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Benefícios para a saúde do maior consumo de proteínas: parte 2

A maior ingestão de proteínas dentro do ANDR não parece aumentar os riscos de doenças cardiovasculares (1). Também existem importantes benefícios para a saúde de consumir mais proteínas do que a RDA (1). Experimentos clínicos controlados encontraram melhora nos perfis lipídicos do sangue quando carboidratos foram substituídos por proteínas em indivíduos hipercolesterolínicos e normolipídicos.

Proteína e doenças cardiovasculares

A maior ingestão de proteínas dentro do ANDR não parece aumentar os riscos de doenças cardiovasculares (1). Também existem importantes benefícios para a saúde de consumir mais proteínas do que a RDA (1). Experimentos clínicos controlados encontraram melhora nos perfis lipídicos do sangue quando carboidratos foram substituídos por proteínas em indivíduos hipercolesterolínicos e normolipídicos (19,23-26). Carnes magras podem ser igualmente tão efetivas quanto a proteína vegetal da soja na melhora dos perfis lipídicos, função arterial e pressão sangüínea com perda de peso (27).

Evidências de experimentos clínicos

Em adultos moderadamente hipercolesterolêmicos, uma dieta rica em proteína reduziu significantemente o colesterol LDL, baixou os triglicérides e aumentou o colesterol HDL comparado com uma dieta com menor nível de proteínas em um estudo de dois meses, como mostra a Figura 2 (19). Os efeitos favoráveis de uma dieta rica em proteína foram observados com ingestão constante de gordura (24% da energia)m colesterol e fibras (19). As principais fontes de proteínas foram carne bovina, presunto, peru, peixe e queijo cottage (19).

A substituição moderada de carboidratos com alimentos ricos em proteínas em uma dieta contendo um nível típico de gordura (35% da energia da gordura) também mostrou uma melhora significante nos perfis lipídicos do sangue em homens e mulheres saudáveis com níveis normais de lipídios sangüíneos (26). Uma dieta rica em proteínas para manutenção de peso (22% da energia vinda das proteínas) reduziu significantemente os triglicérides, o colesterol total, o colesterol LDL e as concentrações de lipoproteína com densidade muito baixa, bem como a proporção do colesterol total com o HDL comparado com uma dieta pobre em proteína (12% da energia vindo da proteína, próximo ao nível mais baixo do AMDR) (26). Os níveis de saciedade, uma medida da sensação de se sentir saciado entre as refeições, tenderam a ser maiores entre aqueles que fizeram dietas com alto nível protéico neste estudo de dois meses (26).

Figura 1. Efeitos de uma dieta rica em proteína nos fatores de risco de doenças cardiovasculares (CVC) em adultos hiperlipidêmicos (19)


Evidências epidemiológicas

Esses resultados são consistentes com as descobertas do Estudo de Saúde de Enfermeiras que mostrou que o risco de doenças cardíacas isquêmicas caiu à medida que aumentou o consumo de proteínas (28). Tanto proteínas de origem animal como de origem vegetal contribuíram para reduzir os riscos (28). A associação inversa foi similar naqueles com baixo e alto consumo de gordura total e gordura saturada (28). Os autores sugeriram que, dado o mesmo consumo total de energia e gordura, uma dieta com nível relativamente alto de proteína e baixo de carboidratos pode reduzir os riscos de doenças cardíacas isquêmicas (28).

Uma recente meta-análise dos dados epidemiológicos existentes concluiu que existem evidências convincentes de uma associação inversa entre consumo de proteína na dieta e pressão sangüínea (29). Os estudos mostraram que maiores consumos de proteínas estão associados com menores níveis de pressão sangüínea (30-33).

Estudos prospectivos no Japão mostraram que dietas pobres em proteína animal e gordura estão associadas com um maior risco de derrame (32,32). Menores ingestões de proteína animal e gordura saturada estiveram associadas com um maior risco de derrame no Estudo de Saúde de Enfermeiras (33). Neste estudo, o consumo médio de proteína do grupo consumindo a menor quantidade de proteína foi de 43 gramas por dia (33). Um estudo controlado demonstrou o beneficio da dieta rica em proteína (25% da energia) para reduzir a pressão sangüínea em pessoas hipertensivas (34).

Proteína e diabetes

Estudos clínicos indicam que a substituição de alguns carboidratos por proteína pode ser benéfica para aqueles que estão acima do peso e resistentes à insulina (14,20,35). Uma dieta rica em proteína (30% da energia) mostrou reduzir significantemente os níveis de glicose sangüínea após as refeições e melhorar o controle geral da glicose em pessoas com diabetes tipo 2 não tratada sem perda de peso (36). A maior ingestão de proteína também mostrou ajudar a estabilizar os níveis de glicose sangüínea e reduzir a resposta à insulina após as refeições em mulheres com excesso de peso durante a perda de peso (14).

Evidências de experimentos clínicos

Homens e mulheres com excesso de peso com resistência à insulina consumindo uma dieta rica em proteína (27% da energia) tiveram melhora na resposta à glicose e nenhum efeito adverso no perfil de lipídios, pressão sangüínea ou marcadores de turnover ósseo comparado com os controles consumindo uma dieta padrão em proteínas (16% da energia) como mostrado na Figura 3 (35).

