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Resposta humoral de bovinos e cobaios vacinados com toxóides botulínicos bivalentes

Iveraldo S. Dutra1 e Fábio S. Fonseca2

O papel da vacinação na prevenção e controle do botulismo é de fundamental importância. No Brasil, a eficiência das vacinas antibotulínicas comercializadas é determinada pela vacinação de cobaios e mensuração dos níveis de anticorpos pela soroneutralização em camundongos.

As exigências oficiais para a aprovação das vacinas comercializadas estão regulamentadas pela Portaria nº 49 do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA). Até pouco tempo, as exigências eram de que as vacinas comercializadas deveriam conter no mínimo 2 Unidades Internacionais (UI) de antitoxina para o tipo C e 2 UI para o tipo D, por mL de soro sangüíneo de cobaios vacinados.

Uma das questões levantadas no meio técnico era a de que não existem estudos sistemáticos demonstrando quais os níveis mínimos em bovinos de antitoxina circulante, suficientes para desencadear nos animais uma proteção satisfatória nos sistemas de produção extensivos. Consequentemente, não existe informação segura de qual a quantidade mínima de toxóide deve-se exigir que as vacinas contenham.

Fonseca (2001) realizou estudos para comparar a resposta humoral de bovinos e cobaios vacinados com toxóides botulínicos bivalentes C e D. Esta primeira etapa, de uma série de trabalhos em andamento, teve por objetivo comparar as respostas imunes nas duas espécies.

Foram avaliadas e comparadas as respostas humorais de bovinos e cobaios frente a três toxóides botulínicos bivalentes C e D comerciais. Os níveis de anticorpos foram avaliados pela soroneutralização em camundongos. Dois grupos de 18 bovinos e 18 cobaios foram constituídos. O esquema de vacinação consistiu de duas doses do toxóide, sendo uma no dia zero e outra no dia 21, para os cobaios dos Grupos 1 e 2.

O Grupo 1 dos bovinos recebeu duas doses de cada toxóide, uma no dia zero e outra no dia 30. O Grupo 2 recebeu duas doses de cada toxóide: uma no dia zero e outra no dia 42.

Os níveis de anticorpos neutralizantes nos cobaios variou de 2 UI/mL a mais que 20 UI/mL. Nos bovinos a variação de anticorpos nos animais vacinados com os mesmos toxóides variou de 1 UI/mL a 20 UI/mL. O comportamento da resposta humoral nas duas espécies foi semelhante, no entanto, a magnitude das respostas imunes dos cobaios foi maior que nos bovinos.

O intervalo de 42 dias no reforço vacinal dos bovinos resultou em títulos de anticorpos significativamente maiores para o tipo D, não sendo observada alteração significativa para o tipo C.

O padrão da resposta humoral nas duas espécies foi diretamente proporcional, existindo uma tendência dos cobaios vacinados com toxóides botulínicos bivalentes C e D de apresentar uma magnitude de resposta maior que os bovinos.

Ocorreram diferenças significativas (p0,05) nos níveis de anticorpos induzidos pelas diferentes vacinas avaliadas, tanto nos cobaios quanto nos bovinos, quando avaliados para os níveis de anticorpos contra o tipo C e somente nos cobaios para o tipo D.

Os níveis de anticorpos nos bovinos revacinados aos 42 dias foi significativamente superior quando comparado com o lote de animais que recebeu o reforço 30 dias após.

Alguns aspectos devem ser considerados quando da avaliação dos níveis de anticorpos humorais de bovinos e de cobaios frente às toxinas botulínicas C e D. Emboras todas as vacinas avaliadas tenham sido aprovadas quando avaliadas pelos parâmetros exigidos pelo MAPA, ocorreram diferenças significativas entre as vacinas comercializadas. Vacina que apresenta título próximo de 2 UI/mL, como exigido pelo MAPA, não demonstra títulos detectáveis nos bovinos ou apresenta título em torno de 1 UI/mL.

Os níveis mínimos de anticorpos contra as toxinas botulínicas C e D, suficientes para proteger os animais em desafios naturais, ainda são desconhecidos. A complexidade de experimentos desta natureza e a dinâmica da intoxicação botulínica nos bovinos, dificultam a interpretação de testes onde os animais são desafiados com quantidades de toxinas botulínicas que não correspondem ao desafio natural e nem às vias de ingestão da toxina.

No entanto, deduz-se que vacinas que contenham maiores quantidades de toxóides botulínicos C e D são desejáveis. Isto se constitui num diferencial qualitativo importante das vacinas contra o botulismo, enquanto não se conhece o que ocorre num desafio natural. Por outro lado, a informação de que os níveis de anticorpos contra o tipo D tem aumento significativo quando o reforço vacinal é efetuado aos 42 dias, tem significado prático. Nos surtos de botulismo associados à ingestão de alimentos e água contaminadas, há uma predominância da participação do tipo D no desencadeamento dos surtos.

Recentemente, houve uma modificação nos critérios exigidos pelo MAPA para a aprovação das vacinas antibotulínicas comercializadas. Os níveis mínimos de toxóides dos tipos C e D passaram para 5 UI/mL, significando um grande avanço para o setor produtivo e industrial, mesmo ainda não se sabendo qual seria o nível mínimo para garantir uma boa eficácia da vacina no campo. Vale ressaltar que o reforço vacinal é uma medida necessária para se ter plenamente o beneficio da vacinação no controle e profilaxia do botulismo bovino.

Referência:

FONSECA F.S. Comparação da resposta humoral de bovinos e cobaios vacinados com toxóides botulínicos bivalentes C e D. Jaboticabal, SP, 2001. 55 f. Dissertação (Mestrado) – FCAV, Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal.
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1 Médico Veterinário e professor da Unesp, campus de Araçatuba
2Mestre – FCAV, Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal.

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