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Algumas considerações sobre pré-secados

A silagem e o feno são duas alternativas de métodos de conservação de forragens para o período de inverno bastante conhecidas e utilizadas pelos pecuaristas. Ambas as técnicas foram amplamente discutidas em artigos anteriores. Recentemente surgiu em nosso meio uma alternativa intermediária entre estes dois métodos denominada simplesmente de “pré-secado” ou de “silagem pré-secada”. Nos EUA esta técnica é conhecida como “haylage” ou, numa tradução literal, “feno-silagem”.

Essa alternativa é bastante interessante do ponto de vista técnico por nos permitir reduzir os riscos de incidência de chuvas sobre material cortado no campo durante a fase de secagem, pois esse período fica restrito – dependendo das condições climáticas e das características morfológicas da planta forrageira – a uma ou duas horas de duração. Quem produz feno sabe que esse curto período de tempo é uma vantagem prática muito grande. Contudo, pelo fato da matéria seca desse material (normalmente de 40 a 60%) ser muito inferior ao utilizado pelo método de preservação como feno (> 85% MS), há formação de um ambiente favorável ao crescimento de microrganismos, ou seja, a umidade presente no material não impede que bactérias, fungos ou leveduras cresçam abundantemente. Isso pode tanto ser benéfico à conservação do produto como deteriorá-lo.

Após o material ser enfardado, da mesma forma que fazemos para produzirmos fardos de feno redondos ou cilíndricos, precisamos envolvê-lo com um filme plástico para que a condição interna do fardo seja de anaerobiose (ausência de oxigênio) e, portanto, haja uma fermentação similar à encontrada nos silos quando produzimos silagens convencionais de capins, milho, sorgo ou girassol. No entanto, em silagens convencionais o teor de matéria seca ideal está entre 30 a 35%, abaixo dos valores normalmente encontrados em materiais pré-secados. Isso significa que as bactérias lácticas não vão encontrar um ambiente muito favorável ao seu crescimento para transformarem açúcares solúveis presentes na planta em ácidos orgânicos e consequentemente abaixar o pH e preservar o material enfardado.

Isso significa que apesar de reduzirmos os riscos no campo, aumentamos os riscos após o enfardamento. Aumentamos também a necessidade de máquinas, já que haverá necessidade de um equipamento para o envolvimento do fardo com o filme plástico. Podemos também ser obrigados a utilizar algum aditivo, microbiológico ou não, para ajudar ou garantir a preservação do material.

Essa técnica tem sido utilizada com maior frequência nas bacias leiteiras do Paraná, sendo esse produto comercializado, não só nessas regiões, mas em inúmeras outras, inclusive no Estado de São Paulo. A qualidade do produto, em função de inúmeros fatores, têm sido ampla, encontrando-se material tanto de péssima quanto de excelente qualidade. As principais forrageiras utilizadas são aveia e azevém.

Como toda técnica nova, deve ser sempre avaliada com cuidado para que a relação custo: benefício não seja desfavorável. Para ilustrar os riscos do uso incorreto de novas técnicas, além das formas de divulgação das mesmas, transcrevo a seguir artigo publicado no Suplemento Agrícola do Estado de São Paulo em 15 de novembro de 2000, intitulado: Feno pré-secado é comida mais barata para o gado – Técnica consiste em cortar o capim e envolvê-lo com um filme de polietileno.

“Pecuaristas da região de Sorocaba (SP) estão substituindo o feno tradicional pelo pré-secado, um novo sistema de conservação do capim. A técnica consiste em cortar a gramínea a ser estocada e envolvê-la, no dia seguinte, com um filme de polietileno, produzindo fardos redondos, de 400 a 500 quilos. Embalado, o material pode ser conservado a campo e não estraga, mesmo na chuva. Segundo o agrônomo Rodolfo Cyrineu, a principal vantagem é o custo. Enquanto o feno seco tem custo de produção de R$ 0,18 a R$ 0,22 o quilo, o pré-secado custa, para o produtor, entre R$ 0,12 e R$ 0,14 o quilo.

Transporte – A manta de polietileno é o principal componente do custo, saindo por R$ 9,00 por fardo. O transporte e a estocagem são pontos que favorecem o pré-secado. Uma carreta transporta apenas 7 mil quilos de feno, por causa do volume, mas pode levar 18 mil quilos de capim embalado. O pré-secado pode ser deixado no campo, perto do local de consumo, por até um ano, sem perder o valor nutritivo. “O pré-secado não tem custo de armazenamento, ao contrário do que ocorre com o feno, que ocupa muito espaço coberto”. O ganho de tempo para a embalagem do capim é outra vantagem do pré-secado. A gramínea cortada para feno precisa ser seca a campo por três a cinco dias, dependendo da quantidade de sol. “Se nesse tempo chover, perde-se o capim.” O pré-secado pode ser embalado no dia seguinte ao corte. A desocupação mais rápida da terra é vantajoso para quem vai usar plantio direto.

Sem atraso – Foi o que ocorreu na Fazenda Cercado de Cima, em Taquarivaí, como conta o administrador Eloy Goulart de Paula. Ele plantou 120 hectares de aveia irrigada para produzir alimento para o gado marchigiana no próximo inverno. Mas a mesma área seria usada para o plantio direto de soja. “Se não tivéssemos equipamentos para fazer o pré-secado, não daria para aproveitar essa aveia para feno, pois o tempo de secagem é demorado e atrasaria a entrada da semente”. A fazenda investiu R$ 40 mil na compra de equipamentos – enfardadeira, enrolador e guincho. A área produziu 9 toneladas/hectare e, além de prover o consumo do rebanho, o excedente é vendido.”

Comentário BeefPoint: Tecnicamente falando, feno é sempre pré-secado, já que o produto se conserva pela desidratação do material. O correto então é usarmos os termos silagem pré-secada ou apenas pré-secado. O artigo fala em custos inferiores do produto. Na verdade, há comparação de dois produtos com concentração de água muito diferentes, o que leva a uma interpretação errônea dos custos de produção de cada tipo de produto. O feno possui aproximadamente 15% de água, enquanto o pré-secado pode possuir de 40 a 60% de água, ou seja, o feno pode conter o dobro de nutrientes em relação ao pré-secado. Se considerarmos 15% de água para o feno e 60% para o pré-secado, para cada tonelada adquirida, compramos 850 kg de nutrientes pelo feno e 400 kg pelo pré-secado, ou seja, mais que o dobro. Se aplicarmos os valores indicados no artigo, na verdade, o quilo de nutrientes comprados pelo feno, utilizando-se R$ 0,20 / quilo de feno, sai por aproximadamente R$ 0,24, enquanto que para o pré-secado, R$ 0,29. Os custos são realmente maiores em função dos equipamentos, filme plástico e do transporte (frete) de mais água. Esse mesmo raciocínio deve ser aplicado quando comparamos diferentes alimentos. Contudo, isso não invalida o uso dessa técnica, mas é importante que o pecuarista não se iluda. Além disso, é importante salientar que essa técnica ainda necessita de pesquisa para se determinar o melhor valor de umidade e o uso ou não de aditivos.

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Fonte: Suplemento Agrícola do Jornal O Estado de São Paulo (artigo de 15 de novembro de 2000).

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