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1° levantamento das intenções de confinamento em 2015

Durante o mês de abril de 2015, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária realizou o primeiro levantamento das intenções do confinamento no Estado para o ano de 2015. Ao todo foram entrevistadas 136 pessoas envolvidas na atividade, dentro de um universo de 210 unidades de confinamento espalhadas por todas as regiões de Mato Grosso, ou seja, 64,8% do total participaram da pesquisa.

Em relação àqueles que participaram da pesquisa este ano, é consenso de que o planejamento está mais claro em relação à atividade. Nesta mesma época em 2014, praticamente 18% dos bovinocultores disseram não ter previsão se iriam ou não confinar, ao passo que este ano apenas 4,4% deles estão nessa situação. Por outro lado, a quantidade de produtores que não irão confinar subiu para 43,4% dos entrevistados. Este número era de 32,7% em 2014.

A maioria dos entrevistados (52,2%) afirmaram que irão fechar os animais no confinamento este ano. Ademais, para estes que confirmaram sua contribuição para a atividade, cerca de 80% dos insumos necessários para o confinamento “rodar” já foram adquiridos, deixando clara a afirmação de que o planejamento de 2015 está melhor. Além disso, 83,1% dos que irão confinar disseram estar otimistas com a atividade este ano, principalmente por causa do alto preço da arroba.

Apesar da grande quantidade de produtores que não irão confinar e da elevação dos custos de produção, o otimismo daqueles que irão fez com que houvesse um maior investimento na capacidade estática dos confinamentos do Estado, fazendo com que a capacidade se elevasse próxima à observada em 2013, alcançando 895,53 mil cabeças.

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Este aumento na capacidade estática, logicamente, veio acompanhada de um grande aumento nas intenções de confinamento (Tabela 1). Em relação ao dado consolidado de 2014, houve um aumento de 24,0% nas intenções de confinamento de Mato Grosso este ano. Novamente os bons preços da arroba alavancaram as intenções dos bovinocultores a colocar mais animais no cocho dos confinamentos do Estado, totalizando 789,66 mil cabeças, frente às 636,66 do ano passado.

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O destaque fica por conta da região médio-norte, onde o rebanho confinado deve aumentar mais de 80 mil cabeças em 2015, representando quase 30% do total. A região sudeste também deve aumentar seu rebanho confinado e representa o segundo maior volume do Estado, com uma fatia de 22,8% do total. Apesar da representatividade de apenas 6,9%, a região norte foi a que mais cresceu em relação ao ano passado, passando de 34,8 para 54,3 mil cabeças fechadas, um aumento de 55,9%.

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Como resultado, o aumento das intenções de confinamento este ano compensou a elevação da capacidade estática, de modo que a utilização da mesma teve melhora em quase todas as regiões do Estado. De acordo com os dados levantados, a região norte será aquela que melhor irá utilizar sua estrutura, seguida pela médio-norte e noroeste. A única região a apresentar decréscimo na utilização de sua capacidade foi a oeste, passando de 0,76 para 0,58. A média de Mato Grosso ficou em 0,88, frente a de 0,75 de 2014.

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Este comportamento antagônico dos confinadores este ano, em que os produtores estão praticamente divididos entre confinar e não confinar, pode ser explicado pela Figura 3. Ao mesmo tempo em que o preço da arroba do boi gordo aumentou 19,1% em um ano, gerando euforia, o preço da reposição também aumentou 27,1% no mesmo período, o que impulsionou o custo de produção. Este alto custo de produção, bem como o cenário macroeconômico e político do Brasil, gera ainda muita desconfiança por parte dos investidores. Com isso, apesar do otimismo da maioria, quase 17% dos entrevistados disseram estar apreensivos com os resultados da atividade em 2015.

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Dessa forma, segundo os cálculos do Imea, considerando a compra da reposição, os custos aumentaram 28,8% e a representatividade da compra de animais no custo operacional efetivo subiu de 68,0% para 74,6%. Já o restante dos custos de produção se mantiveram praticamente estáveis, tendo reflexo mínimo no custo da diária (desconsiderando a compra de animais), que aumentou apenas 2,6%, passando de R$ 5,45 para R$ 5,59/cabeça/dia entre 2014 e 2015 (Figura 5).

