O bem-estar animal tem sido preocupação crescente entre pesquisadores, produtores e consumidores de todo o mundo que passaram a exigir com maior intensidade uma conduta humanitária no tratamento dos animais, no que diz respeito à produção, transporte e abate.
Assim, para mostrar o que está acontecendo de mais atual no Brasil e no mundo frente a área de bem-estar animal, na cadeia produtiva bovina, o BeefPoint preparou algumas entrevistas com diversos pecuaristas que já adotam medidas de manejo que visam as boas práticas de manejo, compartilhando casos de sucesso na pecuária de corte.
Confira abaixo, o caso de sucesso da Fazenda Sāo Pedro do Araguaia, localizada no município de Ananas – TO.
A esquerda temos o proprietário Hugo da Costa Porto, ao centro o consultor André Sorio e a direita o gerente Carlos Castro.
Hugo da Costa Porto é natural do Rio de Janeiro, onde reside. Preside há 30 anos uma empresa especializada em logística internacional e há 26 anos, aconselhado por seu irmão, Pedro Porto, adquiriu sua primeira propriedade no estado do Tocantins.
Apesar de ter a propriedade há mais de 25 anos, foi só em 2009 que resolveu transformar a fazenda em uma empresa rural moderna e competitiva. Assim, o trabalho de melhoria de pastos, com divisões, recuperações e limpezas, se somou à preocupação em atender à legislação ambiental, com proteção de APPs e da reserva legal. Este caminho levou à necessidade de instalação de um sistema de abastecimento de água, para que os animais não tivessem mais que beber água nas nascentes e nos cursos d´água e para que a fazenda não sofresse com a falta de água, que era tradicional nos meses de agosto a novembro.
Com a água implantada, foi feito, simultaneamente, o início do processo de divisão e subdivisão dos pastos, deve levar em alguns anos ao sistema de manejo Voisin, conforme o plano de investimentos de longo prazo de Hugo. O fato de ter áreas de lazer em cada setor, com água limpa e cochos de sal sempre abastecidos leva conforto aos animais. A mesma área de lazer provoca um comportamento importante nos animais, que sempre que veem o vaqueiro se deslocam para lá, e isso torna o trabalho de revisão diária bem mais rápido e menos estressante para os animais.
Também foi feita a construção de um curral antiestresse, que servirá de modelo para os outros currais que serão construídos nas propriedades ao longo dos próximos anos. Recentemente, foram colocados brincos e identificação eletrônica (tag) em todos os animais, e isso traz agilidade no trabalho de curral e conforto para os bovinos, pois todo o processo de identificação e armazenamento de dados fica agilizado e os animais são liberados mais rapidamente.
BeefPoint: Quais técnicas/práticas você desempenha em sua sua fazenda que resultou em bons resultados, quando o tema é bem-estar animal?
Hugo Costa: São diversos pontos que podem ser abordados quando se fala em bem-estar animal, além dos óbvios, como o fato da fazenda ter um curral antiestresse e ter incorporado elementos antiestresse nos demais currais, como o fechamento do brete.
Entre os elementos que adotamos, que influenciam no bem-estar animal e que são pouco lembrados podemos citar, por exemplo:
Não podemos deixar de citar um prática adotada desde 2013 e que foi fruto do sistema de gestão adotada, que traz uma maior participação da mão de obra na sugestão de melhorias: uma espécie de casinha, que fica na maternidade, onde o vaqueiro consegue fazer todas as práticas de manejo pós-nascimento, e que não são poucas aqui na fazenda:
A adoção da chamada casinha permitiu que o trabalho de atendimento neonatal aos bezerros fosse feito com maior tranquilidade e segurança pelos vaqueiros, menor estresse da vaca e maior eficiência que se traduz em diminuição da mortalidade de bezerros e da geração de guachos.
BeefPoint: Conte pra nós qual a aceitabilidade de sua equipe quanto às técnicas de bem-estar animal? Como é feito o treinamento de seus funcionários?
Hugo Costa: Eu, como proprietário e principal gestor, sempre me preocupei em manter um canal de diálogo com os vaqueiros e demais funcionários. Isso sem abdicar de minha liderança quando o tema é introdução de inovações no sistema produtivo. Todos participam dando sugestões para a melhoria operacional de tudo que é feito na propriedade. Mas, quando a decisão de introdução de uma melhoria é tomada, ela será implementada e cobro com veemência para que isto ocorra e para que tenhamos êxito.
