O presidente do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina, Bernardo Cané, apresentou ontem ao Ministério da Agricultura brasileiro os principais pontos do plano de combate à febre aftosa. A Argentina pretende vacinar todo o rebanho bovino, calculado em 50 milhões de cabeças (dos quais 30 milhões na região central), e manter uma atenção especial nas zonas de fronteira.
Cané reconheceu a existência de 150 focos na Argentina, mas garantiu que o foco mais próximo do Brasil está a mais de 200 quilômetros da fronteira com o Rio Grande do Sul, na região da Mesopotâmia.
Em parceria com produtores, a Argentina já começou a vacinar o rebanho da região Central (Buenos Aires, La Pampa, Córdoba, Chaco e Formosa). Outra etapa será a vacinação na fronteira com o Chile (Mendoza, San Juan, La Rioja, Salta, Jujuy e Tucumán), e na Mesopotâmia (Entre Ríos, Corrientes e Misiones). Até o final de março, 14 milhões de animais do rebanho argentino já tinham sido vacinados. O país optou pela vacinação porque os focos estão pulverizados; o sacrifício somente ocorrerá em caso de focos nas fronteiras. As despesas para o governo argentino, com a volta da vacinação, serão de aproximadamente US$ 80 milhões por ano.
Só ficará sem vacinação o gado do sul do país. Na região da Patagônia será colocada uma barreira sanitária, preservando a área (com 800 mil cabeças), considerada livre sem vacinação. A intenção da Argentina é recuperar o status sanitário de livre de aftosa sem vacinação em quatro anos. Cané acredita que ficam mantidos os negócios, já que mercados como Estados Unidos e Canadá foram conquistados quando o país ainda imunizava o gado. Por enquanto, as perdas com as exportações chegam a US$ 200 milhões.
Outra ação considerada importante é a retomada da confiança dos demais países do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Hoje, Cané apresenta o mesmo plano ao Paraguai e, amanhã, ao Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa). A Argentina foi acusada de esconder por algum tempo a existência da doença.
A instrução normativa que proíbe ingresso de produtos vegetais do país vizinho no Brasil será reformulada. As barreiras serão restritas de acordo com a origem do produto e proximidade com os focos. Mas o governo aguarda informações adicionais, ainda esta semana, para então rever a medida.
(Por Carolina Bahia, para Zero Hora/RS e Ayr Aliski e Luiz Guimarães, para Gazeta Mercantil, 10/04/01)