Marcelo de Queiroz Manella1 e Celso Boin2
Com o aumento da demanda de carne de alta qualidade, tornou-se necessário a intensificação da produção de bovinos para o abate de animais precoces. Por se tratar de uma categoria que tem uma exigência nutricional muito elevada, devido à alta deposição de músculos e crescimento ósseo, a utilização de dietas com elevados níveis de concentrados são cada vez mais comuns. A alimentação, no caso de bovinos confinados é responsável por cerca de 70% dos custos de produção, obrigando os produtores a procurarem medidas que diminuam os custos de alimentação, com o uso de alimentos alternativos, como resíduos da agro-industria. Nesse sentido o resíduo de limpeza de soja (RLS) constitui-se em uma alternativa, em regiões produtoras de soja, pois apresenta um bom valor nutritivo, com teores de proteína bruta ao redor de 20%, sendo uma fonte protéica de baixo custo.
Em trabalho realizado no Rio Grande do Sul por MONTAGNER et al (2000), objetivou-se determinar a melhor resposta produtiva dos animais, utilizando-se dietas isoprotéicas (13%PB), com proporções de concentrado de 30, 40 e 60%, contendo 40% (T1, T2 e T3) ou 60% (T4, T5 e T6) de RLS na dieta, respectivamente. O volumoso utilizado foi uma silagem de sorgo forrageiro, e o concentrado foi constituído de milho, farelo de soja, RLS e minerais.
Foram utilizados 23 animais, machos castrados, provenientes do cruzamento entre as raças Charolês, Aberdeen Angus e Red Angus, com idade inicial de 13 meses e peso vivo médio inicial de 215,87 kg, alojados individualmente sob o sistema de confinamento. As avaliações de ganho de peso médio diário (GMD), consumo de matéria seca (CMS), e conversão alimentar (CA) de cada animal, foram avaliadas durante 60 dias.
Os resultados obtidos para GMD (TAB-1) foram maiores para os animais recebendo níveis de concentrado (60 %), independente do nível de resíduo de soja no concentrado. Levando-se em consideração os custos dos ingredientes no local e época em que foi desenvolvido o experimento, os custos por Kg de ganho de peso vivo foram: R$ 0,87; 0,97; 1,08; 1,06; 0,88 e 0,88 para os tratamentos 1 à 6, respectivamente. Embora os tratamentos 1, 5 e 6 tenham apresentado custos semelhantes, provavelmente o tratamento 6 seja mais conveniente em função de ter apresentado maior GMD e, consequentemente, menor tempo para acabamento e menores custos fixos.
Tabela1 – Valores de ganho de peso médio diário (GMD), consumo de matéria seca (CMS), e conversão alimentar (CA).
Os autores concluíram que, quando se aumentou o nível de concentrado na dieta, houve aumento no GMD, CMS e diminuição nos valores da CA. O tratamento com 60% de concentrado na dieta com 60% de RLS no concentrado apresentou melhor resultado econômico, entretanto, esta resposta poderá variar em função da variação dos custos.
Comentário BeefPoint: Estes dados demonstram que a utilização de subprodutos da agro-industria, como o RLS, podem ser utilizados estrategicamente em confinamento de bovinos de corte diminuindo os custos, sem prejuízos ao desempenho animal. Ressalvas devem ser feitas quanto ao valor nutritivo e os custos, que podem variar com a região de origem do alimento, sendo necessário a avaliação bromatológica do ingrediente. A utilização destes produtos deve seguir recomendações técnicas, prevendo o adequado equilíbrio nutricional da dieta.
Bibliografia utilizada
MONTAGNER,D.; SENGER, C. C. D.; BOLZAN, I. T. et al. Desempenho de novilhos recebendo diferentes níveis de concentrado com dois níveis de resíduo de soja no concentrado. XXXVII REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA (Anais, CD-Room), Viçosa, MG. 2000.
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1. Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP
2. Eng. Agr., PhD, Prof. Convidado, ESALQ/USP, Consultor