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Uréia para receptoras de embrião

No Brasil, a utilização de uréia para receptoras de embrião sempre foi controversa. Diferentes opiniões e relatos de experiências existem a este respeito. Se por um lado existe um risco potencial de danos a reprodução quando se utiliza este tipo de componente da dieta, esta alternativa apresenta-se como muito interessante no manejo das receptoras, principalmente no período das secas. Diante destes fatos a questão é a seguinte: vale a pena arriscar?

Em 1770, o cientista alemão Rouelle identificou a uréia, e, em 1828, ela foi sintetizada pela primeira vez; porém, industrialmente, admite-se que ela começou a ser fabricada em 1870. A capacidade dos ruminantes em converter o nitrogênio não-protéico em proteína microbiana foi verificada a mais de 130 anos, em 1879.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), na Alemanha, por causa da dificuldade de obtenção dos alimentos protéicos convencionais, tortas e farelos das oleaginosas, a uréia foi muito utilizada na alimentação dos bovinos como fonte protéica das rações, visando à produção de leite e carne. Assim, na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos, foram intensificadas as pesquisas relativas à utilização da uréia na alimentação de bovinos e ovinos, objetivando principalmente reduzir o custo das rações.

No Brasil, a utilização de uréia para receptoras de embrião sempre foi controversa. Diferentes opiniões e relatos de experiências existem a este respeito.

Se por um lado existe um risco potencial de danos a reprodução quando se utiliza este tipo de componente da dieta, esta alternativa apresenta-se como muito interessante no manejo das receptoras, principalmente no período das secas. Diante destes fatos a questão é a seguinte: vale a pena arriscar?

Minha resposta: desde que seja utilizada de forma correta, acredito que não somente valha a pena, mas que a manutenção, de forma econômica, de boa taxa de gestação em receptoras mantidas a pasto, na época das secas, passe pela utilização da uréia. A uréia é a fonte de proteínas mais interessante economicamente para estes animais.

Sem utilização da uréia é muito difícil que se consiga, em receptoras exclusivamente a pasto, ganho de peso, ou seja, balanço positivo, que é imprescindível para uma boa taxa de gestação.

Utilizamos uréia nas receptoras na época das secas a mais de 5 anos. Introduzimos a uréia na dieta na tentativa de manter o ganho de peso das receptoras na época das secas. Além de conseguir manter o ganho de peso, nunca observamos diferença de resultados quando a uréia foi introduzida. Os resultados podem ser observados no gráfico abaixo.

Na época das águas as receptoras receberam apenas mistura mineral, com um consumo médio de 70g/animal/dia. Na época das secas esta mistura mineral foi adicionada de Milho triturado, farelo de algodão e Uréia. Esta última num percentual de 10%. O consumo médio desta mistura foi de 430g/animal/dia.

Figura 1. Condição corporal das Receptoras na época das Secas e Águas

Qual o segredo para que a uréia traga, ao contrário de prejuízo, melhoria no desempenho reprodutivo das receptoras. A correta utilização. Para que isto seja feito é importante entender como o ruminante aproveita a uréia e outras fontes de nitrogênio não protéico.

Estas fontes de Nitrogênio são convertidas no rumem em amônia. Esta amônia tem dois destinos: ser absorvida, o que não é desejável. O outro destino é ser utilizada pelas bactérias do rúmen, o que se procura. Para que a uréia seja utilizada pelas bactérias é imprescindível que haja uma fonte de carbohidratos solúvel (milho). Assim, quanto maior a disponibilidade de carbohidratos solúveis ingeridos junto com a uréia menor o risco de absorção da amônia formada no rumem (Figura 2).

Figura 2. Esquema de utilização de Uréia e outras fontes de Nitrogênio (Proteína) na Dieta do Ruminante

Para utilização da uréia, a composição de energia da dieta deve ser considerada. Os efeitos deletérios da proteína dietética ocorrem principalmente quando existe na dieta excesso de proteína degradável no rúmen sem quantidade de fonte suficiente de carbohidratos, pois esta é rapidamente convertida a amônia, absorvida e reconvertida em uréia pelo fígado. O aumento da uréia circulante poderia alterar o ambiente uterino e prejudicar o desenvolvimento do embrião.

