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Tendências e Perspectivas para a Cadeia da Carne Bovina Brasileira (slides e artigo)

Atualmente a cadeia da carne bovina brasileira passa por um momento com vários pontos favoráveis, tais como o aumento da demanda internacional, o surgimento de mercados emergentes e aquecimento do mercado interno, ciclo pecuário favorável. Apesar dessas boas perspectivas, não se deve esperar milagres. Vários fatores influenciam o mercado da carne bovina brasileiro e devem ser avaliados, tais como: a concentração e consolidação dos frigoríficos; a questão da sustentabilidade; o foco no consumidor; as estratégias de gerenciamento; a formação de associações. Ainda existem muitos desafios, dentro e fora da porteira.

Atualmente a cadeia da carne bovina brasileira passa por um momento com vários pontos favoráveis, tais como o aumento da demanda internacional, o crescimento de mercados emergentes, aquecimento do mercado interno e ciclo pecuário favorável.

A economia brasileira está crescendo e o país está mais justo, ou seja, está havendo uma melhor distribuição de renda. Segundo estudos do US Census Bureau, o índice de desigualdade na distribuição de renda, chamado índice Gini, está diminuindo no Brasil. Quanto menor o índice Gini, melhor é a distribuição de renda. O contrário acontece nos EUA, cujo índice está aumentando, mostrando uma piora na distribuição de renda.

Sendo assim, a economia cresce, a população tem maior renda e o consumo aumenta. Inclusive o de carne bovina.

Esse ano, particularmente, com a Copa do Mundo, o consumo de alguns produtos tende a aumentar. Segundo André Torreta, consultor especializado no comportamento e consumo das classes sociais mais baixas, as vendas de refrigerantes e cervejas devem aumentar durante o campeonato mundial. Apesar de não existirem dados para carne bovina especificamente, o mesmo deve acontecer com a carne.

Segundo estas pesquisas é esperado um aumento no consumo de produtos ligados à festa e agente pode dizer que churrasco é maneira favorita do brasileiro comemorar. Então é possível esperar que este ano teremos um favor a mais impulsionando o consumo de carne.

Apesar dessas boas perspectivas, não se deve esperar milagres. Vários fatores influenciam o mercado da carne brasileiro e devem ser avaliados, principalmente em relação aos pecuaristas. Ainda existem muitos desafios, dentro e fora da porteira.

Fatores que influenciam diretamente no mercado do boi:

Concentração e consolidação dos grandes frigoríficos

Um desses fatores é a forte concentração e consolidação dos grandes frigoríficos, que aumentaram o seu poder de barganha. O JBS-Friboi, por exemplo, possui capacidade de abate superior a 40 mil bovinos por dia no Brasil, e superior a 90 mil no mundo inteiro total.

Esses números cresceram de forma surpreendente em poucos anos, aumentando consideravelmente o faturamento dessas empresas. Se olharmos os dados do JBS-Friboi de 1996 até agora, o faturamento aumentou 100 vezes. Com isso, os pecuaristas passaram a negociar com grandes empresas, até multinacionais, aumentando os desafios, mas também gerando oportunidades.

Além disso, os frigoríficos estão atuando cada vez mais em segmentos e mercados diferentes, não sendo apenas uma empresa de abate de bovinos. Como, por exemplo, as vans de distribuição de carne do JBS-Friboi, com venda direta no varejo; e os confinamentos para o próprio abastecimento.

Hoje, o Marfrig é a maior empresa de carne bovina da Argentina, o maior processador de frango do Reino Unido e a maior empresa privada do Uruguai.

Esse grande crescimento na indústria frigorífica provocou mudanças na dinâmica de trabalho entre o pecuarista e o frigorífico, gerando a necessidade de se adequar para trabalhar nesse novo cenário. O ponto principal é o poder de barganha nas negociações de compra e venda.

Sustentabilidade

Outro desafio é a questão da sustentabilidade, tema cada vez mais importante e que cada vez mais influencia o mercado da carne significativamente. Há um ano, o Greenpeace lançou um relatório intitulado “A farra do boi na Amazônia” que causou grande impacto no mercado externo, em especial entre marcas (globalmente conhecidas) que foram citadas como clientes da pecuária da Amazônia e co-responsáveis pelo desmatamento.

As principais empresas compradoras de couro do mundo passaram a exigir certificações que garantissem que o produto não vem de animais produzidos em áreas de desmatamento ilegal.

Toda essa exigência teve início devido a manifestação de uma entidade externa a cadeia de produção, o Greenpeace. Há 10 anos, a força de entidades que estavam fora do ciclo de produção era fraca, hoje em dia faz muita diferença, principalmente quando ocorre o ataque a marcas globais.

No mesmo sentido, um dos maiores clientes dos frigoríficos, os supermercados, através da ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados, fizeram uma tentativa de implantar um programa de certificação da carne bovina, que responsabilizava os frigoríficos por toda a cadeia de produção, da cria até o abate. O programa ainda não teve sucesso nem continuidade, pois os frigoríficos não aceitaram tais imposições. Existe uma brincadeira que diz “que foi mais fácil fazer um acordo com o Greenpeace do que com a Abras”. Isso também pode ser entendido como uma demonstração de força dos frigoríficos, dizendo que eles também são grandes e não vão aceitam uma imposição que vem de cima para baixo, sem a discussão.

