José Bento S. Ferraz
Na primeira parte deste artigo, tentamos situar o problema da baixa produtividade de nossa pecuária de corte. Nesta segunda parte, apresentaremos algumas estatísticas básicas a ela relacionadas, considerações a respeito dos custos de manutenção de touros na propriedade e o impacto direto do uso maciço de touros melhoradores.
Alguns dados estatísticos de nossa pecuária
O Quadro I apresenta algumas informações importantes para nossa simulação, referentes à nossa pecuária. Estas informações, retiradas de várias fontes, nos dão um panorama geral de nosso rebanho, além de algumas interessantes imagens a respeito de produtividade e nível atual de inseminação artificial aplicada .
Há que se destacar que o número de vacas inseminadas nos rebanhos de corte foi calculado com base no uso médio de 1,7 doses de sêmen por prenhez e nos dados de número de doses de sêmen vendidas em 1995, considerando-se, para fins de simplificação, que todas as doses vendidas foram utilizadas. Esta simplificação pode levar a pequenos desvios, mas nada que invalide, em grandes números, os percentuais de fêmeas atualmente inseminadas. Não se pretende aqui comentar de maneira crítica nossa produtividade. Os números falam por si. A produtividade média do rebanho nacional é extremamente baixa
Um exercício interessante: quanto custa manter um touro em monta natural?
Este trabalho não pretende aprofundar-se nas análises econômicas, mas tão somente levantar os principais tópicos relacionados com os custos envolvidos. Manter um touro em monta natural no rebanho pode parecer a solução mais barata para um criador, mas esse raciocínio é enganoso. Para estimar o custo de cada cobertura ou de cada bezerro filho de um touro, precisamos de algumas informações e suposições.
As primeiras suposições referem-se aos custos. Suponhamos que um animal seja adquirido por um preço de cerca de US$1,500.00. O custo variável com mão-de-obra, alimentação, vacinas, medicamentos, sal mineral, etc. pode ser estimado em cerca de US$360.00/ano, num total de US$2,160.00 nos seis anos de vida útil. O total dos custos, sem se considerarem os encargos, remuneração de capital, riscos, depreciação, reposição do animal e alguns custos fixos será de US$3.660,00 na vida útil do touro.
Um outro grupo de informações refere-se à produção de um touro, supondo-se que ele tenha uma vida útil de seis anos no rebanho, cobrindo 25 vacas por ano, num total de 150 acasalamentos em sua vida útil. Se 70% dos acasalamentos forem férteis (o Quadro I mostra que no Brasil a situação atual é de 50% de fertilidade), e que a mortalidade média até o abate seja de 15% (o Quadro I mostra 25%), cada touro terá noventa filhos abatidos em toda a sua vida útil, se considerarmos que todos os filhos vivos venham a ser abatidos.
Unindo-se as duas informações, teremos que o rateio do custo do touro pelos seus noventa filhos será de US$40.67/filho. Se considerarmos que o custo médio de uma dose de sêmen é de R$8.00, o custo de manter um touro em acasalamento natural no rebanho eqüivalerá a cerca de 5 doses de sêmen.
A pergunta mais importante no entanto é a respeito da qualidade genética do reprodutor. Qual a garantia que o criador tem a respeito da qualidade de um reprodutor adquirido pelo valor citado? Se o mesmo for oriundo de um rebanho geneticamente avaliado, melhor, mas isto não ocorre com 99,9% dos tourinhos comercializados no país. O prejuízo causado à pecuária do país pela utilização de touros não comprovadamente melhoradores é enorme, quase impossível de se mensurar. O uso de touros geneticamente superiores traria enormes benefícios.
Os impactos do uso da inseminação artificial
Os ganhos obtidos através da utilização intensa de inseminação artificial podem ser, para fins de facilidade de simulação e interpretação, divididos em ganhos diretos e ganhos indiretos.
Os ganhos diretos
Algumas pressuposições são essenciais ao raciocínio e à simulação. As primeiras premissas estão ligadas ao valor genético dos animais. Assume-se que o valor genético médio das fêmeas será zero, para produção de carne. No caso dos reprodutores, para facilitar o raciocínio, considerou-se apenas uma característica, o peso ao sobreano (dezoito meses) e a utilização de touros que tivessem uma DEP (Diferença esperada de progênie) de + 15,0 Kg.
Um outro grupo de premissas diz respeito ao número de doses de sêmen por prenhez, taxas de fertilidade e mortalidade do nascimento ao abate. As suposições são idênticas à média do rebanho brasileiro e estão contidas no Quadro I.
As simulações pressupõem ainda que se aumente a quantidade de vacas inseminadas em 30, 50, 70, 100, 200 e 500% e as variáveis onde o impacto foi estimado são o número de doses de sêmen vendidas por ano, a quantidade de kg de carne adicionalmente produzidas e a receita adicional gerada. Os resultados destas simulações são apresentadas no Quadro II.
A análise detalhada do Quadro II traz interessantes detalhes. Pode parecer absurdo aumentar-se em 500% o número de vacas inseminadas no Brasil, mas isto levaria a proporção de vacas inseminadas a cerca de 14,8%, o que em países desenvolvidos chega a mais de 40%. Este aumento aparentemente absurdo no número de inseminações artificiais apenas nos colocaria em posição intermediária entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento quanto ao uso desta biotecnologia.
Interessantes são os resultados obtidos com o aumento de 500% na inseminação artificial: 370 mil ton. de carne, num valor de cerca de US$278 milhões! Apenas em valores diretos, sem considerarem-se as reduções de custo por aumento da escala de produção. Será que os mercados nacional, regional (Mercosul) e internacional têm condições de absorver essa produção? Este é outro problema, de competitividade comercial. Com certeza esse aumento diminuiria os atuais custos de produção e, é importante ressaltar, o custo da inseminação é menor que o da cobertura natural.
Se formos considerar os ganhos genéticos em outras características, como o ganho de peso (ou velocidade de ganho de peso), peso à desmama, conformação, este valor se elevaria de forma acentuada.