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Uma agropecuária lucrativa sempre despertará o interesse dos jovens, desde que entendam que é preciso ter a camisa molhada [Fernando Penteado Cardoso]

O BeefPoint lançou seu prêmio mais importante do ano para reconhecer e celebrar quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.

Nosso trabalho é focado em 3 pilares: conhecimento, relacionamento e inspiração. Tudo isso com foco em uma pecuária mais moderna, lucrativa e eficiente. Realizar um prêmio que seja uma festa e uma homenagem a essas pessoas especiais da pecuária de corte é a melhor maneira que encontramos para trazer inspiração a todos os envolvidos na cadeia da carne. Celebrar e destacar os bons exemplos é o caminho que encontramos e por isso sempre realizamos o Prêmio BeefPoint.

A premiação ocorreu durante nosso maior evento de 2013, o BeefSummit Brasil, que reuniu mais de 1.000 pessoas em Ribeirão Preto, SP, nos dias 10 e 11 de dezembro de 2013.

A cerimônia de entrega dos prêmios e divulgação dos ganhadores foi no final do dia 10 de dezembro, após as palestras e antes do coquetel com Chopp Pinguim e degustação de carnes especiais.

Para conhecer melhor os finalistas de cada categoria, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um deles.

Confira abaixo a entrevista com  Fernando Penteado Cardoso, um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Brasil na categoria – Produtor Pioneiro

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Após a transferência do controle acionário da Manah, sua família destinou recursos para uma Fundação que desse continuidade à ação da empresa de financiar pesquisas agrícolas bem como a divulgação dos resultados a técnicos e a produtores.

Foi presidente executivo da Fundação Agrisus por 10 anos e, agora, colabora na análise dos projetos e  aconselhando sobre investimentos do patrimônio inicialmente doado pelos fundadores.

O afastamento se justifica face ao horizonte realista dos privilegiados que chegam aos 99 anos com razoável saúde física e mental.

Após as mais variadas atividades agropecuárias, seja no cerrado, na floresta da Amazônia e na mata atlântica do Norte do Paraná, em terras tanto pobres como super  férteis, Fernando Cardoso limita-se hoje a uma propriedade em Mogi Mirim/SP. Uma fazendola em terra roxa muito fértil de início, aberta para cafeeiros lá pelos anos 1880. O solo degradou-se no correr do tempo por erosão e exaustão.

Após anos e anos de recuperação e variadas culturas, dedica-se hoje a cultura de cana no sistema de plantio direto e a criação de animais da raça Nelore, para venda de bezerros de corte, com observações sobre temperamento e antecipação da puberdade das novilhas.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do Brasil hoje?

Fernando Cardoso: A pecuária é uma atividade em que os animais transformam seu alimento em alimento para o homem, seja carne ou leite. Ela se fundamentou, inicialmente, em forragem muito barata de pastoreio em campos nativos, varjões e caatingas onde os animais comem folhas de arbustos. A seguir vieram as pastagens plantadas seja em terras pobres de cerrado, seja em mata alta de clima favorável da Amazônia, produzindo nos dois casos forragem de baixo custo. O grande desafio de nossos dias é continuar produzindo forragem barata para suportar um criatório competitivo.

BeefPoint: O que o setor poderia fazer para aumentar sua competitividade no Brasil?

Fernando Cardoso: Vai ser muito difícil repetir os baixos custos da situação pioneira, a não ser no caso específico de plantar capins no intervalo das culturas de verão. Os demais recursos forrageiros, sejam de pastos adubados, seja de alimentação a grão, serão de maior custo do que nos procedimentos dos tempos de antanho. Os consumidores terão que se conformar com preços mais altos, fato já comprovado  pelos custos que condicionam, por exemplo, a pecuária de corte dos EUA, do Japão e de outros.

BeefPoint: Você poderia nos contar sobre os acertos? O que fez e deu certo em sua carreira? Qual a sua maior realização?

Fernando Cardoso: Na vida comercial a gente tanto erra como acerta.

Os erros são remediados e esquecidos, os acertos são cultivados com persistência e com devoção. Sem dúvida minha maior realização profissional foram os adubos Manah. Começamos moendo e misturando cinzas durante a guerra dos anos 1940. Terminamos como a segunda maior empresa do país em vendas ao consumidor final. Nossa marca recebeu o registro de “notória” e o slogan “com Manah adubando dá” atingiu uma penetração inestimável.

Junto a meu colega Eduardo Camargo, nos dedicamos de corpo e alma em bem servir a lavoura. Com tenacidade, amor a profissão e um pouco de sorte, chegamos onde chegamos. Essa a nossa  maior realização.

