Trabalhos realizados em Cuba mostram que a sacharina pode significar uma alternativa de substituição de parte do concentrado utilizado na alimentação de ruminantes. A substituição de concentrado comercial por sacharina na proporção 0 a 70% aumentou o consumo de matéria seca em carneiros, diminuiu a velocidade de consumo e aumentou o tempo de ruminação, sem, contudo, alterar a digestibilidade das dietas; proporcionou ganhos de peso diário (GPD) superiores a 100g, quando se fez a inclusão de 50 a 60% no concentrado. Observou-se que bovinos jovens alimentados com concentrado com 67% de sacharina, ou concentrado comum, apresentaram ganho de peso diário (GPD) de 517 a 697 g, respectivamente. Com novilhas em crescimento conseguiram GPD de 698 g com suplementação a pasto utilizando-se 2 kg de concentrado com 60% de sacharina. Com vacas em lactação, a substituição entre 50 a 70% do concentrado por sacharina produziu bons resultados sem alterar a composição do leite.
Os resultados obtidos, entretanto, não foram os mesmos relatados pelos técnicos cubanos, que inclusive estiveram aqui por diversas vezes mas pouco contribuíram para a elucidação dos problemas. Os pesquisadores brasileiros encontraram baixos teores de proteína verdadeira em diversos lotes de sacharina produzidas em São Paulo, valores estes variando de 3 a 4% em média, para valores de PB entre 14 e 16%, o que significa que o processo fermentativo não foi suficiente para transformar a uréia em proteína microbiana ou verdadeira, embora não tenha havido perda significativa de uréia. Dados laboratoriais em pequena escala produziram até 8% de proteína verdadeira, que foram repetidos apenas em algumas propriedades, com valores de até 12%. Nesses trabalhos a relação N-protéico / N-total, dependendo do valor de PB, variou de 15% até 80% (PEREIRA, 1995; DEMARCHI, 1991 – dados não publicados). Boletim Técnico da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (1992), outra instituição brasileira que iniciou pesquisas com a sacharina, indicou valores médios de 40%.
Apesar da baixa fermentação, o produto foi utilizado por diversos autores em diversos trabalhos de pesquisa. HENRIQUE et al. (1993), substituindo 60% do concentrado de bovinos confinados, o qual respondia por 45% da MS total, verificaram redução de 25% no desempenho animal, o que significa que os níveis ideais de substituição estão abaixo deste valor, apesar de não terem sido feitas avaliações econômicas desta substituição (Quadro 1). Não houve redução de consumo e o tratamento com sacharina (60% do conc.) + silagem de milho foi similar ao de silagem de capim elefante com concentrado de milho e farelo de soja. BUENO e DEMARCHI (1995), substituindo parte (25 a 75%) do concentrado de caprinos em crescimento por sacharina (baixo teor de N-proteíco), não verificaram efeito sobre o consumo de matéria seca, mas substituições maiores que 30% na MS total reduziram o ganho de peso e pioraram a conversão alimentar.
REMAZZI et al. (1992) não verificaram diferenças significativas na digestibilidade da matéria seca (MS) da sacharina (57%), a qual não diferiu significativamente da cana seca mais uréia (59%). Já BOIN et al. (1992) concluíram que o processo fermentativo reduziu em 10% a digestibilidade da MS (66 para 60%) e que a secagem tanto da sacharina quanto da cana-de-açúcar aumentou a digestibilidade da MS (61 para 66%) e da matéria orgânica (62 para 67%). PEREIRA (1995) estimou valores de 65,6 e 66,4% de digestibilidade da MS para sacharina e colmos de cana-de-açúcar desidratados. Segundo este mesmo autor 1,4% de uréia na MS e 19 horas de fermentação foram os melhores tratamentos para produção de sacharina.
Quadro 1 – Sacharina para gado de corte em confinamento
Em trabalho ainda não publicado, LEME et al. (1995) verificaram que o aumento da fermentação da cana com fermento de pão (Saccharomices cerevisae) não resultou em vantagem para o ruminante, pois decresceu a digestibilidade da matéria seca (67,1 vs 64,3, com alimentação à vontade, e 70,1 vs 62,3% com alimentação restrita), apesar de melhorar a digestibilidade da fibra bruta (45,2 vs 54,8%) e não ter efeito na ingestão de alimentos.
RAMOS et al. (1990), em trabalho conduzido com vacas mestiças em lactação (45 dias) e pastejo de gramíneas (disponibilidade de 23 kg de MS / vaca / dia), substituíram até 100% do concentrado comercial pela sacharina, destacando-se a possibilidade de utilizar a mesma em uma faixa de 35 a 65% de substituição (Quadro 2).
Quadro 2 – Sacharina para vacas leiteiras
DEMARCHI et al. (1992), trabalhando com vacas holandesas e pardo-suíças, alimentadas com dietas isonitrogenadas com 41% de volumoso e 59% de concentrado, com três níveis de substituição do concentrado pela sacharina (0, 17,3 e 34,6%), não verificaram efeitos dos tratamentos sobre a produção de leite, que foi de 18,3, 18,4 e 17,6 kg / vaca / dia (Quadro 3). Qualquer que seja o nível de produção, o importante é sempre fazer uma análise de custos na propriedade para determinar o melhor nível de substituição na dieta balanceada utilizada.
Quadro 3 – Sacharina para vacas leiteiras
Comentário BeefPoint: O desempenho animal, utilizando-se a sacharina como substituto de concentrados, logicamente reduz desempenho, conforme mostram claramente os trabalhos de pesquisa. Porém, a redução dos custos que pode ser obtida em algumas situações pode perfeitamente justificar o seu uso. A sua utilização como volumoso é bastante interessante, apesar de na prática os desempenhos animais e a digestibilidade não terem diferido significativamente da tradicional cana-de-açúcar + uréia. O que chama a atenção nessa técnica é a possibilidade de uso mais intensivo da cana+uréia, já que muitos produtores receiam usá-la por medo de intoxicações. A preocupação é válida, emborta o uso correto evite maiores problemas. O novo pacote apresentado como sacharina para a tradicional cana+uréia pode trazer aumento de produtividade a curto prazo pela melhor nutrição protéica e mineral dos rebanhos que apresentavam deficiências.
Fonte: DEMARCHI, J.J.A.A. e LEME, P.R.O uso da sacharina na alimentação de ruminantes. Revista dos Criadores, n° 796, p. 14-17, maio, 1996.