Análise semanal – 22/04/04
22 de abril de 2004
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26 de abril de 2004

Tomadas de decisão em confinamento de bovinos de corte

Por José Antônio de Freitas1

A pecuária tem se destacado na economia do país como um dos setores produtivos de maior importância haja vista o grande número de empregos gerados (7,5 milhões) e o elevado faturamento anual do setor (US$ 13,7 bilhões), no ano de 2003.

Atualmente possuímos o maior rebanho comercial do mundo cuja população estimada é de aproximadamente 168 milhões de cabeças sendo que a maior parte deste efetivo é constituído de bovinos de origem zebuína ou de seus mestiços, os quais são criados em condições extensivas numa área abrangendo aproximadamente 225 milhões de hectares.

Entretanto, ao analisarmos os índices zootécnicos do rebanho nacional nota-se que estes necessitam passar por grandes melhorias até que sejam considerados satisfatórios haja visto o baixo índice de desfrute (20,5%) e a baixa taxa de lotação das pastagens (1,34 animais/hectare).

A possibilidade de utilização de grandes quantidades de subprodutos da agroindústria como poupa cítrica, casquinha de soja, resíduos de beneficiamento de feijão, dentre outros. Outro fator que pode podem favorecer a produção de carne no sistema de confinamento seria a grande valorização das terras localizadas próximas aos grandes centros consumidores.

O confinamento de bovinos de corte é um sistema de produção que, se bem conduzido, pode produzir carcaças de melhor qualidade quando comparado ao sistema extensivo, podendo também contribuir para reduzir a idade de abate dos bovinos aumentando assim o índice de desfrute do rebanho e a rentabilidade do produtor. Entretanto, o confinamento, assim como outros sistemas de produção, carece de uma série de tomadas de decisão que se não executadas corretamente e no momento certo podem levar ao fracasso na atividade.

Dentre os pontos mais importantes relacionados à tomada de decisão em sistema de confinamento destacam-se a aquisição, alimentação e venda dos animais. Na aquisição dos animais devem ser levados em consideração as características indicativas de ganho dos mesmos como grupo zootécnico, tamanho à maturidade, grau de acabamento e potencial para ganho de peso, dentre outras. Animais mestiços provenientes de raças taurinas que apresentam elevado peso à maturidade (Charolês e Simental) podem ganhar maior quantidade de massa por unidade de tempo em detrimento aos mestiços originários de cruzamento entre zebuínos e raças taurinas de pequeno porte à maturidade (Aberdeen Angus, Hereford), por outro lado, os primeiros devem ser abatidos a um maior peso corporal visando um adequado grau de marmoreio. Deste modo, a escolha de um ou outro grupo zootécnico a ser utilizado dependerá, dentre outros fatores, da duração do confinamento, pois quando se dispõe de um período mais curto os animais utilizados deverão apresentar rápido acabamento e nestes casos os cruzamentos entre zebuínos e taurinos de menor peso à maturidade são os mais indicados.

Apesar da relevância mencionada aos aspectos produtivos, especial importância deve ser dispensada ao preço de compra e venda dos animais, pois este pode constituir no fator econômico de maior importância no processo de aquisição uma vez que, boa parte do ganho de capital no sistema de confinamento pode ser atribuído à diferenças entre os preços de compra e de venda dos bovinos. Neste sentido torna-se de suma importância que se faça, antes do início do confinamento, uma previsão do preço da arroba para a época de venda dos animais e que, de preferência, que a época prevista para venda coincida com o período da entressafra onde o preço da arroba tem atingido valores máximos.

A nutrição adequada também se faz importante em qualquer processo de produção de bovinos, portanto, apesar da grande importância do uso de rações balanceadas para crescimento e engorda de bovinos, o ponto crítico dentro dos aspectos nutricional e econômico do confinamento parece ser a escolha correta dos alimentos utilizados no balanceamento das rações. A proporção volumoso:concentrado a ser utilizada bem como a qualidade do volumoso são pontos cruciais. Maiores proporções de volumoso de boa qualidade têm resultado em rações de menor custo final, desde que as exigências nutricionais sejam atendidas.

Vale salientar que a melhor relação volumoso:concentrado não deve ser fixada pois, esta relação depende também dos “custos relativos” dos concentrados utilizados e do ganho de peso almejado. O “custo relativo” de um alimento pode ser expresso em unidade monetária por unidade do nutriente no alimento. Como as entidades nutricionais de maior custo são a proteína e energia então o “custo relativo” de um alimento pode ser expresso em R$/unidade protéica ou por unidade energética. O uso de tal relação pode expressar melhor o custo de um alimento e ajudar a decidir quais alimentos entrarão na constituição de uma determinada ração.

Outra decisão importante a ser tomada durante o planejamento de um confinamento seria o período no qual os animais permanecerão confinados. Tal decisão nos permite ter uma noção mais exata da quantidade de alimentos a ser utilizada além de permitir estimar o retorno econômico da atividade baseado nas projeções do preço de venda da arroba, obtida através de cotações futuras. Redução no período de confinamento pode ser necessária e benéfica economicamente desde que esta decisão não afete o peso do animal nem o grau de acabamento da carcaça exigido pela indústria. Deve-se analisar, porém, se o aumento no gasto da alimentação, imposto para se obter maior ganho de peso e então promover uma antecipação no abate compensa o maior preço pago.

No confinamento, como em outras atividades agrícolas e pecuárias, o sucesso na atividade está relacionado aos acertos no conjunto de tomadas de decisão que envolvem o sistema produtivo e deste modo, uma única decisão equivocada pode comprometer de vez a permanência da atividade no setor produtivo.

Referências bibliográficas

Revista Cultivar. Ano1. n.4. Fevereiro 2004.

TOELLE, V.D., TESS, M.W., JOHNSON, T., ANDERSEN, B.B. Lean and fat patterns of serially slaughtered beef bulls fed different energy levels. Journal of Animal Science.v.63.n.8. p.1347-1360.1986.
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1José Antônio de Freitas é doutorando do Departamento de Zootecnia – UFV – Viçosa/MG

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  1. Maurício cesar lopes do Nascimento disse:

    Muito bom o artigo do colega, resumido, direto e prático como tem de ser as decisões em confinamento.