Nos últimos dez anos, a pecuária bovina brasileira deu um salto de qualidade e produtividade, passando de importador líquido para terceiro maior exportador de carne. Ficando atrás somente da Austrália e EUA, a pecuária nacional vem se destacando principalmente pela queda na mortalidade, aumento das taxas de natalidade e de crescimento da produtividade. A produção brasileira de carne bovina entre 1990 e 2000 aumentou 35%, de 5,2 para 7 milhões de toneladas.
O aumento da qualidade da carne bovina brasileira é visto como ameaça aos países concorrentes. Como possui o maior rebanho comercial do mundo, cerca de 165 milhões de cabeças de bovinos e búfalos, o país já exporta mais que países tradicionais na exportação de carne, como Nova Zelândia, Argentina, Alemanha e Irlanda.
A aftosa, grande entrave às exportações brasileiras, também está sendo superada. Em 1994 foram registrados 2.093 focos de febre aftosa. Já em 2000, apenas 47 focos foram verificados, com a ressalva de que praticamente metade deste número localizou-se nos arredores do município gaúcho de Jóia, que faz divisa com a Argentina, que no ano passado sofreu com um surto de febre aftosa.
Com relação à natalidade, na década de 70 a média ficava entre 50% e 55%, e a idade média de abate ficava entre 4 e 4,5 anos. Hoje, a média subiu para 65% e o abate acontece em média aos 3,5 anos.
João Carlos Meirelles, secretário da Agricultura de São Paulo, acredita que um fator importante é o aumento da chamada taxa de desfrute – percentual de animais abatidos em relação ao tamanho do rebanho. Em dez anos, a taxa passou de 13% para 22%. “Um crescimento nunca visto antes em qualquer pecuária do mundo” diz. Nos EUA, a taxa é de 30%. Meirelles acredita que “o Brasil caminha para ser em 10 ou 15 anos o maior exportador mundial de carne bovina”.
Na questão da sanidade, pecuaristas de São Paulo e Mato Grosso se preocupam com doenças como a brucelose e a raiva. Segundo Antonio Carlos Carvalho de Souza, secretário-executivo do FEFA (Fundo Emergencial da Febre Aftosa em Mato Grosso), estima-se que a brucelose incida em cerca de 10% do rebanho de vacas matrizes do gado de corte.
Em 1999, a Assembléia Legislativa do Mato Grosso aprovou lei tornando obrigatória a vacinação contra a brucelose, mas, até o momento, o estado não se integrou à campanha nacional deflagrada pelo Ministério da Agricultura contra a enfermidade. O objetivo é erradicar a brucelose em dez anos. Uma dose apenas durante toda a vida do animal é suficiente para protegê-lo da bactéria. A vacina contra a brucelose custa R$ 0,35 a dose, bem mais barata que os R$ 0,70 da vacina antiaftosa, e é aplicada uma única vez na vida do animal, mas precisa ser injetada por veterinário.
(Por Paulo Soares e José Alberto Gonçalves, para Gazeta Mercantil, 21/02/01)