Brasil, cinco estão comprometidas parcial ou totalmente pela resistência, dependendo da fazenda ou região. Como agravante, a existência de populações resistentes, na maioria dos casos, leva a uma maior frequência de aplicações dos produtos, o que pode intensificar a resistência e provocar a presença de resíduos em níveis acima do tolerado em alimentos como a carne e o leite.

O Laboratório de Parasitologia Animal do Instituto Biológico (IB-APTA), órgão ligado a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, sob a coordenação da pesquisadora Dra. Márcia Cristina Mendes, em parceria com o Laboratório de Parasitologia Experimental e Aplicada do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, seis Pólos Regionais da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo e com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) realizou um levantamento inédito da resistência do carrapato do boi frente aos carrapaticidas usados nas regiões de São Paulo. O trabalho foi realizado nos anos de 2007 e 2008.

Foram acompanhadas pequenas fazendas de gado de leite no interior do estado. Inicialmente foi feito um questionário para verificar os métodos que o produtor usa para controlar o carrapato, como a escolha do carrapaticida, produtos usados, modo e freqüência da aplicação. Também foram coletadas amostras de carrapatos para verificar a resistência em ensaios de laboratório.

De acordo com o questionário aplicado, de forma geral, já foram utilizados todos os grupos químicos disponíveis para o controle do carrapato [organofosforados, formamidinas (amitraz), piretróides (cipermetrina e deltametrina), lactonas macrocíclicas (avermectinas) e os fenilpirazóis (fipronil)]. A maioria dos produtores não possui critérios para a escolha do carrapaticida, seguem a indicação de vendedores ou vizinhos e fazem o tratamento somente quando visualizam os carrapatos.

Para verificar a resistência foram realizados testes usando as larvas dos carrapatos, a fim de se obter o nível de resistência aos produtos mais utilizados para o seu controle.

Os resultados mostram que os casos positivos para carrapatos resistentes aos piretróides foi alta em todas as regiões analisadas, passando de 83,33% em 2007 para 100% em 2008 no caso da deltametrina e de 83,33% em 2007 para 84,21% em 2008 considerando a resistência a cipermetrina.

Para o organofosforado clorpirifós, os casos positivos foram de 50% em 2007 e 95% em 2008. Levando-se em consideração que a maioria das propriedades utilizou este produto durante o período do estudo, o aumento da prevalência da resistência já era esperado.

Para a ivermectina, a resistência ocorreu em 30% das fazendas analisadas no ano de 2007 e 56,25% em 2008. Possivelmente, o aumento da resistência a essa droga está ligado ao seu uso como alternativa aos demais carrapaticidas com resistência já desenvolvida. As lactonas macrocíclicas se caracterizam por apresentar um longo período de ação residual, chegando a 120 dias em alguns casos, fator que favorece a seleção de cepas resistentes.

Diante do estudo, os pesquisadores sugerem a realização anual do biocarrapaticidograma para verificar qual o produto mais indicado para o tratamento dos bovinos. Além disso, indicam que o tratamento seja feito somente nos animais mais sensíveis à infestação por carrapatos, quando os parasitos ainda se encontram na sua forma jovem (larvas e ninfas), lembrando de utilizar a dosagem correta do produto, aplicando-o por todo o animal, no caso da pulverização.

O Laboratório de Parasitologia Animal do Instituto Biológico presta o serviço de realização de biocarrapaticidograma.

0 Comments

  1. milton shigueo sato disse:

    A nossa propriedade foi uma das envolvidas neste trabalho. Foi uma pena ter finalizado. Quando os carrapatos adquirem resistencia aos produtos quimicos comerciais, o que fazer? Este ano estamos pulverizando semanalmente as vacas com solução de folhas de neem com alcool e diluido em agua. Ainda foram feitas apenas 3 aplicações. Existe algum estudo com formas alternativas de controle do carrapatos?

