Há cerca de duas décadas, ou mais exatamente há 24 anos, um grupo de pecuaristas se reúne para o que chamam de Nelore Fest: um misto de celebração de resultados e de encontro de velhos e novos conhecidos. O motivo é simples: a raça nelore compõe o grupo de bovinos mais numeroso do país, responsável pela colocação no mercado da quase totalidade da produção nacional de carne bovina para o consumidor nacional e para a exportação.
Em 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima uma produção entre 10,5 milhões e 11 milhões de toneladas, mas o Departamento de Agricultura dos EUA (Usda) é ainda mais otimista: 11,9 milhões de toneladas. Isso significa uma participação global de 19,5% da produção prevista pelo órgão norte-americano, que é de 61 milhões de toneladas.
“O agro é responsável pela segurança alimentar não só do Brasil, mas do mundo”, disse o pecuarista Victor Paulo Silva Miranda, a uma plateia de cerca de 400 pessoas na noite deste sábado (7). Miranda é o presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), entidade promotora do Nelore Fest. “O nelore é um investimento financeiro”, afirma.
Não é difícil fazer a conta do que isso significa. De janeiro a outubro, o Brasil exportou 2,1 milhões de toneladas de carne bovina, por US$ 9,5 bilhões (R$ 58,1 bilhões na cotação atual), segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Mas esse volume representa apenas 25% da produção nacional, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). Ou seja, a consolidar essas estimativas, o mercado interno é um imenso prato consumidor de 8,4 milhões de toneladas de carne bovina, com base na previsão menos otimista do IBGE.
O Nelore Fest é uma imensa colcha de retalhos que tenta dar conta desse universo. As premiações e homenagens são diversas, mas duas se destacam. Uma é sobre as melhores carcaças de animais, avaliadas pela ACNB, nos diversos frigoríficos do país e mercados próximos, como Paraguai e Bolívia, onde a entidade mantém parceria de avaliação genética do rebanho. A outra vai para os criadores e expositores que se destacaram levando seus animais para serem avaliados em exposições agropecuárias.
Nas exposições, os destaques no nelore mocho (que é o animal sem chifres, uma característica genética que ajuda no manejo), foram a Z. Holding, como melhor criador; e Dalton Heringer, um tradicional criador do Espírito Santo, com o título de melhor expositor e campeão supremo (a maior pontuação obtida). Dos animais que nascem com chifres, o nelore padrão, a mineira Rima Agropecuária ficou com todos os principais prêmios.
No caso das avaliações de carcaças nos frigoríficos, os países vizinhos são bem-vindos à disputa. Justamente porque, além dos criadores, a internacionalização também ocorreu para a indústria frigorífica nacional, com forte presença de Minerva, Marfrig e JBS atuando em toda a cadeia bovina ou parte dela.
Elisabeth Von der Osten Pisani tem duas fazendas no Paraguai, com abate de cerca de 8 mil animais por ano no Minerva. A pecuária está na família desde 1976 e hoje é ela quem faz toda operação com o gado, aos 70 anos de idade e sem planos de deixar a lida. Há três anos, ela participa das avaliações de carcaças promovidas pela ACNB e levou prêmios em todos os anos.
“Quando passamos a ganhar os prêmios, as pessoas começaram a nos olhar de forma diferente”, diz ela. “E não vamos parar, porque sabemos que temos qualidade no campo.” Elizabeth não é uma novata em tecnologias. Ela utiliza a técnica da Inseminação Artificial para em Tempo Fixo (IATF), há cerca de 20 anos. Com resultados espetaculares nos índices de prenhez, acima de 75%, ela diz que hoje se prepara para tirar os touros do processo e somente trabalhar com inseminação artificial.
Ainda na parte da celebração, a ACNB apresentou e presenteou seus convidados com o livro “Associação dos Criadores de Nelore do Brasil – 70 anos a serviço da raça nelore”. O livro conta essa trajetória entre 1954 e 2024 por meio de histórias e análises. O livro começa assim: “Qualidade, com protocolos e padronizações, como veremos nos capítulos a seguir”, na fala do presidente da ACNB. O passo a passo, em oito capítulos, vai da origem da raça, às conquistas e desafios. A realização do livro envolveu uma equipe de 10 jornalistas. “Foi o nosso primeiro livro contando histórias”, diz o jornalista Altair Albuquerque, da Texto, que tem em sua conta diversos anuários, entre eles os de leite e peixes.
Fonte: Forbes.