Para divulgar o processo de confecção da sacharina e tentar obter resultados em condições de campo, foi elaborado um folheto técnico que, após um período de distribuição e apresentação no Programa Globo Rural, da Rede Globo de televisão, resultou em inúmeras cartas solicitando maiores informações ou retornando algum resultado obtido. A distribuição regional das cartas dão uma idéia do tipo de produtor que se interessou pela técnica (Quadro 4).
QUADRO 4 – Distribuição geográfica de correspondência recebidas pelo Instituto de Zootecnia nos anos de 1991/92 solicitando informações sobre a sacharina
Pelos resultados verifica-se que as bacias leiteiras de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás, esta última provavelmente iniciando um aumento considerável de produção verificado atualmente, foram as regiões que mais se interessaram pelo processo, porém praticamente todos os estados do Brasil enviaram correspondência.
Fatores que influenciam o processo fermentativo
Apesar de considerarmos que o processo de fermentação seja desnecessário em função dos resultados apresentados (a fermentação foi insatisfatória), diversos fatores podem alterar o processo fermentativo e a conseqüente transformação de uréia em proteína pelos microorganismos, tais como:
1. Uniformidade da distribuição de uréia e minerais na cana-de-açúcar;
2. Nível de uréia utilizado;
3. Umidade da cana-de-açúcar (teor de matéria seca);
4. Temperaturas diurnas e noturnas;
5. Presença de oxigênio dissolvido na massa;
6. Compostos fenólicos em canas imaturas;
7. Pluviosidade (chuvas);
8. Tipo de piso utilizado;
9. Sombreamento;
10. Utilização ou não de inóculo (aditivos);
11. Densidade do material no chão (kg por m2);
12. Tamanho da partícula;
13. Época de corte.
Conclusões
1. A sacharina não tem apresentado bom padrão de fermentação na maioria dos trabalhos desenvolvidos, o que significa que boa parte da uréia permanece como tal no produto final. Apesar disso, o seu uso se justifica na forma de cana seca + uréia + minerais.
2. Mesmo com boa fermentação, a digestibilidade e o desempenho animal utilizando-se a sacharina se equivalem ao da cana-de-açúcar com uréia, sulfato de amônio e minerais, provavelmente pela redução dos açúcares, elevação da proteína, amoniação e ou aumento da digestibilidade da fibra.
3. É uma alternativa viável para fornecimento de nitrogênio não protéico (uréia) e minerais para ruminantes através de consumo forçado, praticamente isenta de riscos de intoxicação, desde que todas as recomendações expostas anteriormente sejam levadas em conta. Esse fato é marcante em propriedades não tecnificadas ou em início de tecnificação em que haja deficiência de proteína e minerais na dieta, o que infelizmente ainda é relativamente comum em nossa pecuária.
4. Pode ser armazenada por períodos relativamentes longos (6 meses) com manutenção das suas características iniciais. Deve-se prevenir umidade e proliferação de roedores.
5. O armazenamento permite colheita de maiores quantidades de cana num curto período de tempo, como na ensilagem e fenação, otimizando a mão-de-obra disponível e melhorando as condições de manejo do canavial.
6. Há um aumento do custo de produção em relação à cana-de-açúcar convencional, principalmente com relação ao uso de maior quantidade de mão-de-obra para manusear o produto durante a fermentação, secagem e armazenamento. Esse aumento de custo é relativamente compensado com a possibilidade de armazenamento, uso mais racional de mão-de-obra e maior segurança no uso da uréia, inclusive em níveis mais elevados, refletido na ausência de intoxicações por uréia e morte de animais.
7. Excelente forma de divulgação e redução dos preconceitos e restrições ao uso da uréia, e de alguns mitos a respeito do uso de cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes.
8. Pode ser dado como único volumoso ou associado a outros, tanto na forma seca (semelhante ao feno) como úmida. Se houver interesse pode ser novamente moída após a secagem e incorporada ao concentrado, sendo esta última operação mais onerosa e normalmente desnecessária.
9. É mais uma alternativa como ingrediente para alimentação de bovinos, e não uma ração pronta para uso de forma exclusiva.
Comentário BeefPoint: Conforme as conclusões deixam claro e até limitam qualquer comentário final, a sacharina é mais uma alternativa, como tantas outras, mas não é uma solução para todos os males da pecuária brasileira. Porém, dois pontos são importantes salientar: 1. O produtor nunca deve se iludir com soluções milagrosas, como foram propostas em outras épocas, por exemplo, quando da introdução do Tifton (gramínea para pastagens) no Brasil, ou instalações como o Free-stall, transferência de embriôes, etc. Todas são importantes e viáveis para alguns sistemas de produção, mas a maioria não comporta esses investimentos e 2. Avaliações da relação custo:benefício são fundamentais para adoção de qualquer tecnologia ou produto e devem ser mais valorizados pela pesquisa científica.
Fonte: DEMARCHI, J.J.A.A. e LEME, P.R. O uso da sacharina na alimentação de ruminantes. Revista dos Criadores, n° 796, p. 14-17, maio, 1996