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Este forte aumento no custo da reposição fez com que a quantidade de animais de terceiros nos confinamentos de Mato Grosso aumentasse 8,1 pontos percentuais em relação a 2014, por meio de parcerias com outros bovinocultores. Esta tendência é explicada pela grande dificuldade na compra dos animais em si, além, é claro, do preço. Entretanto, a maioria dos animais que serão engordados no cocho ainda são próprios, sendo 63,8% do total.

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Tomando como base este cenário, que mesmo parecendo muito favorável ainda gera incertezas ao investidor, a quantidade de animais negociados no mercado futuro ainda é incipiente, sendo apenas 3,7% do total. O otimismo de grande parte dos confinadores faz com que estas negociações fiquem de lado, tendo em vista que os mesmos ainda esperam que a arroba continue valorizando até o final do ano, para então comercializar no mercado físico.

De fato, os preços no mercado futuro indicam ótima receita para o período de entrega dos animais confinados em Mato Grosso, sendo a média de julho a dezembro de 2015 de R$ 131,21/@. Os preços futuros do boi gordo em Mato Grosso destacados na Figura 7, foram obtidos através do desconto do diferencial de base histórico calculado pelo Imea entre os preços de São Paulo e Mato Grosso, sendo este valor 13,1% menor que o do estado paulista.

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Esta espera por melhores preços tem a ver com o que aconteceu ano passado, quando o preço do boi gordo disparou e rendeu ótimo lucro para aqueles que venderam animais terminados no segundo semestre, principalmente no final. Para se ter uma ideia, a amplitude do preço do boi gordo em 2014 foi tão grande que no segundo semestre foi possível quase quadruplicar o lucro por cabeça no confinamento em apenas seis meses (Figura 8). Por outro lado, fazendo os mesmos cálculos com os custos atualizados e com os preços futuros do boi gordo em 2015, a história é bem diferente. De acordo com os cálculos do Imea, caso os preços futuros se mantenham nestes patamares, bem como os custos de produção, a lucratividade não deve alcançar R$ 80,00/cabeça, ou seja, 2015 tende a ser um ano de altos preços, porém com margens justas, situação bem diferente de 2014.

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É importante ressaltar que, com a margem apertada da forma como se apresenta na Figura 8, qualquer variação no preço da arroba é extremamente impactante na lucratividade do sistema. Neste caso, o preço da arroba precisa ser de R$ 128,58 para que o sistema alcance seu ponto de equilíbrio, considerando os custos apresentados anteriormente (Figura 7). Trocando em miúdos, qualquer valor abaixo desse preço torna o sistema deficitário. Sendo assim, a preocupação reside no fato de que o preço de equilíbrio está apenas R$ 5,68 abaixo do preço à vista cotado no mês de abril/15 e, em média, R$ 3,21 abaixo do preço registrado no mercado futuro para os meses de agosto a novembro, período que concentra quase 80% da entrega de animais dos confinamentos de Mato Grosso.

Diante disso, é importante que o produtor esteja sempre antenado ao mercado e constantemente melhorando sua forma de trabalhar, tanto operacionalmente como gerencialmente. Trabalhando dessa forma, o processo de tomada de decisão, como por exemplo fazer um hedge ou não ou até mesmo qual ingrediente usar na dieta, fica mais claro, possibilitando ao confinador obter cada vez mais retorno com a atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  • A valorização da arroba a patamares históricos impulsionou os investimentos em confinamentos de bovinos em Mato Grosso, de modo que o volume de animais aumentou 24,0%.
  • Em contrapartida, os custos aumentaram consideravelmente (28,8%) devido à valorização da reposição, o que intimidou os investimentos por parte de alguns confinadores.
  • Os preços do boi gordo no mercado futuro indicam que 2015 será um ano de grande faturamento, porém de margem apertada.
  • Pequenas variações no preço da arroba podem ocasionar grande impacto na lucratividade da atividade, tanto para cima como para baixo.
  • O preço da arroba no mercado futuro está, em média, apenas R$ 3,21 acima do preço para atingir o ponto de equilíbrio entre agosto e novembro/15, o que incorre enorme risco à atividade, tendo em vista que nesse período está concentrada quase 80% da entrega dos animais provenientes de confinamento em Mato Grosso.
  • Em anos de margem apertada, como tende a ser 2015, é necessário que o bovinocultor esteja melhorando continuamente sua forma de tocar a atividade, de modo que o processo de tomada de decisões seja embasado em números e traga vantagem econômica.

Fonte: Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

2 Comments

  1. JAIME OLIVEIRA disse:

    Muito boa esta matéria !!

    obrigado

  2. Francisco disse:

    Interessante a matéria

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