Não foi diferente com as técnicas de bem-estar animal. Nosso gerente, Carlos, sempre foi um homem cuidadoso e exigente no trato com os animais durante a lida de curral. Inclusive foi iniciativa dele de introduzir elementos antiestresse nos currais convencionais da fazenda, após verificar e experimentar a facilidade de trabalho em nosso novo curral antiestresse.
Nossos vaqueiros são sempre bem orientados e aceitam bem as mudanças, naturalmente com a necessidade de cobranças e orientações periódicas. Ao final, as técnica de bem-estar animal também favorecem o trabalho dos vaqueiros, pois os animais ficam mais calmos e fáceis de lidar, aumentando a segurança do trabalho.
BeefPoint: Quais instalações de sua propriedade são adequadas para as técnicas de bem-estar?
Hugo Costa: Como já falei, temos curral antiestresse e currais antigos adaptados com elementos antiestresse. Em nosso plano de investimentos está a troca destes currais antigos por currais novos e modernos.
Além disso, temos água encanada e limpa para todos os animais, que levou à possibilidade de praticarmos a rotação de pastagens com eficiência. Os corredores que interligam os setores e os currais não podem ser esquecidos, pois a tranquilidade com que se pode movimentar os lotes, se traduz em animais mais dóceis e em eficiência do uso da mão de obra.
Como fazemos estação de monta, também podemos prever a época em que os bezerros nascerão. Adotamos há anos a designação de diversos setores contíguos à sede para receber os lotes às vésperas da parição, a chamada maternidade.
Com isso, há muito tempo damos atendimento adequado às vacas antes e após a parição. A partir de 2013, designamos um setor específico dentro da maternidade para receber as vacas imediatamente antes da parição e foi neste setor que foi construída a casinha, que já descrevi anteriormente. A casinha é uma instalação simples, pequena, mas que trouxe importantes reflexos na melhoria do atendimento aos bezerros recém-nascidos.
Mas, não posso deixar de registrar aqui que as instalações são apenas construções, inanimadas. O que faz que elas sirvam para o aumento do bem-estar animal é a gestão diária da rotina do trabalho dos vaqueiros, para que o investimento em estrutura se traduza em benefícios ao resultado da fazenda.
BeefPoint: Por que decidiu adotar medidas de bem-estar animal em sua propriedade? Teve o apoio de alguma empresa e/ou profissional da área?
Hugo Costa: Sempre vi o bem-estar animal como ligado diretamente à melhoria de resultados econômicos de meu empreendimento. Ao mesmo tempo, me agrada ver os animais felizes e saudáveis e isso é um resultado intangível de minhas decisões de investimento.
Desde 2010, conto com o apoio da Sorio Assessoria, de Brasília, na pessoa do engenheiro-agrônomo André Sorio, que sempre que venho à propriedade me acompanha e auxilia no processo de tomada de decisão, dando o suporte técnico para as atividades de investimento e gestão.
BeefPoint: O que a sua propriedade difere das demais? As que utilizam boas práticas de manejo e as que não utilizam?
Hugo Costa: Acredito que a infraestrutura que estamos montando é um fator que diferencia nossa fazenda da maioria. Ela nos permite atender, simultaneamente, às necessidades de bem-estar pelos animais e à necessidade de modernização econômica da propriedade.
Mas, o principal fator que nos torna diferente das demais propriedades é nosso sistema de gestão. Minha presença na propriedade é constante, tenho 2 gerentes, um que trata da questão operacional e outro que se dedica às questões administrativas e de geração de dados (TI). Além disso, conto com uma consultoria atuante, que nos dá suporte para seguir em frente.
Naturalmente, a equipe de vaqueiros e outras pessoas que trabalham no campo são importantes para o resultado e costumamos ouvir às sugestões de cada um dentro de seu âmbito de atuação. Quero dizer, apesar de termos um sistema computacional que nos dá suporte no processamento da quantidade de dados gerados, é a participação constante das pessoas nos processos de operação e melhoria que nos permite ser diferentes das demais propriedades.
Tudo isso contribui para os resultados alcançados, que são melhores ano a ano.
BeefPoint: Em relação ao manejo de bovinos, quais os erros mais comuns cometidos em sua propriedade?
Hugo Costa: Sinceramente, dentro da lógica da gestão já explicada, procuramos não cometer nenhum erro.
BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas que pretendem praticar técnicas relacionadas ao bem-estar animal?
Hugo Costa: Felicitações a quem estiver pensando no assunto, pois entendo que este é o único caminho que consigo enxergar para quem quer se perpetuar na produção de bovinos.
Confira mais algumas fotos da Fazenda Sāo Pedro do Araguaia, de Hugo Costa:
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Fazenda Sao Pedro do Aragauia, o futuro comecou em 1988!