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Respeito ao Paraná

Por Edson Neme Ruiz1

Nos últimos dias, os veículos de comunicação do país têm divulgado que as exportações de carne bovina brasileira – em equivalência/carcaça – devem aumentar mais de 20% neste ano em comparação com os embarques de 2,197 milhões de toneladas de 2005. Além disso, no ano passado, as exportações do produto renderam US$ 3 bilhões. Entretanto, o que observamos é que, apesar desta pujança, o setor agropecuário brasileiro enfrenta uma das piores crises da sua história!

Outro fator alarmante é que o preço da @ do boi é um dos mais baixos dos últimos 20 anos. Sem contar que o consumidor, que deveria ser beneficiado com esta situação, é obrigado a assistir os preços de muitos cortes de carne bovina ofertados na rede varejista subirem em média de 20 a 25%. Logo, gostaríamos de saber: quem é que está faturando alto às custas do bolso do consumidor e do suor do produtor rural?

Aqui no Paraná sentimo-nos ainda frustrados e desesperados também com uma “febre aftosa”, que foi criada por decreto. Em 120 dias, nenhum animal sucumbiu por causa deste “vírus virtual”, e nem outros suscetíveis foram contaminados. E o pior, nem o isolamento viral os técnicos conseguiram realizar. Algo que na Argentina foi feito em três dias. Será que a equipe sanitária de lá é muito mais competente que a brasileira? Ou aqui, realmente, a aftosa não existe?

Recentemente, técnicos de uma missão européia visitaram a nossa entidade e as propriedades rurais do Paraná. Sob o comando da equipe técnica do Ministério da Agricultura se recusaram a vistoriar os animais criados no Estado – mesmo com a adoção de todos os cuidados especiais e de acordo com as normas sanitárias vigentes – alegando que representávamos um “alto risco sanitário”. Se não havia interesse em conferir a presença do tal “foco biológico”, então, o que vieram fazer aqui? Ratificar, com o aval do MAPA, a existência de um “foco comercial ou político”? Como é que médicos veterinários e especialistas da área, que viajaram milhares de quilômetros, se negam a avaliar animais? Estes considerados por especialistas, altamente graduados, como sadios. Cremos que quem representa “perigo” para o nosso Estado são estes “tecnocratas”!

Enquanto que, no Mato Grosso do Sul e na Argentina, os bovinos infectados apresentaram sintomas clínicos como afta, febre, cambaleavam, entre outros, no Paraná presenciamos que os animais ditos “doentes” engordam mais de 800 gramas por dia. Querem exterminar, no nosso Estado, milhares de animais sadios, pagando indenizações com dinheiro público, para atender os interesses comerciais de alguns “aproveitadores” ou para satisfazerem as convicções – que tem como base os protocolos internacionais e não a prática real – da equipe técnica do MAPA. Já imaginaram quantas toneladas de carne bovina serão desperdiçadas num país em que milhares de pessoas passam fome e que não possuem condições financeiras para comprá-la? E com um sério agravante: tudo será pago com recursos públicos! Será que o Presidente Lula sabe que estes fatos absurdos estão para acontecer no seu Governo? Ou Vossa Excelência também desconhece este assunto? Já que ele está sendo amplamente discutido na esfera ministerial.

A classe agropecuária paranaense não concorda com esta afronta e, em nenhum momento, vai admitir que os nossos produtos e serviços sejam depreciados e ridicularizados no mercado mundial. Defendemos, novamente, que o Paraná não tem aftosa. E conclamamos a todos os nossos irmãos paranaenses a lutarem democraticamente pelo respeito ao nosso Estado.

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1Edson Neme Ruiz, presidente da Sociedade Rural do Paraná e do Conselho das Sociedades Rurais do Estado

0 Comments

  1. Marineiva Rodrigues disse:

    Li o artigo e aproveito a oportunidade para dizer ao senhor Edson Neme Ruiz, que o desrespeito não é com o Estado do Paraná e sim com a pecuária nacional. Quando do foco em Mato Grosso do Sul, todos os estados, sem exceção, adotaram medidas restritivas contra nossos rebanhos, desrespeitando no mínimo, a irmandade patriótica.

    Ao invés de sentarmos para discutir um plano coerente com decisões firmes, ficamos olhando para os próprios umbigos e propalando a “falsa” estabilidade sanitária de algumas regiões.

    Culpar os “hermanos vecinos” é no mínimo, fugir à responsabilidade de reconhecer que por aqui também a questão sanitária não está sendo bem conduzida! Em entrevista ao BeefPoint, o senhor Jean-Yves Carfantan, especialista em mercado internacional, disse que precisamos encontrar um caminho para construir a imagem do Brasil no mercado europeu. Certamente que não será esta briga ou conflito de interesses, entre o Paraná e o pessoal do Mapa, que contribuirá para formarmos ou no mínimo, reconstruirmos esta imagem. Somos um país agropecuário e muita gente ainda precisa entender e tratar o setor primário de nossa economia com mais seriedade e respeito.

    Que a aftosa sul-mato-grossense, paulista, amazonense, paraense ou talvez até mesmo a paranaense, sirva de lição e de alerta para quem acha que está tudo bem com a sanidade de nossos rebanhos!

  2. Antonio C. Guerra disse:

    Até que enfim alguém teve coragem de falar o que realmente vem ocorrendo sobre a febre aftosa (se é que podemos falar que a mesma existe).

    Para mim tudo isto não passa de uma política que vem facilitar a vida de alguns privilegiados, que por sinal devem estar ganhando muito, pois no mercado o nosso produto que é o boi está com o preço absurdo, e carne para o consumidor final não reduz nada, pelo contrário.

    Pelo que podemos notar esta é a política do atual governo, acabar com o produtor e gerar grandes resultados em alguns setores, que não é o que mais trabalha e sempre vive correndo atrás do prejuízo. Diante desta política podemos citar o petróleo, onde todos nos dependemos do mesmo e o que temos visto é o preço sempre subindo e as manchetes estampadas em toda a mídia relatando o lucro absurdo da Petrobrás. Por que não reduzir este lucro e assim dar oportunidades ao centro produtivo, que é o que mais está precisando no momento? Pelo contrário, já se ouve falar em redução de álcool na gasolina e conseqüentemente alta do preço da mesma. Onde vamos parar?

  3. Luiz F. A. Marques disse:

    A aftosa identificada no PR é avirulenta, porque se existe algum vírus como agente etiológico, é atípica esta ausência de sinais e sintomas por tanto tempo. Mais exames laboratoriais precisam ser feitos, entretanto o que se divulga é que os animais ainda não apresentaram a doença.

    Infelizmente toda lucidez está passando longe deste gravíssimo problema, provavelmente, com medo que se contaminar! Parece surrealismo, mas é muito lamentável que depois de tanta competência técnica já ter sido formada no país, nenhum especialista tenha se posicionado sobre esta estranha “virulência assintomática” do gado das regiões focadas no Paraná.