Já abordamos o assunto BSE em três comentários anteriores, sendo que no da semana passada em consequência do surgimento da doença “scrapie” em ovinos no Estado do Paraná.
Nessa última semana dois acontecimentos importantes sobre a BSE surgiram na imprensa. O primeiro relacionado com a constatação que a Purina Mills tinha usado farinha de carne e osso (proibido nos Estados Unidos) em ração para confinamento de bois no Estado do Texas. A Empresa confirmou o uso “acidental” (erro humano) e todas as providências parecem ter sido tomadas, inclusive o pagamento dos animais aos proprietários e sua retirada da cadeia alimentar, mesmo sem nenhuma evidência de que a farinha estivesse contaminada pela BSE. O uso ilegal já foi suficiente para que ações fossem tomadas para punir o infrator e evitar a exploração emocional do incidente. O segundo acontecimento é mais grave pois envolve a suspeita de possível transmissão da doença para o homem fora da Europa (Coréia do Sul). Sangue bovino desidratado importado da Europa para a produção de ração para animais está sendo apontado como o principal veículo dessa suspeita de introdução da BSE na Coréia do Sul.
Quando do reinício do surgimento de casos de BSE na Europa, setores da cadeia de carne bovina pleitearam do Ministério da Agricultura atestado que o rebanho brasileiro estivesse livre de BSE e que a carne exportada deveria receber um selo de “garantia” como estando livre de BSE. Depois do surgimento do caso de “scrapie” no Paraná, a probabilidade do rebanho bovino estar livre de BSE continua muito grande, mas alguns admitem que pode existir uma possibilidade muito remota de sua presença.
Em função da divulgação pela imprensa de casos de importação de bovinos e de farinha animal de países europeus durante o perído de incubação da doença, e também do surgimento do caso de “scrapie” no Paraná em ovinos de prodecência Canadense, algumas ações concretas de rastreamento de animais importados estão sendo tomadas (não sabemos a velocidade e a prioridade com que estas ações estão acontecendo). De qualquer maneira, parece que esta atividade de rastreamento do que foi importado é muito pouco diante da gravidade do problema, tanto do ponto de vista de saúde pública como do relacionado à economia da cadeia da carne bovina.
Com relação à saúde pública, os integrantes da cadeia da carne bovina e o governo deveriam bancar uma campanha de esclarecimento e de informações sobre a doença, sobre sua provável ausência no rebanho bovino brasileiro e sobre que partes do animal deveriam ter seu consumo evitado mesmo considerando a não existência de casos no nosso rebanho.
Com relação à economia da cadeia da carne, deveriam ser implementadas ações visando: o rastreamento da produção e do consumo de farinha de carne e osso e de sangue (quem fabricou, onde e por que espécie de animais elas foram consumidas); o esclarecimento e a responsabilização dos que continuaram a usá-las depois da proibição; o estímulo de sistemas de produção de ciclo curto (abate até os dois anos e meio) e com altas taxas de reposição de matrizes; a realização do teste de laboratório, por amostragem em animais mais velhos e com histórico de terem sido alimentados com farinhas animais durante suas vidas.
A realização de testes para a presença da doença poderá encontrar resistências, principalmente por aqueles que têm receio de sua presença por afetar a curto prazo os seus interesses econômicos. Entretanto, a saúde pública e os interesses econômicos da cadeia como um todo e do país têm que prevalecer. Como dissemos no primeiro comentário sobre a BSE em 01 de dezembro próximo passado: ” Se o levantamento for feito e a presença da doença não for detectada, uma política de prevenção e consequentes campanhas de esclarecimento deverão ser estabelecidas para evitar a sua entrada no Brasil. Aí esse fato deveria ser usado como propaganda da segurança da nossa carne e sem dúvida teria um enorme impacto favorável na economia pecuária. E se a presença da doença for detectada em animais que ainda não apresentaram sintomas clínicos, quais seriam as consequências? A não constatação da presença da doença pela falta de levantamento apenas adiaria o problema, pois o aparecimento dos sintomas clínicos seria pura questão de tempo. Além de estarmos adiando o problema, o seu controle seria mais difícil e as suas consequências seriam muito piores. Existe conhecimento e experiência de controle sendo desenvolvida em alguns países europeus tanto para diminuir os riscos da entrada da BSE como para o seu controle se ela for diagnosticada antes do aparecimento de sintomas clínicos.”