Os vegetarianos freqüentemente adotam seus hábitos alimentares por razões religiosas, culturais ou pessoais. Alguns vegetarianos tendem a exaltar ou simplificar demais o vegetarianismo, levando muitos adolescentes a acreditar que a dieta vegetariana é ideal e facilmente adotada.
Os vegetarianos freqüentemente adotam seus hábitos alimentares por razões religiosas, culturais ou pessoais. Alguns vegetarianos tendem a exaltar ou simplificar demais o vegetarianismo, levando muitos adolescentes a acreditar que a dieta vegetariana é ideal e facilmente adotada. Uma dieta vegetariana não é ideal nem facilmente adotada, podendo até ser nutricionalmente adequada, mas promovendo padrões restritos de consumo que requerem um bom direcionamento e consciência.
Desta forma, os educadores e orientadores precisam entender bem e, desta forma, comunicar de forma mais precisa, as questões que devem ser consideradas quando um adolescente escolhe adotar uma dieta vegetariana.
Tipos e extensão do vegetarianismo
Um dos problemas mais comuns em muitas discussões sobre o vegetarianismo é a falha no reconhecimento de que existem muitos tipos de dietas vegetarianas e que cada tipo tem riscos diferentes. Os adolescentes que adotam uma dieta vegetariana precisam entender que tipo de dieta está sendo adotado. Em geral, a dieta vegetariana consiste de alimentos de origem vegetal – grãos, legumes, nozes, vegetais e frutas – e exclui todos ou alguns tipos de produtos de origem animal. Em geral, os profissionais de nutrição identificam quatro categorias de dietas vegetarianas (1):
– Vegetariana estrita (vegan): segue um plano alimentar sem nenhum produto de origem animal;
– Lacto-vegetariana: consome produtos lácteos, mas não carnes vermelhas, de aves, peixes ou ovos;
– Lacto-ovo-vegetariana: consome produtos lácteos e ovos, mas não carnes vermelhas, de aves e peixes.
– Semi-vegetariana: na maioria das vezes segue o padrão vegetariano de consumo, mas ocasionalmente consome carnes vermelhas, de aves ou peixes.
Outras variações de dietas vegetarianas incluem “pesco” (consome peixes, mas não carnes vermelhas e de aves), “pollo” (consome carne de aves, mas não carnes vermelhas e peixes), ou “pesco-pollo” (consome carne de peixes e aves, mas não carnes vermelhas).
O número quase ilimitado de possíveis combinações de dietas vegetarianas leva à confusão sobre a incidência do vegetarianismo. Por exemplo, uma pesquisa feita pela revista Vegetarian Times em 1992 mostrou que 7% da população total se identifica como “vegetariana” (2). A American Dietetic Association conduziu uma pesquisa que esclareceu o significado de “vegetariana”: cerca de 5% dos participantes não comem carnes vermelhas, 4% não comem peixes e frutos do mar e 2% não comem carne de aves. Menos de 1% eram vegetarianos estritos (3). Esses resultados sugerem que poucos norte-americanos realmente adotam dietas verdadeiramente vegetarianas.
Benefícios para a saúde de dietas vegetarianas
Apesar de as dietas vegetarianas poderem ser nutricionalmente adequadas e associadas com uma boa saúde, pesquisas não mostram uma relação conclusiva de causa e efeito entre o consumo de dietas vegetarianas e benefícios específicos para a saúde. As pessoas que se auto-classificam como vegetarianos tendem a ser mais conscientes com relação à saúde do que a população geral; então, estudos baseados em populações que comparam vegetarianos com a população geral podem atribuir de forma errada os benefícios para a saúde aos padrões de consumo vegetarianos quando, na verdade, os benefícios para a saúde observados podem ser causados por outros fatores do estilo de vida que não a dieta, como menor incidência de fumo, menor consumo de álcool e prática regular de exercícios (4).
