Por Alexandre Foroni1 e Oberdan Pandolfi Ermita2
A situação da pecuária do estado de Rondônia, e consequentemente de toda a economia, por ser esta uma das principais atividades do estado, não é nada confortável. Mesmo sendo hoje um dos estados com melhor status em relação à febre aftosa, o nosso preço da @ do boi gordo é um dos mais baixos do país. Sabe-se que a crise é geral, mas a situação em Rondônia tem piorado ano a ano e o pior, tende a piorar ainda mais.
O gráfico abaixo mostra a diferença em percentual do preço da @ do boi em RO em relação às praças de SP-Barretos, MT-Cuiabá e PA-Marabá. Em 2001, o preço de RO era aproximadamente 20% inferior ao de SP-Barretos, hoje esse deságio é de 26%.
Quando se compara Rondônia com MT-Cuiabá, o deságio que era de 7%, em 2001, passou para 12%. O estado do PA ainda não é reconhecido como área livre de aftosa, mesmo assim nossa situação piorou em relação a eles. Em 2001, tinha preço inferior ao de RO de quase 2%, hoje tem o preço superior ao RO, em quase 3%.
O mais impressionante é que as três linhas pretas, conforme o gráfico acima, dos três estados analisados, são praticamente paralelas. Portanto, a diferença de preço relativo entre estas três regiões tem se mantido inalterada. A diferença entre MT-Cuiabá e SP-Barretos tem se mantido entorno de 14%, do PA-Marabá para SP-Barretos, 24% e do PA-Marabá para MT-Cuiabá 10%.
Algo de errado se passa em Rondônia! A diferença também deveria ter se mantido inalterada, entretanto, se ampliou.
Hoje SP opera com preço ao redor de R$ 54,00 a @. A diferença relativa de 2001 para 2005 em relação a Rondônia aumento 6% (20% para 26%). Isso significa que a @ do boi de RO está desvalorizada a mais que o normal, em R$ 3,24 (6% * R$ 54,00).
Este ano estima-se abater ao redor de 1,7 milhões de bovinos no estado. Esses com um peso médio de 15,4 @ (vaca e boi), representa queda de faturamento na ordem de R$ 84,8 milhões, que estão deixando de entrar no estado de RO e serem distribuídos entre mais de 87 mil pecuaristas de todo o estado.
Mas o que é que explica toda essa diferença?
O primeiro motivo, é que no estado de RO existe um grupo de frigorífico, com 5 plantas, que realiza 70% dos abates. O segundo grupo, com 2 plantas, abate outros 10%. As demais plantas abatem os 20% restantes. Logo, existe uma concentração muito grande nas mãos de 1 ou 2 grupos, que por sinal, o maior está envolvido nos atuais escândalos de cartel e contratos duvidosos com o BNDES, vide publicações da Folha de São Paulo do dia 27/11/2005.
Um outro motivo é que a capacidade de abate no estado é insuficiente para absorver toda a oferta de animais. O mercado aqui está sempre ofertado.
O estado possui rebanho de 11,3 milhões de cabeças. Nos últimos anos, tem havido uma grande pressão governamental e dos ambientalistas para que não haja novos desmatamentos. É praticamente zero a abertura de novas áreas no estado. Não tendo onde colocar mais animais, é necessário que a taxa de desfrute cresça para adequar o rebanho a área disponível, como forma de evitar prejuízos nos índices de produtividade do rebanho.
Infelizmente, tem ocorrido o pior. A capacidade instalada no estado é insuficiente para absorver o abate que se projeta como necessário para equilibrar o tamanho do rebanho. Conforme a tabela abaixo, hoje o estado possui capacidade instalada de 1,6 milhões de cabeças, enquanto deveria abater 2,1 milhões de cabeças para estabilizar o rebanho.
Os pastos de Rondônia estão ultrapassando seu limite da capacidade de suporte. Muitos pastos estão rapados em plena época das águas (foto abaixo). Essa foto não é uma casualidade, é a pura realidade de um grande número de propriedades.
A conseqüência de tudo isso é a diminuição da produtividade. Vejamos os dados da tabela abaixo.
Outro dado relevante é o percentual de machos com mais de 36 meses em relação ao total do rebanho, que passou de 13,6%, em 2002, para 16,9%, em 2005, comprovando a premissa de que está faltando pasto.
Para se ter uma idéia das conseqüências deste processo, estima-se que o prejuízo causado pela queda da taxa de produção já ultrapassou a ordem de 850 milhões de reais nestes últimos 3 anos.
