Em dois comentários anteriores, abordamos alguns aspectos gerais sobre novas tendências mundiais de produção agrícola, determinada por alguns nichos de mercado que começam a exigir produtos mais seguros, e por interesses políticos e sociais de governos, principalmente da Comunidade Econômica Européia. Abordamos também as amplas possibilidades do Brasil em ocupar espaço para atender esses novos nichos de mercado e alguns aspectos importantes que devem merecer atenção especial. Hoje vamos abordar mais especificamente alguns aspectos ligados diretamente à pecuária de corte.
Como todos os familiarizados com produção de gado de corte sabem muito bem, essa atividade exige grandes extensões territoriais, mesmo nos sistemas ditos intensivos. A razão principal dessa característica é que a intensificação da fase de cria tem sido antieconômica considerando os preços vigentes de bezerros (as) desmamados, mesmo em períodos favoráveis de preços para essas categorias animais. A intensificação dos sistemas de produção começou a ser feita pela fase de terminação (acabamento ou engorda) e vem ocupando espaço também na fase de recria (crescimento pós desmama). Usando a intensificação nessas duas fases, algum país tem conseguido aumentar a produtividade por animal e a produção total de carne com diminuição do rebanho. Entretanto, o estabelecimento e a manutenção desse modelo de produção em larga escala o ano todo é muito dependente de disponibilidade de grãos a baixo custo e de condições climáticas favoráveis. Nos Estados Unidos, as duas condições estão presentes, a primeira graças aos fortes subsídios à produção de grãos bancados pelo governo, e a segunda, naturalmente, em vastas regiões do meio oeste americano. Entretanto, a produção de bezerros continua ainda muito extensiva em termos de produção por unidade de área. Mesmo assim, o custo de produção de bezerros é muito alto comparado aos custos conseguidos no Brasil.
Existem outros países grandes produtores e/ou exportadores de carne bovina, como Austrália, Argentina, Nova Zelândia e Uruguai, com potencial de produção de carne bovina de qualidade similar e até mesmo igual à carne americana (qualidade aqui entendida como maciez, suculência e sabor), a custos mais competitivos do que os custos conseguidos pelos produtores americanos. Entretanto, tanto devido à limitação territorial, por problemas de extensão ou de clima, como também aos níveis atuais de produtividade, a expansão da produção acima das quantidades atuais, sem usar sistemas intensivos nas fases de recria e acabamento, fica bastante limitada.
Ao contrário, o Brasil, pela vasta área disponível, pelas condições favoráveis de clima, e pelos baixos níveis de produtividade observados, tanto por animal e por unidade de área, tem todas as condições de expandir grandemente a produção usando sistemas extensivos racionais e sustentáveis de produção de gado de corte. Entretanto, isso só será possível se o governo não atrapalhar e os produtores estiverem motivados para usar as tecnologias mais adequadas e administrar eficientemente sua atividade produtiva. Estamos otimistas, pois acreditamos que o governo tem todas as condições e o nobre interesse em ajudar e os produtores em ter uma atividade eficiente e lucrativa.