Um recente estudo da Universidade de British Columbia comparou 100 mulheres vegetarianas com 93 mulheres não vegetarianas, todas com estilos de vida similares, conscientes com relação à saúde. Os autores do estudo descobriram que tanto as vegetarianas como as não vegetarianas cumprem com muitas das atuais recomendações nutricionais e concluíram que “o peso corpóreo e a qualidade da dieta podem não diferenciar muito entre vegetarianos e não vegetarianos conscientes com relação à saúde” (5).
Riscos nutricionais de dietas vegetarianas
Os adolescentes vegetarianos podem acreditar erroneamente que os supostos benefícios para a saúde da uma dieta vegetariana derivam simplesmente do fato de “evitar alimentos de origem animal”. Ao eliminar uma importante fonte de nutrientes da dieta, um adolescente vegetariano adota o que é chamada de “dieta restritiva”, que requer um planejamento ainda mais cuidadoso do que em uma dieta normal.
O Guia Dietético para Americanos do Governo dos EUA afirma que as carnes vermelhas, peixes e aves são as principais fontes de ferro, zinco e vitaminas do complexo B na maioria das dietas americanas e os vegetarianos precisam prestar uma atenção especial a esses nutrientes.
Como os produtos de origem animal são as únicas fontes alimentícias de vitamina B12, os vegans precisam suplementar suas dietas com uma fonte desta vitamina. Além disso, as dietas vegans, particularmente aquelas de crianças, requerem cuidados para garantir a ingestão adequada de vitamina D e cálcio (6).
A Associação Americana Dietética afirma que as dietas vegetarianas precisam ser “apropriadamente planejadas” (7). A Academia Americana de Pediatras reconhece que as dietas vegetarianas “planejadas adequadamente” podem ser nutricionalmente adequadas, mas alerta que “muitas restrições ou planejamento inadequado de refeições podem resultar em dietas que são perigosas” (8).
A carne bovina é um componente valioso do Grupo de Carnes e Grãos da Pirâmide Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que inclui carnes vermelhas, de aves e peixes, feijão, ervilha, nozes, sementes, ovos, entre outros. Desses alimentos, a carne bovina tem a maior proporção de proteína, vitaminas do complexo B, ferro, zinco e outros nutrientes essenciais.
A Pirâmide Alimentar sugere de duas a três porções (de 5 a 7 onças ou 142 a 198 gramas) por dia de alimentos deste grupo (6). Os adolescentes que excluem categorias inteiras de alimentos de suas dietas podem eliminar algumas importantes fontes de nutrientes. Eles também podem consumir em excesso outras categorias. Este risco é maior para pessoas com altas necessidades nutricionais, como crianças em crescimento (9).
Adotar uma dieta vegetariana não garante um estilo de vida saudável. O estilo de vida de consumo vegetariano pode ser rico em gordura e colesterol, pobre em fibras ou ambos. Quando mal planejado, a chance de alguma deficiência nutricional aumenta (1). Estudos com adolescentes do sexo feminino mostraram que as lacto-ovovegetarianas, semi-vegetarianas e vegans têm mais riscos de ter quantidades inadequadas de nutrientes do que as adolescentes que consomem produtos de origem animal (10).
Os adolescentes vegetarianos precisam planejar suas dietas cuidadosamente e monitorar suas ingestões de certos tipos de alimentos para garantir que estão consumindo quantidades adequadas de nutrientes, como ferro, zinco, vitamina B12 e proteína.
Ferro. A deficiência de ferro é um problema potencialmente sério entre uma ampla variedade de grupos de adolescentes: meninos mais jovens, meninas mais velhas, membros de famílias de baixa renda, meninas grávidas, vegetarianos e atletas. Os requerimentos de ferro aumentam durante a adolescência devido ao aumento da massa corpórea magra, volume sangüíneo e concentração de hemoglobina (11). Embora os adolescentes, particularmente as meninas, estejam entre os grupos de maior necessidade de ferro, estão também entre os grupos de maior probabilidade de consumir quantidades inadequadas de ferro.