A questão da sustentabilidade está mudando até as regiões geográficas de produção de bovinos no Brasil. Os novos projetos de pecuária não estão mais considerando apenas fatores como o preço da terra, a qualidade do solo, o índice de pluviosidade, o acesso, a proximidade com os frigoríficos, mas se existe alguma restrição ambiental na região.

Na região amazônica existem muitos desafios e restrições em relação a expansão de áreas, fazendo com que a expansão ocorra em estados do nordeste, como a Bahia.

Outro ponto de desafio é a questão dos programas de rastreabilidade e certificação que, provavelmente serão exigidos juntamente com os conceitos de sustentabilidade pelos consumidores externos, e assim poderão, enfim, funcionar efetivamente.

Lá atrás, o Pedro de Camargo Neto (Abipecs) fazia uma brincadeira: “Será que vai ser preciso que os japoneses venham ao Brasil nos ensinar a vacinar?”. Parece que isto está acontecendo com a certificação. Tudo indica que as pressões por sustentabilidade é que vão conseguir impulsionar um programa programa de rastreabilidade efetivo no Brasil.

Mas já tem gente trabalhando para fazer desse limão uma limonada. Algumas empresas passaram a aproveitar esse novo nicho de mercado – sustentabilidade – para se posicionar como empresa responsável e sustentável. O Marfrig lançou um programa para estimular a prática sustentável entre os pecuaristas. O objetivo é cadastrar, certificar e regularizar seus fornecedores, oferecendo prêmios para aqueles mais comprometidos com as questões ambientais, como viagens para assistir a Copa na áfrica do Sul.

Ações como essa estimulam os fornecedores a melhorar, ajudam a fazer propaganda de suas marcas e ainda posicionam a indústria como uma empresa responsável e preocupada com a questão ambiental.

Isso é um mudança na forma das empresas trabalharem a comunicação para mostrar que estão trabalhando, agindo de forma pró-ativa. “Nunca tinha visto um anúncio de frigorífico de bovinos no Estadão de domingo. Muito menos falando sobre sustentabilidade, mas o Marfrig fez isso”.

Foco no Consumidor

Outro ponto a ser trabalhado é a produção com foco no consumidor, através da criação de marcas de carnes e selos de qualidade. Uma particularidade desse nosso produto é o seu significado intrínseco. A carne é o centro do prato, é sinônimo de festa, comemoração e entretenimento.

Será que dá pra fazer?

Se existem até marcas de melão, com embalagem diferenciada e garantia de sabor diferenciado, por que não fazer o mesmo com a carne? E não é um mercado apenas para classes altas, tem consumidor exigente em todas as classes e que estão dispostos a pagar pela qualidade e satisfação. Esse melão da redinha, pode ser encontrado em São Paulo, Piracicaba/SP ou em São Miguel do Araguaia, no norte de Goiás.

Desafios para os pecuaristas para os próximos anos

Um dos maiores desafios é a gestão dentro da fazenda. Segundo o livro “O Verdadeiro Poder” do consultor gerencial Vicente Falconi, a base de um negócio é o conhecimento técnico aliado aos métodos de como fazer e como executar. Ou seja, não só saber, ter conhecimento, mas saber colocar em prática.

O ciclo PDCA (do inglês Planejar, Executar, Checar, Agir) é uma ferramenta gerencial muito utilizada nas empresas. Segundo Falconi, a etapa “checar” é a mais importante, pois pode-se ver o que está sendo feito e o que precisa ser adequado. Esse gerenciamento é vivido nas grandes empresas de sucesso do Brasil e se adequa também às empresas pecuárias.

O grande desafio fora da fazenda é a formação de associações de pecuaristas, a fim de aumentar o poder de barganha, fortalecer a liderança setorial e agregar valores aos produtos.

Com tantos desafios e oportunidades, a cadeia de produção deve pensar em algumas questões para garantir seu crescimento, desenvolvimento de forma eficiente e sustentável:

• Como ter lucros, mesmo com a concentração da indústria?
• Qual resposta o setor produtivo dará a questão de sustentabilidade?
• O que eu posso fazer de diferente nos próximos 30 dias para melhorar a minha situação? E nos próximos 12 meses?

O que fazer a partir de agora pode ser resumido na frase de Peter Drucker “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Ele diz que criar o futuro é uma atividade arriscada, mas é menos arriscada do que não fazer nada. E não é pensar apenas no que você vai fazer amanhã, mas sim no que você vai fazer hoje.

Esse artigo é baseado na palestra Tendências e Perspectivas para a Cadeia da Carne Bovina Brasileira, apresentada por Miguel da Rocha Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, no Workshop BeefPoint Mercado do Boi, realizado pela AgriPoint em maio 2010.

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O evento aconteceu em 20 de maio e foi um grande sucesso. Todas as palestras foram gravadas. Aproveite e encomende o box com os DVDs contendo o vídeo de todas as palestras, na íntegra.

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1 Comment

  1. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Que maravilha de apresentação,tema muito bem esmiuçado,muito bom mesmo,com propostas,com alertas,parabéns!

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

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