Ativos x Passivos
7 de fevereiro de 2002
Fechamento – 12:20 – 13/02/02
13 de fevereiro de 2002

Uso de leguminosas em sistemas de produção. 3. Soja perene

A soja perene (Neonotonia wightii) é uma leguminosa de origem da África tropical e subtropical, especialmente das regiões ocidentais. No Brasil, a soja perene foi cultivada principalmente do Estado de São Paulo para o Norte, ou seja, em regiões onde as condições de pluviosidade e fertilidade do solo eram favoráveis. O seu hábito de crescimento é volúvel, ou seja, trepadora, com desenvolvimento lento no primeiro ano, propiciando boa produção de matéria seca a partir do segundo ano (5-6 t/ha/ano), com teor de PB ao redor de 16-20%. A soja perene apresenta moderada tolerância à geada, à seca e ao fogo.

Esta leguminosa requer solos férteis, com pH para seu desenvolvimento em torno de 6,0, é exigente em fósforo, e como outras leguminosas, também requer a adubação com micronutrientes (Zn, Cu, Mo) na sua implantação. O plantio pode ser feito em linhas ou a lanço, com cerca de 2 a 3 kg de sementes/ha. Relatos indicam que a soja possa fixar o equivalente a 70 a 120 kg de N/ha/ano, podendo chegar a valores ao redor de 203 kg/ha/ano.

O desconhecimento das práticas adequadas de manejo da soja perene, como para outras leguminosas, contribuíram para o insucesso no seu estabelecimento em sistemas de pastagens consorciadas. Por outro lado, o manejo correto resultou em boa produção de sementes e persistência da leguminosa em localidades onde se conseguiu sucesso com a consorciação com gramíneas ou mesmo em áreas exclusivas. Segundo Werner (2002, comunicação pessoal), para o bom estabelecimento da soja perene, assim como de outras leguminosas, é fundamental a adubação com 200g/ha de Molibdato de Sódio, para suprir as exigências de molibdênio.

Na tabela 1 é apresentada a composição química da soja perene:

Lourenço et al. (1998) compararam o desempenho de bovinos em pastagens de Green Panic fertilizada com nitrogênio ou em áreas exclusivas de soja perene, durante 4 anos consecutivos, com pastejo contínuo. As pastagens de Green panic foram adubadas inicialmente com fósforo e anualmente com 75 kg de N/ha ao final de cada período chuvoso. A soja perene, além da adubação fosfatada, recebeu os micronutrientes Zn, Cu e Mo. Foram utilizados bovinos da raça Sta. Gertrudes e Nelore, com idade aproximada de 12 meses. A carga animal usada foi de 500 kg de PV/ha, ajustada anualmente no final do período das águas.

Os resultados obtidos para ganho individual e por unidade de área são mostrados na tabela 2, onde é possível observar que a leguminosa possibilitou maiores ganhos por animal e por unidade de área do que as pastagens de gramínea. No último período os ganhos foram menores pois segundo os autores utilizou-se animais mais velhos e portando mais pesados.

Tabela 2: Ganhos de peso vivo diário e por unidade de área de bovinos de corte em pastagens de green panic adubado ou em soja perene exclusiva

Como esperado e não mostrado, foi observado melhor desempenho dos animais durante o período das águas. Os animais dos pastos de leguminosas ganharam mais peso do que os dos pastos de gramínea durante o período da seca. No início das águas, no período de rebrota do capim, os animais no green panic apresentaram ganhos mais elevados. Entretanto, esse fato não foi suficiente para os animais dos pastos de capim ganharem pesos semelhantes aos dos animais dos pastos de leguminosas durante o ano (período). Os autores relatam que nos pastos de soja perene observou-se um aumento de 30% da matéria orgânica do solo entre o início e o final do período experimental. Nota-se uma diminuição do desempenho animal do primeiro para o último ano (período), mais acentuado nos pastos de gramínea do que de leguminosa.

Em outro trabalho, Lourenço et al. (1992) compararam a consorciação de capim colonião com soja perene com capim colonião exclusivo, adubado com 75 kg de N/ha/ano, durante 3 anos consecutivos. Neste trabalho os ganhos dos pastos consorciados foram semelhantes ao dos pastos exclusivos de gramínea com adubação nitrogenada, com ganhos de peso médios diários de 459 e 461 g/d, respectivamente. Neste trabalho, segundo os autores, a contribuição da leguminosa em termos de presença foi pequena, porém suficiente para proporcionar ganhos de peso semelhantes aos da pastagem exclusiva de gramínea adubada, com uma mesma taxa de lotação.

Em resumo, a soja perene quando implantada e manejada de maneira adequada, pode ser utilizada como componente de pastagens consorciadas, permitindo melhor balanço protéico na dieta de bovinos, especialmente no período seco, além de permitir melhoras no aspecto qualitativo do solo.

Bibliografia Consultada:

Peixoto, A. M.; Moraes, S. C. L. de; Próspero, A. O. Contribution to the study of chemical composition and the digestibilty of the hay of Glycine javanica. In: Congresso Internacional de Pastagens, 9., Anais…São Paulo, 1965, p. 791-796.

Lourenço, A. J.; Boin, C.; Alleoni, G. F. Desempenho de Bovinos em Pastagens de soja perene exclusiva e Green Panic Fertilizado com Nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 27, n. 1. P.16-22. 1998.

Lourenço, A. J.; Delistoianov, J.; Bortoleto, O.; Boin, C. Desempenho de bovinos de corte em pastagens de Capim-colonião exclusivo e consorciado com soja perene, complementados com banco de proteína. Boletim da Indústria Animal, v. 49, n. 1. p.1-19. 1992.

Mitideri, J. Manual de Gramíneas e leguminosas para pastos tropicais. Nobel, Ed. Universidade de São Paulo. 1983. 197p.

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