    Resposta da autora:

    Prezado Milton Shigueo Sato,

    Caso o senhor queira, poderemos continuar acompanhando o controle do carrapato na sua propriedade. Se tiver muitos carrapatos poderemos fazer os testes para verificar o melhor produto.

    Sugiro que o senhor faça a aplicação somente nos animais mais sensíveis e tratá-los quando ver as formas jovens assim evitaria que chegasse a adulto.

    Quanto aos sistemas que passou a usar não tenho certeza de que funciona, gostaria que me passasse o resultado da aplicação que o senhor tem feito. Vários pesquisadores estão testando produtos naturais, mas ainda não temos nenhuma publicação com o uso eficaz.

    Obrigada e estou à dispoisção

    Márcia

  2. Fernando Costabeber disse:

    Doutora Márcia,

    Foram encontradas larvas resistentes ao amitraz ou ao fipronil nos biocarrapaticidogramas, e em caso positivo, em que percentuais?

    Resposta da autora:

    Prezado Fernando Costa Beber

    A menor porcentagem encontrada para o amitraz foi de 28%. O fipronil não foi testado.

    Obrigada

    Márcia

  3. Vanessa Zuke Barcarolo disse:

    Oi Gostaria de saber em qual local de santa catarina faz biocarrapaticidograma, como faço a coleta e conservação das amostras?

  4. Márcia Cristina Mendes disse:

    Prezada Vanessa Zuke Barcarolo
    Infelizmente eu não conheço quem poderia fazer o teste no Estado de Santa Catarina, mas acredito que se voce entrar em contato com com professores de Universidades na área de veterinária eles poderão te informar.
    Obrigada
    Márcia

  5. Márcia Cristina Mendes disse:

    Prezado Lucas Gabriel Prospero Giacon, não temos dados com abamectina.
    Obrigada
    Márcia

  6. Rodrigo Dalcin Miotto disse:

    Os melhores resultados no controle de carrapatos com manejo de pulverização na nossa região são conseguidos através do sinergismo entre Clorpirifós e Cipermetrina dentro de um programa de controle estratégico.
    Abraço

  7. Paulo César Colla disse:

    Bastante alto o nível de resistência manifestada para lactonas macrocíclicas, embora efetivamente há algum tempo venha se registrando aumento substancial de uso dessas moléculas dentro de programas diversos. As referências já publicadas a respeitos são bem menores.

    Por outro lado, entende-se do texto que as provas de comprovação de sensibilidade tenham sido conduzidas in vitro, de modo que com referência à ivermectina é importante saber:

    Que técnica foi usada e com que estágio parasitário.
    Foi eventualmenmte usada alguma cepa de referência( se disponível ou factível) como comparação ou controle?

    Também convém que se saiba que ivermectina atualmente comercializada chega efetivamente a prover 120 dias de controle em carrapato!.

    Parabenizo ao IB pela iniciativa, porém entendo que a disponibilização dessas provas deveria envolver também a orientação de como interpretar os resultados já que por vezes, dependendo de como o resultado é expresso, existe confusão entre dados de sensibilidade e percentual de resistência.

    Atenciosamente

    Edson Luiz Bordin
    Gerente Serviços Técnicos
    Merial Saúde Animal ltda

  8. Thales dos Anjos de Faria Vechiato disse:

    Bom dia Dra Márcia.

    Sou Thales, Médico Veterinário e colaborador da Agripoint e Coordenador Técnico de Grandes Animais da Agener Saúde Animal.

    Li seu artigo no Beefpoint sobre resitência do carrapato a carrapaticidas e, nele a senhora relata que foi realizado um estudo inédito no Estado de SP. Gostaria de saber se o mesmo já foi publicado e em qual fonte devo procurar, pois gostaria de me apronfundar nesta brilhante pesquisa.

    Parabéns pela pesquisa e na qualidade das informações

    Fico no aguardo.
    Atenciosamente,

    Thales