O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira, 30 de julho de 2025, uma ordem executiva que impõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo carne bovina. A medida entra em vigor no dia 6 de agosto de 2025, e foi justificada por Washington como uma resposta a “ações hostis” do governo brasileiro, consideradas uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA.
A tarifa representa um aumento de 40 pontos percentuais sobre a alíquota anterior de 10%, e foi decretada com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), de 1977, que autoriza o presidente a declarar emergência nacional e impor sanções econômicas a países estrangeiros.
De acordo com o comunicado oficial da Casa Branca, a decisão foi motivada por acusações de que o Brasil estaria violando direitos humanos, restringindo a liberdade de expressão e tentando forçar empresas americanas a censurar conteúdo. O documento afirma que essas ações “ameaçam os princípios fundamentais” dos EUA e justificam uma resposta firme.
Trump declarou que o objetivo é “proteger a economia americana de ameaças estrangeiras” e “defender empresas dos EUA contra coerções ilegais”.
Embora o decreto não cite produtos específicos, a carne bovina brasileira é uma das mais atingidas. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras da proteína, atrás apenas da China. Em 2024, as exportações de carne bovina para os EUA ultrapassaram US$ 2 bilhões, e no primeiro semestre de 2025, já somavam US$ 1 bilhão, com embarques de 181 mil toneladas — 12% do total exportado pelo Brasil no período.
Boa parte da carne exportada é usada para a fabricação de hambúrgueres. A indústria americana importa o chamado “corte magro” do Brasil para equilibrar a produção interna, baseada em carne com mais gordura. A nova tarifa compromete diretamente essa cadeia.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que o Brasil pode perder até US$ 1 bilhão apenas em 2025 caso os embarques se tornem inviáveis economicamente. Frigoríficos como Marfrig, Minerva e JBS têm exposição significativa ao mercado americano e já estão recalculando suas projeções.
Mesmo diante de pressões internas, o governo dos EUA manteve a decisão. O Meat Import Council of America (MICA) — entidade que representa importadores americanos de carne — alertou que a medida pode elevar os preços no mercado interno e prejudicar consumidores e processadores de alimentos, mas Trump ignorou os apelos. Para o MICA, a carne brasileira não compete diretamente com a produção americana, mas complementa a oferta local, sendo essencial para atender a demanda da indústria de hambúrgueres.
Apesar do escopo amplo da medida, cerca de 46% das exportações brasileiras para os EUA ficaram isentas da nova tarifa. De acordo com a Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), setores como aeronáutica, produtos farmacêuticos e parte da indústria de alimentos foram poupados, numa tentativa de evitar impactos inflacionários nos EUA e preservar empregos em setores sensíveis. No entanto, a carne bovina não está entre os itens com exceção — ao contrário, está entre os mais diretamente atingidos.
Frigoríficos e exportadores brasileiros estão articulando uma estratégia conjunta para minimizar os impactos e redirecionar a carne brasileira para o mercado asiático, especialmente China, Hong Kong, Vietnã, Filipinas e Indonésia. A China, inclusive, já ultrapassou os EUA como principal comprador de carne brasileira há anos, mas os EUA ainda representam um mercado estratégico de alto valor.
O setor também está em diálogo com parlamentares americanos, tentando reverter ou suavizar a medida por meio do Congresso. O argumento central é que a tarifa pode causar efeito bumerangue, encarecendo a carne para os consumidores e afetando empresas americanas que dependem da matéria-prima brasileira.
Autoridades brasileiras classificaram a decisão como “chantagem política”. O Itamaraty já estuda acionar mecanismos de defesa na Organização Mundial do Comércio (OMC) e analisa possíveis contramedidas comerciais. No entanto, especialistas apontam que o Brasil tem pouca margem de manobra para retaliar, especialmente por depender mais das exportações aos EUA do que o contrário.
O governo federal brasileiro estuda lançar linhas de financiamento específicas para exportadores afetados, com foco em estocar produtos temporariamente ou abrir novos mercados. Também há articulação para reduzir custos logísticos e ampliar acordos sanitários com outros países importadores.