Avaliar os processos de mudanças políticas do Governo Lula no campo agrícola nos leva a entender a pior performance deste setor nas últimas duas décadas. O espetacular crescimento da agricultura brasileira, durante os oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso, contrasta com o rápido declínio deste importante setor, nos três primeiros anos do Governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O Governo do Presidente Lula revigorou instituições que incentivam a estagnação e o persistente declínio do agronegócio nacional. Boa parte do que se observa são medidas e instrumentos econômicos de posse dos atuais governantes dominados por ideologias – por vezes ultrapassadas – bem como a forma que as nossas autoridades interpretam e agem de acordo com as características de uma sociedade em transformação.
O PT em momento algum, em nenhuma Unidade Federativa do Brasil, mostrou-se capaz de acompanhar a dinâmica mudança social, cultural e econômica mundial. O Partido dos Trabalhadores ainda tem um longo caminho para compreender completamente todo esse processo.
A evolução da política agrícola do Partido dos Trabalhadores foi fundamentada em percepções de seus dirigentes, de acordo com a intenção de produzir resultados que reduzissem as incertezas das organizações – políticas, econômicas e sociais – em busca de seus objetivos. Infelizmente, os objetivos do PT não eram e ainda não são os mesmos que o setor agrícola brasileiro almeja.
Para alcançar seus objetivos, o PT se valeu de um temerário modelo econômico que sacrificou a agricultura de precisão e do conhecimento, em favor da agricultura familiar, gerando tensão e implicações entre o passado e o presente.
Neste artigo, minha intenção é a de contribuir com uma visão positiva sobre o futuro da pecuária nacional – pós febre aftosa – valendo-me daquele que considero o mais importante dos valores de uma instituição: o seu capital humano.
De fato, o Brasil já enfrentou crises como a da aftosa – no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul – bem como a da pretensa vaca louca com maior desenvoltura do que na atual conjuntura dos Governos Estaduais e Federal. Entretanto, não creio que a atual crise possa ter um desfecho diferente das do passado, mesmo com a incompetência e inabilidade petista.
Exatamente por já ter um histórico antigo do processo que envolve a solução de quadros como o atual, o Brasil desenvolveu uma enorme capacidade técnica e gerencial, única no mundo, que nos coloca em uma situação de maior conforto do que se comparado com outros países Europeus, como o Reino Unido.
O Brasil, em que pese as deficiências orçamentárias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fruto de inconsistências e erros de avaliações dos notórios conhecedores do “agronegócio-petista”, detém um dos melhores, senão o melhor, sistema de defesa agropecuária do mundo. Além disso, minha experiência e convivência no setor me levam a afirmar que os mais brilhantes quadros do serviço público nacional são compostos pelos veterinários do Ministério da Agricultura.
Fica fácil nestes momentos provar que, de aprendizados passados, é possível construir instituições fortes, como o corpo de veterinários do MAPA, e assegurar a excelência e o contínuo sucesso dos programas formulados ao longo de décadas, sem que alternâncias possam afetar negativamente sua independência em relação às constantes mudanças políticas e institucionais, como verificamos ao longo da atual gestão. Algo ainda a ser assimilado pelo Governo do PT.
A partir do momento que o Governo petista passar a compreender que o seu capital humano, não só o de profissionais da área de veterinária, reflete os seus interesses e constrói uma agenda que viabiliza a consecução dos objetivos desejados, haverá consistência entre os objetivos, destinos e resultados.
Enquanto a mentalidade de Estado atrasado, paternalista, burocrático, sem metas e objetivos tangíveis permear os interesses de um determinado grupo de poder, o Estado brasileiro se manterá refém da descontinuidade dos programas de longo prazo e dependente do profissionalismo de funcionários como os veterinários oficiais, pois servem ao Estado e não a ideologias defasadas como as do PT.
A correção destes obstáculos com vistas ao aperfeiçoamento da máquina pública significa dizer que o Estado brasileiro percebeu corretamente a mudança na dinâmica social, cultural e econômica mundial, incorporou tais percepções na coisa pública, e alterou corretamente suas instituições, sem maiores sobressaltos. Infelizmente, os dogmas petistas, a meu ver, são incapazes de permitir mudanças de tal ordem.
A propósito, desde o dia sete de novembro corrente, os Fiscais Federais Agropecuários do MAPA encontram-se em greve pela reestruturação da carreira, realização de concurso para fiscalização agropecuária, criação da escola superior de fiscalização agropecuária, aumento do orçamento para a defesa agropecuária em 2006, fim do contingenciamento dos recursos do presente ano, entre outros. Talvez fosse o momento de o Governo petista me e nos surpreender, ao mostrar a necessária, porém, escassa habilidade que detém para realizar os devidos ajustes institucionais.
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Agradeço ao autor, Otávio Hermont Cançado, pelas palavras sobre nós, médicos veterinários do MAPA. Infelizmente, poucos conhecem o trabalho diário, a rotina de um Serviço de Inspeção Federal, de como é fazer cumprir acordos internacionais dentro de uma indústria e provar às missões internacionais que o Brasil cumpre as normas, pois não é só frigorífico que é desabilitado e sim o SIF (Serviço de Inspeção Federal), “marca oficial do Brasil”.
Neste momento que passamos (greve) posso dizer que não gostaríamos de estar causando prejuízos, pois somos uma categoria que sempre lutou e sempre lutará pelo superávit brasileiro.