A pesquisa feita pelo USDA entre 1994-1996 sobre ingestão individual de alimentos mostrou que somente 28% das meninas de 12 a 19 anos e somente 26% das mulheres de 20 a 29 anos consomem 100% da quantidade recomendada de ferro para a idade (12).
Muitos alimentos da dieta contêm ferro, mas este ferro não está facilmente disponível para ser absorvido pelo corpo. O ferro está disponível na dieta de duas formas, ferro heme e ferro não heme. Carnes vermelhas, de aves e peixes contêm ferro heme, que é muito mais facilmente absorvido pelo corpo do que ferro não heme, encontrado principalmente nos alimentos vegetais. De todas as carnes, a carne bovina contém mais ferro heme.
Além disso, a absorção do ferro não heme aumenta de duas a quatro vezes quando é consumida na mesma refeição carne vermelha, de aves ou peixe. Esse efeito de aumento é às vezes referido como “fator carne”. Por exemplo, quando carnes e vegetais são consumidos juntos, mais ferro dos vegetais é absorvido do que se os vegetais são consumidos sozinhos (13).
Os conceitos de “ferro heme versus ferro não heme” e o “fator carne” ajudam a explicar as pesquisas que mostram que os vegetarianos tendem a ter menores estoques de ferro do que os não vegetarianos mesmo quando as dietas vegetarianas contêm quantidade total de ferro maior (14). Estudos mostram que pessoas que incluem quantidades moderadas de carnes vermelhas (bovina, suína, vitelo, cordeiro e carnes processadas) em suas dietas têm maiores estoques de ferro comparado com pessoas que consomem principalmente carnes brancas (aves e/ou peixes) ou uma dieta lacto-ovovegetariana (13).
Quantidade de ferro dos alimentos (15)
O zinco é requerido para a atividade de várias enzimas envolvidas na maioria dos importantes processos metabólicos do corpo humano (17). A composição da dieta tem importantes efeitos na absorção de zinco. A carne bovina, por exemplo, não somente é uma excelente fonte de zinco, mas também, o zinco da carne bovina está prontamente disponível.
A inclusão de carne bovina na dieta também melhora a absorção de zinco de outros alimentos (18). Foi demonstrado que a absorção de zinco da carne bovina é quatro vezes maior do que a de cereais ricos em fibras consumidos geralmente no café da manhã quando consumidos por adultos saudáveis (19).
Devido à baixa biodisponibilidade de zinco em muitos alimentos vegetais, as dietas vegetarianas potencialmente podem ter um efeito adverso no status de zinco. Escolhas cuidadosamente selecionadas de alimentos feitas entre as possibilidades de uma dieta vegetariana são necessárias para garantir que a quantidade e/ou qualidade da ingestão de zinco não sejam comprometidas (7).
Quantidade de zinco dos alimentos (16)
Mesmo adolescentes vegetarianos que consomem ovos e produtos lácteos devem tomar precauções para evitar a deficiência de vitamina B12. Pesquisas sugerem que os lacto-ovovegetarianos têm menores níveis sangüíneos de vitamina B12. A suplementação ou uso de alimentos fortificados é aconselhado para os vegetarianos que evitam ou limitam o consumo de alimentos de origem animal. Como os requerimentos de vitamina B12 são pequenos e esta vitamina é estocada e reciclada no corpo, os sintomas da deficiência podem ser adiados por anos.
Proteína. Uma dieta vegetariana cuidadosamente planejada, particularmente quando inclui ovos e produtos lácteos, normalmente pode fornecer quantidades adequadas de proteínas, desde que se certifique de que a dieta total inclua diferentes tipos de alimentos vegetais e que a quantidade total de alimentos seja suficiente para suprir as necessidades de energia.