Figura 2. Efeitos de uma dieta rica em proteína nos fatores de risco para diabetes em adultos com sobrepeso resistentes à insulina (35)


Dietas com níveis muito baixos de gordura com mais de 60% da energia de carboidratos podem amplificar as anomalias metabólicas associadas com a síndrome metabólica da qual um dos fatores de risco clássico é a resistência à insulina (a síndrome metabólica, por sua vez, aumenta o risco de doenças cardiovasculares) (37). Pesquisadores canadenses do Instituto do Coração de Quebec investigaram os efeitos metabólicos de uma dieta da American Heart Association Fase 1 (AHA) versus uma dieta com baixo índice glicêmico, baixa gordura e alto nível protéico em homens com alto nível de gordura abdominal (38). A gordura representou cerca de 30% da energia em ambas as dietas; entretanto, a proteína representou 15% da energia na dieta AHA versus 31% na dieta rica em proteína (38).Comparada com a dieta AHA, a dieta protéica produziu um decréscimo de 35% nos níveis de triglicérides, um aumento no tamanho das partículas LDL; e um marcado decréscimo nos níveis plasmáticos de insulina (38).

Mecanismos propostos

Foi lançada a hipótese de que alguns casos de diabetes tipo 2 podem estar relacionados com a nutrição ruim no início (39). A falta de proteína tem impacto na ação e seleção da insulina e esses efeitos podem persistir mesmo quando uma dieta com proteína adequada é consumida subsequentemente (39). Pesquisas sugerem que a restrição de proteína resulta em uma capacidade prejudicada das células pancreáticas beta de compensar adequadamente pelo defeito na ação da insulina em indivíduos com resistência à insulina (39). Esta persistente falha na secreção de insulina resultante da restrição de proteína parece predispor à perda do controle de regulação da glicose e prejudicar a ação da insulina (39).

Pessoas com diabetes têm uma alta incidência de insuficiência cardíaca devido à disfunção do miocárdio (40). A cardiomiopatia, uma condição caracterizada por defeitos na função contrátil, é uma das principais complicações da diabetes (40). Aumentar a oferta de aminoácidos em adição à terapia convencional pode atenuar isso (40).

Evidências epidemiológicas

Alguns estudos epidemiológicos sugerem que dietas ricas em carnes processadas (como bacon, salsicha e lingüiça) podem estar associadas com a diabetes do tipo 2 (41-43). Entretanto, em análises multivariadas, o consumo total de carnes vermelhas (carne bovina, suína, ovina como prato principal, sanduíches ou pratos mistos e hambúrguer; incluindo carnes processadas) esteve associado com somente um modesto e não significante aumento no risco de diabetes após ajustes para idade, Índice de Massa Corpórea (IMC), magnésio, fibras cereais, índice glicêmico e cafeína (41). No Estudo de Saúde de Enfermeiras, o consumo de gorduras totais, saturadas e monoinsaturadas não esteve associado com o risco de diabetes do tipo 2; as gorduras trans estiveram associadas com um risco maior; e as gorduras poliinsaturadas estiveram associadas com um risco reduzido (44).

Um estudo clínico recente sobre os efeitos das proteínas animais versus as proteínas vegetais nos parâmetros renais, glicêmicos e lipídico, concluiu que não existe vantagem clara para recomendar dietas contendo somente proteínas vegetais ao invés de animais para pessoas com diabetes do tipo 2 (45).

Função renal

Com relação à função renal, o relatório DRI concluiu que o consumo de proteína não é responsável pelo progressivo declínio na função renal com a idade (1). De fato, a descoberta de que a liberação de creatinina está positivamente correlacionada com o consumo de proteína sugere que a baixa ingestão de proteína por si só pode reduzir a função renal. (1). O controle glicêmico é importante para prevenir doenças renais relacionadas com a diabetes (46). O controle da pressão sangüínea pode ajudar a prevenir a maioria das doenças renais hipertensivas (46).

Ligação com o peso

A obesidade é um importante fator de risco para doenças cardiovasculares, diabetes e síndrome metabólica. O debate sobre o balanço ótimo de macronutrientes para a perda e manutenção do peso está em andamento. Freqüentemente, este debate é centrado nas quantidades relativas de carboidratos versus gorduras. Embora esteja claro que o balanço de energia é crucial, existe um crescente interesse no nível ótimo de proteínas da dieta para o controle de peso.

Aumentos moderados no consumo de proteína dentro do AMDR podem ser vantajosos. Dietas ricas em proteínas parecem promover uma saciedade maior, maior termogênese e reduzir a perda de proteína muscular (50). Estudos clínicos de curto prazo reportaram uma maior satisfação entre as pessoas que consumiram dietas mais ricas em proteínas (18-30% da energia) comparado com dietas com quantidades padrões de proteína (15% da energia) durante tanto a perda de peso (mais de seis semanas) e manutenção (mais de três meses) (51.52). maiores ingestões de proteína (18% versus 15% da energia) podem ajudar a reduzir a recuperação do peso após perda aumentando a saciedade, afetando favoravelmente a composição corpórea e reduzindo a eficiência de energia durante o excesso de alimentação (51).

Estudos clínicos demonstraram que ingestões moderadamente maiores de proteína como parte de dietas para perda e manutenção do peso resultam em maiores reduções na gordura abdominal em pessoas com excesso de peso (20,53). Os efeitos favoráveis da maior ingestão de proteína na composição corpórea foram atribuídos à maior ingestão de aminoácidos da cadeia ramificada leucina de fontes de proteína de alta qualidade (2). São necessários mais estudos para avaliar as funções de aminoácidos específicos para o melhor entendimento do valor da ingestão de proteínas de alta qualidade na perda e manutenção do peso.

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Adaptação do artigo “Protein – Can higher intakes benefit health?”, publicado no informativo Nutrition Perspective do Beef Information Centre (http://www.beefinfo.org) do Canadá, escrito por Valerie Steele, MHSc, RD Nutrition Wise Communications.

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