Tenho somente 3 anos e meio de trabalho no MAPA, mas adoro e faço com muito carinho a Inspeção ante e post mortem, e sempre que consigo detectar alguma patologia nos animais sinto-me recompensado em saber que nenhuma pessoa consumirá algo que possa lhe fazer mal.
Os brasileiros deveriam conhecer a importância de um alimento que leva o SIF, pois é um Méd. Veterinário oficial quem está garantindo o produto.
Crhistian Pachemshy
FFA – MAPA – SIF2672
O artigo do colega está de parabéns, pois tocou em uma coisa que venho afirmando há muito tempo.
O que vem ocorrendo hoje, não retrata o que foi feito no governo anterior. Dizer que o fruto de nossas exportações é desse governo é uma enorme mentira. Como aprendi onde fui criado, quem muitas vezes formar o pomar não chupa os frutos ou os vendem.
Parabéns, mais uma vez, precisamos de pessoas nesse país com esse ponto de vista.
Parabéns pela matéria!
Ricardo Cauduro
Veterinário
Nova Zelândia
Gostaria de parabenizar o Dr. Otávio Hermont Cançado pelo artigo de 09/11/2005 “Veterinários: a excelência do MAPA”.
Tal artigo exprime com o máximo discernimento e clareza as condições atuais do nosso Serviço de Inspeção Federal responsável pelo status brasileiro de 1o exportador mundial de carnes, conseqüente à sua confiabilidade declarada e reconhecida por órgãos internacionais.
Paulo Roberto dos Santos Segundo
Fiscal Federal Agropecuário
Médico Veterinário
O Sr. Otávio foi muito feliz na análise dos problemas deste governo. Gostaria de frisar que em nosso estado (também governado pelo PT), o Iagro fez concurso e ainda não chamou os novos veterinários para assumirem seus postos.
Mais, recentemente o Incra (este na escala federal), abriu concurso. O mesmo tem vagas específicas para engenheiros agrônomos, porém não considera da mesma forma médicos veterinários e zootecnistas.
No entanto, a maior parte das propriedades em nossa região que são desapropriadas são de pecuária para depois na implantação de novos assentamento receberem novamente a atividade de criação de bovinos.
Silvio André Isler
Médico Veterinário
Idaterra/Nioaque-MS
Prezado Sr. Otávio,
Tenho a mesma percepção de que o quadro de veterinários do Mapa é mais qualificado e competente do que muita gente pensa. Aliás, servidor público no Brasil carrega o estigma de que: “ganha pouco, mas também trabalha pouco”, o que tem muito de verdade, mas também muito do exagero das generalizações.
O que o Serviço Público precisa para livrar-se desse rótulo é expurgar de suas lideranças aqueles que, a pretexto de defender os interesses da categoria, manobram seus subordinados em greves e paralisações sem nenhum efeito prático consistente, trazendo antes de tudo, transtornos econômicos seríssimos para toda a economia do país.
É mais ou menos assim: pedem reajuste de 20%, paralisam e, após inúmeros caminhões apodrecendo com carne, frutas, laticínios, etc., resolvem “aceitar” uma esmola de 5 ou 10% do Governo e aí, retornam ao trabalho.
E o pior, não existe cenário melhor para esta prática do que um Governo conivente e com as mesmas raízes do Sindicalismo Sectário e Maniqueísta, que deu origem ao PT, CUT e outras organizações.
Então, ilustre bacharel, só nos resta repudiar e informar a todos que realmente este Governo não fez, não faz e não fará nada para os que querem trabalhar e produzir alimentos no Brasil.
Lamentável, mas verdade.
A propósito: este Governo destina muito mais recursos orçamentários ao Ministério da Reforma Agrária do que ao Ministério da Agricultura!
Abraço,
João Francisco S. Vaz
Médico Veterinário
Sr. Otávio,
Antes de mais nada, parabéns pelo artigo.
No entanto, apesar da competência dos colegas veterinários e do próprio Ministro, era lógico esperar problemas nas áreas de competência na esfera federal e também nas esferas estaduais sob domínio petista.
Como esperar que máquina federal e estaduais tenham sensibilidade à importante tarefa de fiscalizar atividades de defesa sanitária, que no final (exportação) beneficiam estes eternos inimigos ideológicos, os agropecuaristas?
Muito embora o Ministro Roberto Rodrigues venha pleiteando o chamado ‘descontigenciamento’ dos recursos devidos ao MAPA, não atingiu a sensibilidade dos ‘aparelhados’ petistas em seus cargos.
Infelizmente, talvez venham a acordar para a necessidade de atenção à essa área somente depois de quebrar a espinha de centenas de empresas e dezenas de milhares de empregos na área.
Sem considerar a perda de credibilidade internacional e os bilhões de dólares de receita a menor.
Quanto ao elogio à competência dos profissionais veterinários do MAPA, estou de pleno acordo também por conhecimento de causa, uma vez que ocupei a direção da Delegacia do MAPA no Acre.
Joaquim Medeiros, médico veterinário
Caro Dr. Otávio, apenas algumas cabeças mais iluminadas conseguem enxergar a importância do trabalho realizado pelos Fiscais Federais Agropecuários.
Um país que pretende ser o maior exportador agropecuário mundial deve, obrigatoriamente, ter o melhor sistema de defesa agropecuária do mundo. Trata-se de uma “economia burra” tentar economizar nesta área. Os prejuízos são muito maiores.
Que Deus ilumine a cabeça dos nossos governantes para que percebam isso.
Parabéns, Sr.Otávio H. Cançado.
Marcelo V. da Fonte
FFA Méd.Veterinário
SVA – Aeroporto / RJ