A lembrar  também a incursão da Manah pela pecuária a fim de fazer jus aos incentivos fiscais. No Sul do Pará, tivemos um rebanho produtor de bezerros de corte. Em Brotas/SP, por indicação do colega Fausto Pereira Lima, apostamos no  Nelore importado nos anos 1870. Deu certo.

Demos à linhagem o nome do importador premonitório do século XIX, Sr. Manoel Lemgruber. Preservamos e melhoramos o Nelore antigo cujos descendentes têm hoje seu sangue difundido em grande parte do rebanho nacional, inclusive em animais de elite. Foi igualmente uma realização gratificante.

BeefPoint: Todos  sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Fernando Cardoso: Mencionei anteriormente a explicação dos erros e dos acertos. Os pequenos erros foram superados e esquecidos. Grandes erros felizmente não ocorreram.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Fernando Cardoso: Sinto-me em uma fase da vida em que os resultados não são mais pecuniários ou relacionados à promoção social. A gente se sente realizada quando o trabalho tem uma face de utilidade para com terceiros. Ser útil passou a ser um ideal e até uma obrigação de retribuir a quem de direito o muito que se recebeu para alcançar  algum sucesso na vida.

Ultrapassar mais de 1000 projetos examinados pela Fundação Agrisus foi, sem dúvida, um resultado que me trouxe conforto e alegria.

Sim, a satisfação de estar sendo útil para terceiros. No caso, estar sendo útil para os produtores envolvidos na conservação e melhoramento do solo, com vistas o interesse das futuras gerações que nos sucederão.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Fernando Cardoso: Continuar a função de “guru”. Para merecer o ofício, ler artigos técnicos, frequentar eventos que possam enriquecer o conhecimento, relacionar-me com especialistas para discutir o que pode ser bom para os produtores e para o país. Bem entendido, tudo isso enquanto eu tiver gás.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Fernando Cardoso: A resposta é curta e grossa. Os jovens almejam ganhar dinheiro, ou renome, ou ambos.

Uma  agropecuária lucrativa e honrosa sempre despertará o interesse dos jovens ambiciosos, desde que entendam que é preciso ter a camisa molhada, persistindo sempre. Uma carreira técnica também poderá ser bem sucedida independente de cifras, atraindo os jovens de pendor científico, dispostos igualmente a se afastarem da sombra e água fresca. Nos dois exemplos é preciso amar a profissão e ter pertinácia.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuarista do futuro do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Fernando Cardoso: Hoje em dia é difícil definir pecuarista, tal o número de criadores relacionados a outras atividades ou ligados a grupos financeiros, quando o criatório é gerido por terceiros.

Em  anos passados, quando envolvido na Manah, dois empreendimentos ficaram registrados em minha memória: a  fazenda Corumbiara, localizada em Rolim de Moura/RO e a fazenda S. Francisco, em Magda/SP, a primeira produzindo bois de corte, a segunda tourinhos para reprodução. Existem muitas outras, certamente, inclusive a fazenda Mundo Novo em Uberaba/MG, ora de meus filhos, dedicada à linhagem Lemgruber.

Beefpoint: Por que você acha que foi finalista do Prêmio BeefPoint Brasil?

Fernando Cardoso: Surpreendido com a notícia comecei a conjeturar. Seria pela  Manah, pela Agrisus, pelos Lemgruber, ou seria um afago a um esalqueano de 1936, apaixonado pela agronomia? Sei não, pois a classe agronômica prima pelas gentilezas e reconhecimentos por vezes exagerados.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?

Fernando Cardoso: Lembrem-se sempre que o boi é apenas um transformador de capim ou grão em carne e leite. Tanto a criação como o melhoramento se baseiam nessa  transformação. Cuidem da forragem para ter sucesso.

2 Comments

  1. Andre Bartocci disse:

    Que bom ler estas palavras, a pecuária brasileira é gigante porque tivemos e ainda temos pessoas com idéias claras e conceitos contemporâneos.
    Pessoas como o Sr Fernando desenharam e construíram a Moderna Pecuária Brasileira.
    OBRIGADO.
    André Bartocci

  2. Jose Ricardo S Rezende disse:

    Sensacional entrevista.

    É um imenso prazer ouvir tudo que o Sr Penteano tem a dizer. Sabedoria e simplicidade juntas. A clareza em apontar o fim do ciclo de expansão de fronteiras agrícolas, com a paralisação das aberturas de novas área, que propiciaram por décadas pastagens baratas em cima de terras férteis, e o consequente aumento do custo de produção, com elevação dos preços da carne aos consumidores, e o inicio de uma nova fase de integração lavoura pecuária é absoluta.

    E que capacidade de ser direto. Sua resposta ao que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária é mais um exemplo disto : “Os jovens almejam ganhar dinheiro, ou renome, ou ambos.” É isto mesmo. Ambição absolutamente saudável, que move o jovem do campo ou da cidade.

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