A Argentina suspendeu hoje as exportações de carne bovina por um mês. A medida afeta frigoríficos brasileiros como Minerva Foods e Marfrig, que estão entre os maiores exportadores do país. A Minerva lidera o abate na Argentina.
A decisão foi comunicada nesta segunda-feira pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, em reunião com representantes dos frigoríficos. “Chamou para conversar, mas chegou com a medida já decidida”, disse um executivo.
O jornal argentino “La Nación” foi o primeiro a reportar a suspensão. Ao Valor, uma fonte afirmou que o presidente argentino adotou a medida com o intuito de reduzir os preços da carne bovina no mercado doméstico. A Argentina sofre com inflação elevada.
A postura do governo Fernandez provocou irritação, mas não deixa de ser um déjà-vu para os frigoríficos e os pecuaristas, que sofreram com severas restrições durante o governo de Cristina Kirchner, a atual vice-presidente.
Ao limitar os embarques, o governo Kirchner desestimulou a pecuária e, com isso, reduziu o rebanho argentino em 10 milhões de cabeças, o que diminui o peso do país no comércio internacional de carne bovina. “Eles acham que uma bobagem aplicada duas vezes terá resultado diferente”, disparou uma fonte.
A decisão abrupta da Casa Rosada também ameaça colocar a credibilidade da carne argentina novamente em risco. “É um desincentivo ao investimento estrangeiro. Depois se queixam de desemprego e carestia”, criticou a fonte.
Para os frigoríficos brasileiros que atuam na Argentina, os impactos são de ordem de grandeza diferente. Da receita total da Marfrig, que obtém mais de 80% da geração de caixa nos EUA, os argentinos representam apenas 1,3%.
Além disso, a Marfrig já vinha reduzindo a fatia da produção que exporta na Argentina, disseram executivos da empresa recentemente em uma teleconferência com analistas. A fatia das exportações da operação argentina já havia caído de 70% para 50%. A Marfrig é dona de marcas conhecidas no país, liderando o negócio de hambúrguer com a marca Paty e o de salsicha com a Vienissima.
Na Minerva, a representatividade da Argentina é maior – em torno de 10% da receita total e 27% da subsidiária Athena Foods, sendo parte disso obtida no mercado interno com a marca Swift. A expectativa é que a companhia atenue os impactos da suspensão arbitrando com as exportações de outros países onde também atua (Uruguai, Brasil, Paraguai e Colômbia), apurou o Valor.
Para alguns, a medida será mesmo temporária, representando uma estratégia do governo para ganhar tempo e se preparar para adotar medidas de controle das exportações menos prejudiciais, como o veto à exportação de empresas que não tem frigoríficos. Mas nem todos estão otimistas. “Não sei se dura só 30 dias”, lamentou uma fonte.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Argentina é o quinto maior exportador do mundo, atrás de Brasil, Austrália, EUA e Índia. Os argentinos exportaram 819 mil toneladas em equivalente-carcaça no ano passado, o que representou 7,5% das exportações mundiais.
Fonte: Valor Econômico.