Resumindo, se utilizada de forma correta, ou seja, juntamente com uma fonte de carbohidratos solúveis, além de não provocar qualquer prejuízo a fertilidade, pode proporcionar um maior ganho de peso nas receptoras na época das secas, imprescindível para boa taxa de gestação.

13 Comments

  1. Christian Liber Ramos disse:

    Parabéns pelo artigo Dr. Fernandes… Assunto muito questionado em minha região!!! Nos deixa mais confiantes nas recomendações de suplementação no período seco!!! E com relação aos touros, qual a sua opinião??? A utilização da uréia pode causar algum dano na fertilidade??? Para os tourinhos ainda em crescimento, poderia prejudicar o desempenho futuro???

    aguardo

    att.

    Christian Liber
    Zootecnista

  2. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezado Christian Liber Ramos
    Obrigado pelos comentários. O problema de uso indevido de ureia também pode afetar os machos. Porém se utilizada de forma correta, com a devida quantidade de fontes de Carbohidratos, nao haveria problemas.

  3. Rodrigo Carneiro de Campos de Azambuja disse:

    Parabéns pelo artigo Dr. Fernandes, claro e objetivo…

  4. Moacyr Fiorillo Bogado disse:

    O percentual de ureia não seria de 10% da mistura? No artigo está descrito apenas 1%, que me parece despresível, a considerar oconsumo de 430g./dia que representaria 4,3g./dia de uréia.

    Moacyr.

  5. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezado Rodrigo Carneiro de Campos de Azambuja, muito obrigado pelo seu comentário.

  6. Lis Élen Campos Guse disse:

    Artigo muito interessante, parabéns!

  7. Silvanei Aparecido Mendes disse:

    interessentante, mais uma alternativa para cada técnico fazer um experimento nas propriedades e tirar nossas proprias conclusões

  8. fernando scotta disse:

    Residente em Gurupi, regiao Sul do Tocantins, e que prioriza em sua grande maioria na pecuária de corte, a atividade de cria, é muito comum este questionamento, não só por produtores, mas principalmente por técnicos. Como Zootecnista, sempre estimulei os beneficios da uréia, desde que bem utilizada, com adaptações e uso conjunto com uma fonte energética. Alguns Veterinários, talvez por desconhecimento a fundo em nutrição animal, sempre bateram contra o uso de uréia para vacas gestantes no período seco. Seu artigo trouxe, de maneira simples, mais infirmações para elucidar o fato de que a uréia é um dos mais importantes ingredientes a ser utilizado em nutrição animal, com ótima relação custo benefício. A maior barreira ainda do maior uso da uréia e seus benefícios é a falta de conhecimento e o preconceito.
    Fernando Scota – Zootecnista – SCOTTA Consultoria Agropecuária

  9. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezado Moacyr Fiorillo Bogado. Vocë esta correto. Existe um erro de grafia. Seria realmente 10% de ureia na mistura mineral. Obrigado pela indicaçao. Ja solicitei a correçcao do artigo. Carlos

  10. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezada Lis Élen Campos Guse”. Obrigado pelo comentário. Carlos

  11. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezado fernando scotta. Se o artigo foi interessante para voce, cumprimos nosso objetivo. Obrigado pelos comentários

  12. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Prezado Silvanei Aparecido Mendes, obrigado pelo comentário. Carlos

  13. Ricardo Ferreira da Silva disse:

    Prezado Sr. Fernado, ficaria agradecido se pudesse apresentar a formulacao para 01 Kg da mistura e tambem, se possivel, definir o percentual de milho triturado e farelo de soja. E´ possivel essa mistura com a utilizacao de cana substituindo o milho e o farelo de soja? Caso isso nao seja possivel, poderia a mistura ser formulada com uso somente de milho e cana, dois produtos que posso produzir na minha propriedade. O milho poderia ser triturado com sabugo e a palha? Desculpe se estendi demais. Novamente agradeco. Ricardo

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