ABNP divulga metas para 2004
29 de janeiro de 2004
Síntese Agropecuária BM&F – 31/01/04
31 de janeiro de 2004

Ruim para quem vende, bom para quem compra

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o rebanho bovino brasileiro conta hoje com aproximadamente 185,4 milhões de cabeças. É o segundo maior do mundo, 44% inferior ao rebanho indiano, que não tem aptidão comercial.

Desde 1996 o crescimento do rebanho bovino nacional tem se mostrado intermitente. De lá para cá o aumento foi de 17%. São 27 milhões de cabeças a mais, volume equivalente ao rebanho australiano, quase 2,5 vezes mais gado do que tem o Uruguai.

Esse crescimento expressivo, reflexo de um forte movimento de retenção de matrizes, teve como combustível o ciclo de alta dos preços do bezerro. Em valores reais (deflacionados), de janeiro/96 a janeiro/02 a cotação do bezerro paulista, por exemplo, subiu 82%, conforme pode ser observado na figura abaixo.


Contudo, como também está colocado na figura, o quadro começou a se inverter já no início de 2002. Para o criador, os dois últimos anos foram difíceis. A oferta de bezerros, reflexo dos 6 anos de retenção de matrizes, aumentou significativamente, e a demanda não acompanhou.

Em 2003 tivemos o que alguns chegaram a chamar de “super safra” de bezerros, e os preços continuaram a cair. De janeiro/02 a janeiro/04 a desvalorização do bezerro paulista, em valores reais, foi de 29%.

Já o mercado físico do boi gordo, no decorrer desse período, trabalhou em ambiente firme, embalado, principalmente, pelo bom desempenho das exportações. Como consequência, em 2003 foram registradas as mais altas relações de troca dos últimos anos, conforme pode ser visto na figura 2.


No Rio Grande do Sul, ao final do ano passado, a relação de troca bezerro x boi gordo chegou a superar 3,20 por 1, privilégio exclusivo do invernista gaúcho. Nesse Estado, além da elevada oferta de animais, o desânimo dos produtores em relação à pecuária refletiu num quadro de demanda extremamente baixa, levando os criadores a trabalharem com preços considerados bem reduzidos.

A situação pode começar a se inverter. A frouxidão do mercado de bezerros deu início, em 2003, a um movimento de venda de matrizes. Quem antes segurava ou comprava (investia no plantel), resolveu partir para a venda. A pressão da agricultura, que oferece renda bem superior, também estimula o criador a enviar suas matrizes ao abate.

De acordo com o IBGE, de 2002 para 2003 (acumulado de janeiro a setembro) o volume de abate de fêmeas, em todo o território nacional, aumentou quase 50%. Foram 3,35 milhões de cabeças em 2002, contra 4,98 milhões no ano passado. É verdade que o órgão só leva em consideração os abates oficiais, portanto os números estão subestimados. Porém, a oscilação e a tendência são reais.

O cenário aponta para uma redução da oferta de bezerros a partir deste ano. Enxuto, o mercado tende a trabalhar em ambiente mais equilibrado. É possível que se inicie um ciclo de alta. Se não em 2004, pode ser em 2005 (mais provável). Agora é ficar de olho na demanda, para ver onde os preços podem chegar.

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