Durante o período de crescimento compensatório, ocorrem algumas alterações fisiológicas de extrema importância no organismo animal. Algumas delas, são mudanças hormonais das concentrações de GH, IGF1 e tireoideanos. As diversas alterações observadas promovem alguns efeitos, como:
Consumo voluntário
Há aumento do consumo voluntário de alimentos em bovinos de corte durante o período de crescimento compensatório. Segundo Sainz (1998), esse aumento de consumo pode estar relacionado a menor quantidade de tecido adiposo corporal, e consequentemente menor produção de leptina (hormônio responsável pela queda na ingestão de alimentos em animais obesos). A menor concentração sanguínea desse hormônio, proporcionaria menor inibição sobre o ponto de saciedade do animal, aumentando assim a ingestão.
Outro ponto importante seria o aumento do trato gastrointestinal em relação ao peso vivo que ocorre durante o período de crescimento compensatório. Essa maior relação trato intestinal/peso vivo, proporcionaria maior capacidade ingestiva devido a maior disponibilidade de espaço no interior do trato digestivo. Deve-se lembrar que, maior ingestão em relação ao peso vivo, significa maior quantidade de alimento sendo usado para ganho.
Tamanho de órgãos
Durante o período de restrição ocorre também diminuição dos órgãos viscerais em relação ao peso vivo dos animais, numa tentativa do organismo em diminuir as suas necessidades em energia. Isso ocorre pelo fato do crescimento desses órgãos, principalmente fígado e intestinos, ser mais afetado que o crescimento do animal como um todo. No período pós restrição, ocorre o contrário, havendo maior crescimento de órgãos viscerais em relação ao resto do corpo do animal. Com isso, parte do ganho de peso no período de crescimento compensatório se deve ao aumento do tamanho de órgãos do trato digestivo.
As alterações nos órgãos viscerais podem ocorrer tanto em número, como em tamanho das células. Segundo Ryan (1990), o tempo de recuperação para os órgãos internos atingirem pesos e tamanhos normais em relação ao peso vivo, pode ser de 60-90 dias.
Conteúdo gastrointestinal
Em condições normais, o conteúdo gastrointestinal é afetado principalmente pelo tipo dieta, tipo do animal e grau de acabamento. O peso do conteúdo gastrointestinal diminui em animais subnutridos, apresentando maior efeito em animais com restrição quantitativa do que qualitativa (Ryan, 1990).
As diferenças de enchimento no trato gastrointestinal podem responder por 20-25% do ganho, num período de 149 dias de realimentação, em pastagens de verão (Baker, et al. 1985).
Composição do ganho e composição corporal
O crescimento compensatório tem resultados bastante variáveis, com situações de ganho compensatório expressivo e outras com compensação praticamente inexistente. Parte dessa variabilidade de resultados pode ser explicada pela composição do ganho durante o período de compensação. Segundo Boin & Tedeschi (1997), a composição de carcaça pode ser igual ou não, a um mesmo peso, de animais geneticamente idênticos que não passaram por restrição alimentar, dependendo do:
A bibliografia apresenta resultados de maior, menor ou mesma deposição de gordura durante o período de crescimento compensatório, quando a comparação foi feita a um mesmo peso de abate. O efeito da restrição pré desmama na composição final da carcaça, depende da alimentação pós desmama. Tudor et al. (1980) observaram que animais mantidos sob pastejo sem suplementação durante dois invernos seguidos e terminados sem suplementação, apresentavam teor de gordura inferior ao de animais sem restrição. Porém, quando suplementados durante a terminação, apresentavam teor de gordura superior ao de animais sem restrição, a um mesmo peso de abate.
Segundo Fox et al. (1972) citados por Lanna (2001), novilhos realimentados depositam mais proteína que animais controle, em crescimento entre 260-350 kg de peso vivo. Na fase seguinte, entre 350-460 kg de peso vivo, esses animais depositaram maior quantidade de gordura que animais controle. Sainz et al. (1995) observaram aumento de 5% na proporção proteína/gordura da composição do ganho no tratamento onde havia restrição da quantidade de alimentos, e diminuição de 14% na mesma proporção quando a restrição foi qualitativa.
Poucas considerações são feitas em relação ao crescimento compensatório dos ossos, porém se o mesmo não ocorresse poderia ser uma limitação à ocorrência de ganho compensatório (Carstens, 1991).
O grau de maturidade da ocorrência da restrição será o principal fator para alteração da composição corporal dos animais. Quanto mais jovem for o animal, até aproximadamente 8-10 meses de idade, maiores são as chances de ocorrer alterações na composição corporal e consequentemente mudança no peso adulto do animal.
Referências Bibliográficas
BAKER, R.D.; YOUNG, N.E.; LAWS, J.A. Changes in the body composition of cattle exhibiting compensatory growth and the modifying effects of grazing management. Animal Production, v. 41, p. 309-319, 1985.
BOIN, C.; TEDESCHI, L.O. Sistemas intensivos de produção de carne bovina: II. Crescimento e acabamento. In: Simpósio sobre pecuária de corte, 4. Piracicaba. Anais. FEALQ., p. 205-228, 1997.
CARSTENS, G.E.; JOHNSON, D.E.; ELLENBERGER, M.A.; TATUM, J.D. Physical and chemical components of the empty body during compensatory growth in beef steers. Journal of Animal Science, v. 69, p. 3251-3264, 1991.
LANNA, D.P.D. Nutrição de bovinos de corte em ganho compensatório. In: III Seminário Internacional Nutron Sobre Nutrição de Bovinos. Campinas, 2001.
RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. Nutrition Abstracts and reviews. v. 60, p. 653-664, 1990.
SAINZ, R.D.; TORRE DE LA, F.; OLTJEN, J.W. Compensatory growth and carcass quality in growth restricted and refed beef steers. Journal of Animal Science, v. 73, p. 2971-2976, 1995.
SAINZ, R.D. Crescimento compensatório em bovinos de corte. In: Simpósio sobre produção intensiva de gado de corte. Campinas, CBNA, p. 22-38, 1998.
TUDOR, G.D.; O’ROURKE, P.K. The effect of pre and post natal nutrition on growth of beef cattle. Australian Journal of Agriculture Research, v. 31, p. 179-189, 1980.