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Agropecuária faz produtividade voltar a crescer no 1º tri

A força da agropecuária no início de 2023 fez a produtividade brasileira registrar, entre janeiro e março deste ano, a primeira alta trimestral desde 2021, de acordo com informações antecipadas ao Valor pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).

A métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas subiu 1,3% no primeiro trimestre de 2023, ante igual período de 2022, vindo de uma queda interanual de 0,9% no quarto trimestre do ano passado. Pesquisadores do observatório notam que, em economias avançadas como Estados Unidos e Reino Unido, dados recentes mostram queda da produtividade no período.

No Brasil, com o resultado do primeiro trimestre, a produtividade efetiva, que estava em patamar um pouco abaixo do pré-covid, agora está cerca de 1,4% acima dele. Os pesquisadores do FGV Ibre pedem, no entanto, cautela na interpretação desse desempenho, já que a elevação resultou do crescimento extraordinário da produtividade agrícola.

“Não enxergamos nenhuma aceleração estrutural nos dados”, afirma Fernando Veloso, coordenador do Observatório junto com Silvia Matos, que também assina o estudo, além dos pesquisadores Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti.

Não fosse o agro, a produtividade efetiva agregada teria queda interanual de 0,8% nos três primeiros meses de 2023, observam. A produtividade efetiva da agropecuária saltou 23,5% no primeiro trimestre de 2023, ante igual período de 2022. Na indústria, o crescimento desacelerou para apenas 0,6%, enquanto os serviços continuaram registrando queda, agora de 1,1%.

“O crescimento da produtividade da agropecuária é central para entender o que aconteceu [com a produtividade agregada] no primeiro trimestre. Não houve reversão significativa nem na indústria nem em serviços”, diz Veloso.

Ele observa que o agro emprega em torno de 8,5% das horas trabalhadas, enquanto os serviços são responsáveis por mais de 70%. “Embora a agropecuária seja um setor relativamente pequeno em termos de emprego, o efeito foi tão grande que afetou o agregado.”

As horas efetivamente trabalhadas podem incluir reduções por motivos, entre outros, de doença, feriado ou cortes de jornada como os realizados em meio à pandemia, bem como aumentos por causa de picos de produção e compensação de horas, por exemplo.

Após forte crescimento interanual no segundo trimestre de 2020 – por causa do “efeito composição” gerado pela pandemia, que retirou mais do mercado os trabalhadores menos produtivos -, a alta da produtividade efetiva desacelerou até o primeiro trimestre de 2021. A partir daí, passou para o campo negativo, conforme a vacinação avançava e as horas efetivamente trabalhadas se normalizavam, mas vinha reduzindo perdas a cada trimestre até o fim do ano passado.

As demais medidas de produtividade agregada, que consideram o total de horas habitualmente trabalhadas e o número de pessoas ocupadas, também tiveram crescimento interanual, de 1,5% e 1,4%, respectivamente, no primeiro trimestre de 2023, vindo de quedas de 1,8% e de 1,9%, pela ordem, no trimestre anterior.

As medidas de produtividade são calculados por diferentes métricas para o trabalho em relação ao valor adicionado à economia, uma variável próxima do PIB, mas que exclui impostos e subsídios.

As tendências de convergência e desaceleração do crescimento das métricas de trabalho, observadas em 2022, prosseguiram no primeiro trimestre deste ano. Houve alta de 2,7%, 2,6% e 2,8%, respectivamente, no pessoal ocupado, nas horas habitualmente trabalhadas e nas horas efetivamente trabalhadas, em relação ao mesmo período do ano passado. O valor adicionado, por sua vez, subiu 4,1%.

Veloso chama a atenção para o crescimento do valor adicionado da agropecuária no primeiro trimestre deste ano, de quase 19%, em relação ao mesmo período de 2022. “Foi um crescimento extraordinário, ao mesmo tempo em que houve queda do fator trabalho”, observa.

No período, a população ocupada no agro recuou 5,2%, enquanto as horas efetivas caíram 3,8% e as horas habituais cederam 4,7%. “É menos gente trabalhando, menos horas e o produto explodindo. Isso é produtividade na veia”, afirma Veloso.

Outra forma de analisar a dinâmica da produtividade é a partir das séries dessazonalizadas e, também sob essa ótica, houve reversão de queda para alta ou aceleração do crescimento na passagem de 2022 para 2023.

No primeiro trimestre deste ano, a produtividade agregada por hora efetivamente trabalhada, por pessoal ocupado e por hora habitualmente trabalhada avançaram 2,1%, 2,2% e 2,1%, respectivamente, em relação ao quarto trimestre de 2022.

O crescimento da produtividade agregada dependente da agropecuária remete ao cenário do primeiro trimestre de 2017, lembram os pesquisadores do FGV Ibre. Naquele momento, a produtividade por hora efetiva teve alta interanual de 2,6%, puxada pelo ganho de 28,5% no agro. “Depois, isso acabou sendo revertido ao longo do tempo. Achamos que agora acontece algo parecido”, diz Veloso.

Desde o ano passado, o trabalhador formal domina o avanço da população ocupada, mas, na avaliação dos pesquisadores do FGV Ibre, isso ainda não se reflete em ganhos de produtividade.

Em abril de 2023, as ocupações formais estavam 7,2% acima do período pré-pandemia, e as ocupações informais, apenas 1% acima. São considerados formais empregados privados, públicos e domésticos com carteira, por conta própria com CNPJ, empregadores com CNPJ, além de militares e servidores estatutários. Os informais são os trabalhadores privados e domésticos sem carteira, por conta própria sem CNPJ, empregador sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar.

O FGV Ibre também calcula a produtividade total dos fatores (PTF), medida de eficiência com que os fatores capital e trabalho se transformam em produção.

Na série trimestral, com o ajuste de capital humano (ver abaixo), a PTF por horas efetivas cresceu 1,7% no primeiro trimestre de 2023, ante igual período de 2022, e 2,4% na comparação com os três meses imediatamente anteriores. Em relação ao pré-pandemia, porém, ainda está 2,5% abaixo.

Fonte: Valor Econômico.

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