José Bento Sterman Ferraz e Joanir Pereira Eler
Introdução
A pecuária dos dias atuais nos apresenta um cenário onde apenas criadores com alta produtividade permanecerão no mercado, pois os que não atingirem níveis adequados de qualidade e produtividade serão marginalizados do processo produtivo. Aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos, sempre a custos minimizados são palavras de ordem na produção pecuária atual. Apenas aqueles criadores que tiverem seus animais geneticamente avaliados poderão vender reprodutores e matrizes, pois o mercado estará cada vez mais competitivo e exigirá que o material genético disponível demonstre com clareza suas especificações e o seu potencial.
Os ganhos genéticos de cada rebanho dependerão também do uso de animais geneticamente superiores nos processos seletivos dentro de cada plantel.
O uso das biotecnologias aplicadas à reprodução animal têm sido de enorme importância e efeito nos programas de melhoramento animal. Inicialmente a inseminação artificial e o congelamento de sêmen possibilitaram o uso intensivo de material genético masculino, com importantes alterações nas freqüências gênicas das populações.
Mais recentemente as biotécnicas de superovulação e transferência de embriões, uma autêntica forma de produção de embriões in vivo (MOET, Land & Hill, 1975), a sexagem de embriões, a colheita de oócitos (ovum pick-up), a produção de embriões em laboratório (IVP) e a fertilização in vitro (FIV) dedicaram-se a diminuir as limitações da intensa disseminação de material genético feminino.
Os efeitos genéticos dessas tecnologias são evidentes, levando a ganhos genéticos muito superiores aos obtidos em reprodução natural. Isso é muito mais importante em espécies de baixa intensidade reprodutiva e longo intervalo de gerações, como os bovinos (leiteiros e de corte) e em menor grau em ovinos e caprinos.
O presente artigo tenta, de maneira resumida, alertar os profissionais usuários dessas biotécnicas, das conseqüências genéticas dessa disseminação mais intensa de material genético e de sua responsabilidade no manejo da tecnologia disponível.
Os principais efeitos da transferência de embriões
Dentre as principais vantagens da transferência de embriões podem ser citadas (Pereira, 1999):
* Aumento das taxas reprodutivas, principalmente de espécies uníparas;
* Permite maior intensidade de seleção dentre as fêmeas;
* Permite rápida expansão de estoques raros;
* Permite a condução de experimentos de genética, com utilização de material geneticamente semelhante em ambientes diferentes;
* Permite o estudo de exigências necessárias para boa fertilidade e desenvolvimento normal dos embriões;
As desvantagens não são desprezíveis e dentre elas podem ser citadas (Pereira, 1999):
* Custo da técnica;
* Aumento da incidência de gêmeos, com conseqüente aumento de mortalidade e distocias;
* Aumento da endogamia do rebanho;
* Propagação de problemas genéticos;
* Dificuldades de natureza técnica.
Os efeitos genéticos da intensificação da eficiência reprodutiva
O uso de biotécnicas intensificadoras das taxas reprodutivas tem como principal conseqüência, devido ao uso de menor número de pais para a formação das próximas gerações, uma significativa mudança nas freqüências gênicas das populações. Se essas técnicas se utilizarem de material genético de alta e comprovada qualidade, um expressivo aumento no ganho genético será obtido. Mas isso tem seus custos e riscos.
Obtendo-se maior número de progênies por acasalamento ou por indivíduo, a intensidade de seleção pode ser muito aumentada, levando a uma maior acurácia (e menor risco) no processo de seleção, ou seja, fica facilitada e mais segura a escolha dos pais das próximas gerações. No entanto, devido ao uso mais intenso de poucos indivíduos, existe um risco, muito grande, de aumento dos níveis de endogamia (inbreeding) na população, com suas desastrosas conseqüências na diminuição de variabilidade das linhas endogâmicas e na depressão pela endogamia (Dickerson, 1963, 1970, Brinks et al., 1973).
(continua)
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