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Utilização do eCG em protocolos de IATF em gado de corte

Por Alexandre H. Souza, Henderson Ayres, Pietro S. Baruselli1

O eCG é um hormônio glicoproteico secretado pelos cálices endometriais de equinos gestantes. Este hormônio têm ação FSH e LH, e seu uso é indicado em rebanhos com baixa taxa de ciclicidade, em animais recém paridos (período pós parto inferior a 2 meses), em animais com condição corporal comprometida e em primíparas (vacas de primeira cria). Neste artigo serão apresentados alguns resultados interessantes de experimentos recentes (Baruselli et al., 2003; Baruselli et al. 2004; Rodrigues et al. 2004) que avaliaram o uso do eCG associado a protocolos que utilizam progestágenos e estrógenos em vacas Nelore lactantes.

Na Tabela 1 estão apresentados os dados de uma pesquisa realizada com 215 vacas Nelore lactantes (75 &plusnm; 19 dias pós-parto) e mantidas em condições de pastejo extensivo no Estado de Mato Grosso do Sul (Baruselli et al., 2003). O grupo que recebeu eCG no momento da retirada do dispositivo apresentou maior taxa de prenhez após a IATF (38,9 vs 55,1%).

Tabela 1. Taxa de prenhez à inseminação artificial em tempo fixo de vacas Nelore lactantes tratadas com dispositivo intravaginal de progesterona (DP4) associado ou não ao tratamento com eCG na retirada do dispositivo (Dia 8).


a,b na mesma coluna (P< 0,05) Quando foi avaliada a condição ovariana dos animais tratados (Tabela 6), constatou-se que o efeito positivo do eCG aumentou conforme aumentou o grau de anestro. Nos animais cíclicos (com presença de CL) não se verificou efeito positivo do tratamento com eCG (Tabela 2). Tabela 2. Taxa de prenhez à inseminação artificial em tempo fixo conforme classificação da funcionalidade ovariana de vacas Nelore lactantes tratadas com dispositivo intravaginal de progesterona (DP4) associado ou não ao tratamento com eCG na retirada do dispositivo (Dia 8).


Um estudo posterior (Baruselli et al. 2004) verificou o efeito do tratamento com eCG em função da condição corporal dos animais no momento do tratamento de sincronização da ovulação. Nesse estudo foi avaliado um grande número de IATFs (n=1984) realizadas em vacas Nelore tratadas ou não com eCG no momento da retirada do dispositivo de progesterona. Analisou-se o efeito do escore de condição corporal no início do tratamento (escala 1-5) na taxa de concepção (Gráfico 1). Como podemos observar, o tratamento com eCG somente aumentou a taxa de prenhez nos animais com baixo escore de condição corporal (ECC ± 3). Em animais com satisfatória condição corporal (> 3) não foi verificado efeito positivo do tratamento com eCG na taxa de concepção. Sabemos que a condição corporal esta freqüentemente relacionada à ciclicidade. Assim, animais com boa condição corporal apresentam alta taxa de ciclicidade, o que dispensa o tratamento com eCG.

Gráfico 1. Taxa de concepção de vacas Nelore lactantes (n=1.984) tratadas com ou sem eCG no momento da retirada do dispositivo intravaginal de progesterona conforme o escore de condição corporal.

Um outro estudo avaliou o efeito do eCG em protocolos para inseminação artificial em tempo fixo (IATF) a base de progestágeno e estrógenos em diferentes períodos pós-parto (DPP) de vacas Nelore lactantes. Os resultados do experimento realizado por Rodrigues et al. (2004) mostraram que o tratamento com eCG no momento da retirada do implante auricular de Norgestomet aumentou a taxa de concepção após a inseminação artificial em tempo fixo em vacas de corte recém paridas (Grafico 2).

Gráfico 2. Taxa de concepção à IATF de vacas nelore (n=298) tratadas com eCG de acordo com os dias pós-parto. Araraquara 2004.
Assim, estes dados mostram que podemos melhorar a taxa e prenhez em vacas de corte com baixa condição corporal, em anestro e antecipar o primeiro serviço pós-parto com a utilização do eCG em programas de sincronização da ovulação para IATF em vacas de corte.

