Os preços dos produtos agropecuários registraram alta generalizada no primeiro semestre de 2021 na comparação com o mesmo período do ano passado, confirmou análise divulgada há pouco pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No curto e médio prazos, a tendência é de estabilidade ou novas altas, segundo o órgão.
No mercado internacional, a soja subiu 65,9%, o milho 72,3%, o trigo 24,4%, o algodão 38,1%, o boi gordo 18,3%, os suínos 65,3% e a carne de frango, 24,2%. Apenas o arroz apresentou patamares inferiores, com queda de 11% nas cotações em dólar.
No ambiente doméstico, os valores médios de todos os principais produtos, exceto a batata, também aumentaram, com índices acima de 40% para os grãos e de 36% para as carnes.
Seca e geadas
“Os problemas climáticos, como as geadas recentes e o clima seco no Centro-Sul, tiveram e devem continuar a ter um papel decisivo nessa perspectiva. A intensidade desse possível aumento de preços também depende estreitamente do comportamento da taxa de câmbio nos próximos meses e dos preços internacionais”, diz a nota de conjuntura divulgada pelo Ipea, elaborada em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) e com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Soja
Os preços domésticos da soja aumentaram 78,5% no primeiro semestre de 2021 em relação a igual intervalo de 2020. A confirmação da quebra da safra argentina, os baixos estoques no Brasil e nos Estados Unidos e a efetivação de contratos a termo dos produtores brasileiros geraram alta de 1,9% no preço no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano. A valorização dos prêmios de exportação e a alta demanda externa pelo grão também sustentaram o avanço das cotações internas.
No mercado internacional, a soja também manteve forte escalada, com pico em maio e acomodação a partir da divulgação de perspectivas de colheita nos Estados Unidos. “A manutenção dos preços internacionais da soja em patamares superiores aos observados em 2020 e 2019, por sua vez, impactou no número de contratos fechados, principalmente por parte da China — principal consumidor e importador mundial —, o que fez com que os preços abrissem agosto buscando patamares similares aos verificados em janeiro de 2021”, diz o relatório.
A nota traz uma atualização do balanço de oferta e demanda de soja no Brasil, que aponta exportações de 82,5 milhões de toneladas e estoque final da safra 2020/21 de 26,1 milhões de toneladas, 30,5% acima do volume inicial da temporada. O estoque de passagem do grão deve ser de 7,6 milhões de toneladas.
O balanço internacional é “bastante justo, sem muita margem para recomposição de estoques mundiais e com perspectiva de queda de 3,2% nos estoques de passagem, o que pode manter os preços no segundo semestre acima dos observados em 2020”, diz o documento. O ritmo de negociação dos contratos a termo dos estoques disponíveis da safra atual e para as duas safras seguintes está mais comedido, afirma o Ipea.
Milho
O milho, o movimento interno foi semelhante, com alta de 76,5% no primeiro semestre, impulsionada pelas perdas de produção na segunda safra devido ao clima, com estiagens e geadas, no Centro-Sul. Com colheita e exportação menores, a importação deverá crescer 58,3%, para 2,3 milhões de toneladas, o consumo poderá subir para 70,9 milhões de toneladas (alta de 3,3%) e o estoque final em 2020/21 será mais apertado, com recuo de 51,5% em relação ao fim da temporada anterior.
Agosto começou com quedas acima dos patamares observados em 2020 no mercado internacional de milho, com margem menor de especulação no mercado, diz o Ipea. “Os preços domésticos já estão descolados dos preços verificados no mercado internacional há alguns meses, sinalizando maior remuneração das vendas internas frente às exportações”, relata a nota divulgada pelo instituto, que destaca que as cotações internacionais estão suscetíveis aos estoques mundiais 8,3% menores este ano e o risco climático rondando as próximas safras.
Boi gordo
No caso do boi gordo, a alta nos preços domésticos foi de 53,5% de janeiro a junho deste ano na comparação com o primeiro semestre de 2020 e de 4,9% entre o primeiro e o segundo trimestres de 2021, influenciados pela baixa oferta de animais e a alta demanda externa por carne, o que forçou os frigoríficos a buscar novos animais para abate.
O movimento de alta é semelhante no mercado internacional, impactado pela demanda chinesa que diversifica o consumo de proteínas, enquanto não recompõe o rebanho suíno, por meio da carne bovina.
“No mercado doméstico, tem sido observada a busca por proteínas substitutas de custo mais baixo. Esse movimento até chegou a pressionar o preço da arroba para baixo em maio, mas não se sobrepôs aos demais fatores responsáveis pela elevação dos preços”, diz o boletim.
A estimativa é de manutenção de preços em patamares elevados até o fim do ano e preocupação por parte dos pecuaristas para a reposição de animais devido à forte valorização dos bezerros e da ração.
Suínos,frango e outros
As cotações internas das carnes suínas, impulsionadas pelas exportações, e de frango, favorecida pela procura pelo produto como substituto à proteína bovina, apresentaram alta de 36,9% no primeiro semestre. Os preços de ovos (20,7%), leite (42%), arroz (55,2%), laranja (20,7%) e banana (18,7%) também subiram. Apenas a batata registrou queda no mercado doméstico no período apurado pelo Ipea, de 10,4%.
Fonte: Valor Econômico.