Os adolescentes vegetarianos – particularmente os vegetarianos estritos – precisam estar cientes de que suas necessidades de proteínas podem ser um pouco mais elevadas devido à menor qualidade de algumas proteínas vegetais (7). A carne bovina é considerada uma “proteína completa” porque contém todos os aminoácidos essenciais que o corpo humano precisa.
Conclusão
Uma dieta saudável depende de que sejam feitas escolhas informadas e que se leve um estilo de vida fisicamente ativo. Para os adolescentes que gostam de carnes, é possível encontrar muitos benefícios em uma dieta cuidadosamente planejada contendo carnes.
Por outro lado, o padrão “vegetariano” de consumo pode ser rico em gordura, pobre em fibras ou ambos e pode aumentar as chances para algumas deficiências nutricionais. Nenhum padrão único de dieta, incluindo o vegetarianismo, mostrou-se nutricionalmente superior a qualquer outra dieta bem planejada, como as baseadas da Pirâmide Alimentar do USDA.
Referências bibliográficas
1. Duyff, R.L. The American Dietetic Association’s Complete Food & Nutrition Guide. Minneapolis: Chronimed Publishing, 1996.
2. Havala, S. Vegetarian diets – clearing the air. Western Journal of Medicine, Vol. 160, pp. 465-471, 1994.
3. How many vegetarians are there? Journal of The American Dietetic Association, Vol. 97, p. 1287, 1997.
4. Hackett A., Nathan, I., and Burgess, L. Is a vegetarian diet adequate for children? Nutrition Health, Vol. 12(3), 1998.
5. Broughton, T., and Barr, S.J. Nutrient intakes and relative weights of vegetarian and nonvegetarian women. Canadian Journal of Dietetic Practice and Research. Vol. 59 (June Supplement), 1999.
6. Nutrition and Your Health: Dietary Guidelines for Americans. U.S. Department of Agriculture, U.S. Department of Health and Human Services, fourth edition, 1995.
7. Position of The American Dietetic Association: vegetarian diets. Journal of The American Dietetic Association, Vol. 97, pp. 1317-1321, 1997.
8. Committee on Nutrition, American Academy of Pediatrics. Pediatric Nutrition Handbook, third edition. Elk Grove Village, Ill.: American Academy of Pediatrics, 1993.
9. Meister, K. Vegetarianism. New York: American Council on Science and Health, 1997.
10.Donovan U.M., and Gibson, R.S. Dietary intakes of adolescent females consuming vegetarian, semi-vegetarian, and omnivorous diets. Journal of Adolescent Health, Vol. 18(4), 1996.
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13.Worthington-Roberts, B.S., Breskin, M.W., and Monsen, E.R. Iron status of premenopausal women in a university community and its relationship to habitual dietary sources of protein. American Journal of Clinical Nutrition, Vol. 47, 1988.
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15.Nutrient Database for Standard Reference. U.S. Department of Agriculture, Release 11-1, 1997.
16.Gerrior, S.A., and Zizza, C. Nutrient Content of the U.S. Food Supply, 1909-1990. U.S. Department of Agriculture, Home Economics Research Report No. 52, 1994.
17.Sandstead, H.H. Requirements and toxicity of essential trace elements, illustrated by zinc and copper. American Journal of Clinical Nutrition, Vol. 61(Supplement, pp. 621-624), 1995.
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20.Dietary zinc and iron – recent perspectives regarding growth and cognitive development. Experimental Biology ’99 Symposium, Washington, D.C., 1999.
Baseado em artigo publicado pelo Departamento Educacional da Associação Nacional dos Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (National Cattlemen’s Beef Association – NCBA).
1 Comment
Estou tentando ser vegetariano, mas não estou conseguindo. O motivo que me leva a tomar essa decisão, é maneira que os animais são abatidos e a falta de respeito em relação a eles. Acredito que o BeefPoint tenha uma posição parecida, o animal vai servir de alimento para nós, então devemos o mínimo de respeito por aqueles que vão dar a vida para mantermos a nossa.