Vale lembrar que o aumento da taxa de concepção em animais tratados com eCG pode estar relacionado ao incremento na taxa de ovulação, principalmente em animais em anestro e/ou ao aumento das concentrações plasmáticas de progesterona no diestro do ciclo estral subsequente à IATF, que pode melhorar o desenvolvimento embrionário e a manutenção da gestação. Logicamente, para que se tenha um resultado satisfatório à IATF, mesmo com a utilização do eCG, as condições mínimas de manejo devem ser espeitadas

Referências

Rodrigues, C.A.; Ayres, H.; Reis, E.L.; Madureira, E.H.; Baruselli, P.S. Aumento da taxa de concepção em vacas Nelore inseminadas em tempo fixo com o uso de eCG em diferentes períodos pós-parto. Anais da Sociedade Brasielira de Transferência de Embriões; 2004, abstr.

BARUSELLI, P.S.; MADUREIRA, E.H.; MARQUES, M.O.; RODRIGUES, C.A.; NASSER, L.F.; SILVA, R.C.P.; REIS, E.L.; SÁ FILHO, M.F. Efeito do tratamento com eCG na taxa de concepção de vacas Nelore com diferentes escores de condição corporal inseminadas em tempo fixo. Acta Scientiae Veterinarae 32 (suplemento), p. 228, 2004c.

BARUSELLI, P.S., MARQUES M.O., NASSER, L.F., REIS, E.L., BO, G.A. Effect of eCG on pregnancy rates of lactating zebu beef cows treated with cidr-b devices for timed artificial insemination. Theriogenology, v. 59, n. 1, p. 214.2003.
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1Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP.

0 Comments

  1. Antônio César Fernandes disse:

    O fato de o eCG ser um hormônio glicoprotéico (com peso molecular elevado se eu não estiver enganado), poderia induzir à formação de anticorpos após mais de uma aplicação, neutralizando este hormônio? É o que temos observado para receptoras de embrião, são utilizadas várias aplicações de eCG. Caso isto realmente ocorra, não deveríamos ter mais precauções na utilização, como observação de condição corporal, de acordo com o texto, anestros lactacinais, e número e/ou intervalos entre aplicações?

    Belíssimo texto.

  2. Irezê Moraes Ferreira disse:

    O eCG tenho utilizado com muito bom resultado em protocolos com vacas paridas e que apresentam ECC 2,5, e tem sido aplicado por ocasião da retirada do implante na dosagem de 400 UI.

  3. Márcio Flores da Cunha Chaiben disse:

    A resposta do uso de eCG pode ser alterada usando 300 ui em vez de usar 400 ui em novilhas e vacas nelores?

    Resposta do autor:

    Márcio,

    Existe a necessidade de mais experimentos para se comparar o efeito dose-resposta de eCG na taxa de concepção em vacas de corte. Porém, muitos dados de campo têm indicado que – para gado de corte (tanto vacas como para novilhas) – a dose de 300UI de eCG no final do protocolo funciona muito bem.

  4. Hatus Bezerra da Silva disse:

    O uso do eCG deve ser muito bem avaliado no protocolo, pois dependo do ECC não há necessidade, tudo que o autor escreveu é que estamos vendo aqui no rebanho do Pará. O que nós fazemos é uma avaliação completa das vacas para ter certeza que estão aptas a reprodução (exame ginecológico e ECC) lembrando que o uso do eCG honera ainda mais o protocolo de IATF.

    O que deve ser bem passado ao produtor é que ele deve comprar “sincronização” e não “indução de cio” e ser muito bem pensado quando for usar em gado de leite, pelo o que estou vendo as médias estão bem baixas comparando com gado de corte.

  5. Guilherme Treméa disse:

    Este trabalho mostra a eficiência do eCG em casos de animais com baixo grau de ciclicidade, baixo escore corporal e animais recém paridos. Gostaria de saber se a substituição do eCG pelo FSH vai gerar resultados semelhantes??
    Obrigado!!

  6. Henderson Ayres disse:

    Prezado Guilherme Treméa
    muito obrigado pelos elogios.
    Quanto a substituição do eCG por FSH, trabalhos nacionais das equipes de pesquisa da UNESP de Botucatu e da USP de São Paulo tem mostrado que o uso do FSH no momento da retirada da fonte de progesterona não apresentou resultado semelhante ao eCG. Logo a substituição pode ficar ao seu critério, mas estes estudos indicam que isso poderá levar a diminuição das suas taxas de concepção.

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