E as perspectivas não são nada animadoras, a oferta tenderá a ser ainda maior, consequentemente, os preços continuarão baixos.
A Método Consultoria estima que a taxa de produção dos próximos anos será ao redor de 20%. O que implicaria em um prejuízo anual na ordem de 1 bilhão de reais para os produtores, e conseqüentemente para todo o estado que tem 45% do seu PIB oriundo do agro-negócio pecuário.
Resumindo, diante da impossibilidade de se elevar a taxa de desfrute, sendo grande a oferta de animais, forçando os preços para baixo, não capitalizando o produtor o suficiente para investir em aumento de produtividade por área, o mecanismo de ajuste inevitável tem sido a gradual redução nos índices de produtividade do rebanho.
Independente do preço, este sim é um problema não só do pecuarista, mas uma questão de estado, porque envolve todos. Conforme dito, a pecuária é uma das principais atividades do estado, é geradora de renda primária, que se multiplica nas demais atividades econômicas, desde o funcionário da fazenda que faz suas compras na cidade, gerando consequentemente empregos no comércio, até o governo, cuja arrecadação será maior conforme maior a massa de riqueza produzida. Infelizmente, está ocorrendo o contrário, agora o ciclo é negativo.
Mas há demanda para toda esta produção? É necessária a crise para ajustar a oferta à demanda? A crise da pecuária em Rondônia e o que o país está passando é devido ao excesso de produção?
Quanto à demanda ela existe, as portas estão se fechando não porque não exista demanda, mas porque não há profissionalismo. São problemas de gestão e não de mercado. Sem integrar a cadeia produtiva, sem organização para ter força e representatividade para reivindicar políticas sérias do Estado, continuaremos sub-aproveitando o enorme potencial de geração de renda e empregos da nossa pecuária. Não fique surpreso se o PIB de Rondônia fechar no vermelho este ano.
Apesar deste cenário tão desolador, existem iniciativas que apontam para a reversão deste quadro, o projeto da Cooperativa Cooperocarne, que está sendo implantado em Rondônia, é um deles.
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1Alexandre Foroni, Zootecnista, diretor da Método Consultoria, de Pimenta Bueno – RO
2Oberdan Pandolfi Ermitã, Economista, diretor da Método Consultoria, de Pimenta Bueno – RO
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Caros Alexandre e Oberdan,
Como pecuarista no MT, e observando os problemas da pecuária, especialmente nos estados mais jovens, em desenvolvimento, fica clara a semelhança dos problemas.
Embora comparativamente, os preços da @ em MT, sejam maiores que os preços praticados em RO, e, a infra estrutura industrial esteja um pouco mais organizada, o problema central: excesso de oferta, aumento de plantel e pastagens degradadas por super pastoreio é exatamente o mesmo.
Me parece, que nós pecuaristas estamos tentando corrigir o problema, montando uma equação negativa:
Excesso de oferta = redução de preço, represamento de gado = redução de oferta alimentar.
Redução de oferta alimentar = > tempo para abate e > de custo do produto.
Redução de oferta alimentar é também = redução de fertilidade o que provoca > de custo do produto bezerro.
Venho há algum tempo debatendo a questão de uma política de produção para a carne bovina, que contemplasse a possibilidade de redução de rebanho, gerando melhor eficiência de aproveitamento genético dos animais para ganho de peso, e maior velocidade de giro de capital, pela redução do tempo gasto do nascimento ao abate; finalizando com a redução de oferta de carne no mercado, porque menor oferta é = > preço.
Maior tecnificação no sistema de pastoreio, para melhorar a capacidade de suporte das pastagens, resultando ao final do processo, a possibilidade de redução de área de pastagens, e diversificação da exploração da terra. Que, diga-se de passagem, esta muito valorizada para os parâmetros de resultados econômicos advindos da atividade “pecuária”.
Chama muito a atenção a condição das pastagens em RO, rapadas em plena época de chuvas. O esperado, se pensarmos em termos comparativos de idade das pastagens, com relação à idade das pastagens em outros estados, seriam pastagens com maior capacidade de recuperação.
Mas não querendo prolongar mais este comentário, gostaria de convidar vocês a pensarmos juntos, nacionalmente, em uma saída para nossa atividade, me colocando a sua disposição para futuras trocas de idéias,
Abraço,
Janete Zerwes
Comissão das Produtoras Rurais da Federação da Agricultura de Mato Grosso
Coordenadora de Tecnificação e Pecuária