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Aftosa ameaça exportações de carne

Cientistas, pecuaristas, fontes da indústria e analistas de mercado estão preocupados com a euforia precoce demonstrada por setores do mercado de carne bovina em relação a supostos acréscimos de volumes às exportações de carne bovina que seriam gerados pela suspensão das vendas argentinas, por causa da contaminação do gado pela febre aftosa, segundo reportagem de José Alberto Gonçalves e Paulo Soares, publicada hoje na Gazeta Mercantil.

Devido ao temor relacionado ao risco de o rebanho do Circuito Pecuário Sul (que engloba Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ser infectado pelo vírus da aftosa, várias pessoas estão defendendo a volta imediata da vacinação do rebanho bovino do Sul suspensa há quase um ano, como medida necessária à obtenção do estatuto de área livre da aftosa, sem vacinação, imprescindível para a carne “in natura” da região ser autorizada a entrar nos EUA.

José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria, e Pedro de Camargo Neto, presidente do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de São Paulo (Fundepec) admitem que, num primeiro momento, o País poderá acrescentar volumes preciosos em suas vendas ao mercado externo. Porém, o forte abalo à carne bovina, especialmente na opinião pública européia, pode complicar a estratégia brasileira de alcançar US$ 1 bilhão em exportações de carne bovina.

Em fevereiro, as exportações de carne bovina “in natura” e industrializada somaram US$ 51,5 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Externo (Secex), 8,3% menor em relação a igual mês de 2000. Os volumes ainda não foram divulgados, mas provavelmente o declínio tenha sido provocado pela retração nos preços, em função do menor consumo de carne bovina na Europa, abalada pela crise da vaca louca.

A confirmação oficial da existência de vários focos de aftosa na Argentina e na Europa levou cientistas, analistas de mercado e fontes da indústria de carnes a se preocuparem com novo abalo à imagem da carne bovina e ao perigo de contágio do gado brasileiro. Sua carne é vista na Europa como mais saudável que seu próprio produto, por derivar de gado alimentado à base vegetal, no pasto, além de não se originar de bovinos com hormônios, como nos EUA.

Outra fonte de questionamento à ausência da vacinação como condição de o País obter o estatuto mais elevado da OIE como área livre da doença vem da FNP Consultoria. Ferraz defende que o governo brasileiro lidere uma discussão internacional para mudar a regra da instituição. “Enquanto a regra existe, precisamos cumpri-la. Porém, ela foi criada como barreira protecionista por países que tinham erradicado a doença, como os Estados Unidos e a Inglaterra. O diretor da FNP acredita que a eliminação da regra de área livre sem vacinação deveria ser acompanhada pela inclusão nos regulamentos da Organização Mundial de Comércio (OMC) de cláusula vetando a discriminação comercial de países que imunizassem seus rebanhos.

A preocupação crescente em relação ao contágio do rebanho não-vacinado justifica-se pela fácil dispersão da doença. Os animais são a principal fonte de contaminação, mas sua dispersão se dá por diferentes meios, por produtos animais, pelo vento e até pela narina humana, segundo Aramis Augusto Pinto, professor titular aposentado da Unesp de Jaboticabal.

“Seria um desastre para o País a contaminação de nosso gado pela aftosa”, diz o professor, que pesquisou a doença no Instituto de Saúde Animal de Pirbright (Inglaterra), que é referência mundial para o estudo de viroses exóticas. Para ele, num país continental como o Brasil e a vizinhança com países que não mantêm plano agressivo de combate à aftosa, como a Bolívia, a suspensão da vacinação somente poderia ser cogitada com a erradicação total da virose em todo o território nacional e a garantia de que foram montadas barreiras sanitárias em toda a fronteira.

(Por José Alberto Gonçalves e Paulo Soares, para Gazeta Mercantil, 16/03/01)

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